quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

Além dos Muros(Hors les Murs, Bélgica/Canadá/França, 2012)


Maravilhosamente elaborado, o filme de estreia do roteirista e diretor belga David Lambert vibra com uma intensidade emocional que sacode a tela até os seus alicerces. Por outro lado, é surpreendente quando um embriagado Paulo (Matila Malliarakis) encontra o simpático barman albanês Ilir (Guillaume Gouix) lhe dando uma cama para passar a noite, após encontrá-lo na sarjeta. Só que Paulo quer mais do que abrigo de Ilir, fato que sua namorada Anka (Mélissa Désormeaux-Poulin) percebe, expulsando Paulo devidamente de seu apartamento e depois para os braços, senão a vida de Ilir.

Forçados a ficar juntos, apesar da hesitação inicial de Ilir, os dois logo ficam mais próximos, ao longo do caminho regozijando-se em um mundo sensual sobre o qual nenhum dos dois sabe muito. Só o amor deles durará o teste do tempo?


O resultado é um filme em dois atos, com o primeiro alegremente brilhante à medida que a centelha da atração sexual fica cada vez mais forte, culminando em uma cena apaixonada  O enredo é um estudo belamente realista dos assuntos do coração. Claro, há dor ao longo do caminho, neste caso tanto emocional quanto, no caso de Paulo, física. 


O período de lua-de-mel feliz é interrompido sem cerimônia quando Ilir deixa a cidade para um fim de semana fora e nunca mais volta. Aos poucos, para o pânico de Paulo chega a notícia de que seu namorado está cumprindo 18 meses de prisão por posse de haxixe, o que está efetivamente rompendo o relacionamento. 


Seu eventual reencontro é tratado com uma terna ambiguidade que pressiona o coração, sem deixar convencidos de que os dois estão destinados a existir - não que Grégorie(David Salles) o proprietário de uma sex shop de meia-idade com quem Paulo se envolve pareça um companheiro muito mais adequado. O melancólico ato final é assombrado por chances perdidas.


Tecnicamente, a imagem representa um pacote sombriamente bonito para seu orçamento, e as lentes escuras e texturizadas da fotografia, de Mathieu Poirot Delpech, são um atrativo. As escolhas musicais são interessantes, com o coletivo de arte-pop canadense Valleys contribuindo com canções pesarosas, enquanto o trabalho noturno de Paulo - um piano acompanhante em uma casa de revival do cinema mudo tocando The Wind de Victor Sjostrom - compensa neste departamento também.


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