Nos minutos de abertura deste poderoso documentário, ouvimos uma voz que diz ‘nós éramos jovens, da classe trabalhadora e pobres: éramos Dykes, NÃO lésbicas’. É uma afirmação de fato, mas há uma ligeira vantagem nisso que tomamos como um aviso para não interpretar mal quem esse grupo de mulheres queer realmente era.
O filme, que mistura técnicas de animação, imagens de arquivos e depoimentos atuais, começa no início dos anos 1980, quando um grupo de mulheres montou um acampamento fora da Base Militar da RAF, em Greenham Common, no Reino Unido.
Elas estavam lá para protestar contra o fato de que o governo estava permitindo que as Forças Armadas dos EUA armazenassem mísseis nucleares. O Acampamento atraiu manchetes em todo o mundo e acabou durando 19 anos. No entanto, uma das participantes observou que houve um ponto em que a ênfase estava na exploração da sexualidade que o protesto real
O que politizou mais as lésbicas (e de fato toda a comunidade LGBTQIA+) aconteceu mais tarde naquela década, quando Margareth Thatcher introduziu a Cláusula 28 no Parlamento. Era uma lei desagradável que proibia a “promoção da homossexualidade” pelas autoridades locais. Por um lado, criou uma atmosfera de medo pela segurança de qualquer pessoa gay na rua, mas também coincidiu com o empoderamento de jovens mulheres gays que iniciaram todo um movimento de ocupação na área decadente de Brixton.
Elas se identificavam como 'sapatões ferozes' enquanto tentavam obter as mesmas instalações e bares que os gays tinham assumido como seu direito até então. Elas vieram do mundo do punk e das escolas de arte e a última coisa que elas queriam fazer era recriar os espaços LGBTQIA+ discretos e semifechados como o mais antigo e único bar lésbico de The Gateway London.
Um grupo queria criar seu próprio espaço onde pudessem não apenas celebrar sua sexualidade, mas também experimentar e explorar fetiches S&M. O resultado foi o “Chain Reaction”, um evento semanal realizado no bar gay Market Tavern, geralmente apenas para mulheres, com suas janelas escurecidas sediando lutas de lama, banhos de óleo e até atos sexuais ao vivo.
Enquanto as participantes olham para trás agora revivendo suas memórias, seus rostos se iluminam mostrando nostalgia. No entanto, seu sucesso na época também trouxe oposição e logo o bar foi atacado por lésbicas que se identificaram como feministas radicais que condenavam toda a atividade sexual. Elas se autodenominavam Mulheres Contra a Violência Contra as Mulheres (WAVAW) e era óbvio que elas nunca seriam capazes de admitir que as ‘rebel dykes’’ tinham o direito de se divertir dessa maneira.
Parabéns aos cineastas Harri Shanahan, Sian A. Williams e Siobhan Fahey por fazerem este registro fascinante. Nossa história queer, e sua complexidade política, precisa ser contada de todos os ângulos, para que possamos lembrar da jornada que outros, e no caso outras, fizeram em nosso nome.
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