domingo, 18 de julho de 2021

QUEER PALM


O Queer Palm é um prêmio patrocinado de forma independente para filmes selecionados com relevantes causas LGBTQIA+ inscritos no Festival de Cinema de Cannes. O galardão foi criado em 2010, pelo jornalista Franck Finance-Madureira e é patrocinado pelos cineastas Olivier Ducastel e Jacques Martineau. Os indicados à estatueta são inscritos na Seleção Oficial, Un Certain Regard, na Semana Internacional da Crítica, na Quinzena dos Realizadores e na seção ACID. Durante o Festival, que aconteceu na última semana, o longa La Fracture, de Catherine Corsini, levou o troféu, fazendo dela a segunda mulher, depois de Céline Sciamma a receber tal honra. Junto com o Teddy Award, de Berlim, e o Queer Lion, de Veneza, o Queer Palm é um importante prêmio internacional de cinema dedicado especificamente ao cinema LGBTQIA+.
Kaboom(EUA, 2010)


No filme de Gregg Araki, Smith (Thomas Dekker) leva uma vida tranquila no campus da universidade: ele passeia com sua melhor amiga, a insolente Stella (Haley Bennett), faz sexo com a bela London (Juno Temple), ao mesmo tempo em que deseja Thor (Chris Zylka), seu musculoso colega de quarto, um surfista pouco inteligente. Mas em uma única noite, tudo vai mudar. Sob o efeito de biscoitos alucinógenos ingeridos em uma festa, Smith tem certeza de ter assistido ao horrível assassinato de uma garota ruiva que aparece em seus sonhos. Na busca pela verdade, ele entra num mistério cada vez mais profundo, que mudará não apenas a sua vida, mas também toda a humanidade.

Como de costume na filmografia de Todd Haynes, o longa nos remete a uma diferente época, dessa vez os conservadores anos 1950, onde Carol interpretada por Cate Blanchett sempre brilhante, enfrenta o fim do casamento, sua própria homossexualidade e a necessidade de evitar um escândalo ao lutar pela guarda da filha. Quando a protagonista conhece Therese(Rooney Mara) em uma loja as duas passam a desenvolver uma relação de cumplicidade que logo se transformará numa paixão clandestina que só é concretizada depois de 1h de filme, quando em pleno processo de divórcio as duas partem em uma viagem sem destino fazendo assim um belíssimo road movie homo.



Baseado em uma história real, o longa de estreia de Lukas Dhont, traz uma característica muito particular do cinema europeu, a de estampar o sofrimento de seus personagens, sutilmente ou não, com total maestria. O filme conta a história de Lara, excepcionalmente vivida pelo ator e bailarino Victor Polster, uma adolescente transexual que está prestes a realizar o processo de resignação de sexo e começando com a hormonização. Se aproximando muito da linguagem documental para contar a história de Lara, o cineasta utiliza planos e enquadramentos que ressaltam o sofrimento da protagonista, que sonha em ser bailarina, mas os ensaios, porém, estão tirando suas forças para a cirurgia.

O promissor diretor canadense Xavier Dolan, discute orientação sexual e identidade de gênero, nesse que é um dos primeiros filmes de sua carreira. A história conta a vida de Laurence, uma mulher transexual que em seu aniversário de 30 anos revela à sua namorada, Fred, seu desejo de fazer a transição. Mesmo abalada com a revelação, ela resolve permanecer ao lado da pessoa que ama, tendo que lidar com preconceitos de familiares, amigos e colegas de trabalho. Contra tudo, elas tentarão provar que o amor pode superar todas as situações. Destaque para a grandiosa cena do baile, onde Fred brilha ao som de Fade to Gray, do Visage.

Ambientando em uma única locação, o thriller homoerótico de Alain Guiraudie, evoca Alfred Hitchcock numa trama cercada de mistério e sedução, para lidar com a marginalização dos homossexuais, em um território hostil: o da  'caça' ao ar livre. Frank, Pierre Deladochamps, que mais tarde protagonizaria Conquistar, Amar e Viver Intensamente, é um jovem que quer curtir o lago de pegação, transar e flertar. Em suas tardes de sol, ele acaba fazendo amizade com Henri(Patrick d'Assumçao), que frequenta o ambiente sem segundas intenções, porém é no sedutor desconhecido que mora o perigo. Deladochamps ganhou o César de Ator Revelação por sua interpretação, que inclui simulação de sexo explícito.

Orgulho e Esperança, de Matthew Warchus, conta uma história real que poderia ter sido representada como um drama puro, mas o cineasta optou por uma abordagem mais leve para capturar corações e mentes.  Durante a greve dos mineiros no Reino Unido de 1984-85, um aliado improvável mostrou seu apoio. Liderado por Mark Ashton (Ben Schnetzer), o Gays e Lésbicas Apoiam os Mineiros (GLAM) começou a arrecadar dinheiro para ajudar os trabalhadores sindicalizados. Do lado de fora da livraria “Gay is the Word”, Mark e seus amigos seguram baldes e entoam o nome de sua organização. Com Imelda Stauton e Dominic West.


Nos anos 1990 o tratamento para o HIV ainda era muito ineficaz e a luta de ONGs por melhorias no sistema de saúde era pulsante. O filme de Robin Campillo, 120 batimentos por minuto, mostra a militância feroz da Act Up Paris, sigla para AIDS Coalition to Unleash Power, um grupo que nasceu em 1987 e ganhou força em todo o mundo. De cara, o filme já traz uma descentralização da abordagem da militância no cinema norte-americano e nos leva para Paris, onde a luta do grupo contra a indústria farmacêutica acontecia com fervor. Líder de indicações ao Cesar, o filme aborda com delicadeza como soropositivos encaram conviver com o vírus, e neste caso clamar por seus direitos à sobrevivência.

Retrato de uma Jovem em Chamas(Portrait de la jeunne fille en feu, França, 2019)


A diretora Céline Sciamma, foi premiada em Cannes pelo roteiro de seu Retrato de uma jovem em Chamas e indicada ao Globo de Ouro de Filme Estrangeiro, por essa obra prima.  A trama se passa em 1770, quando  Marianne (Noémie Merlant) é contratada para pintar o retrato da jovem Héloïse (Adèle Haenel), para que seja avaliado por um futuro pretendente. Durante o processo as duas acabam desenvolvendo uma delicada e sexual relação que é construída por meio de muito simbolismo e uma feminilidade que se tornou a marca registrada da diretora.

2 comentários:

  1. Neste blog e no festival de Cannes vemos grandes homenagens ao cinema
    Parabéns pelo seu trabalho!

    ResponderExcluir