No dia Internacional da Mulher, nada mais natural que uma página sobre cinema preste sua homenagem celebrando o trabalho de diretoras na sétima arte. Embora hoje esse movimento feminino venha ganhando cada vez mais força, em premiações, festivais e no cinema mainstream, desde que existem filmes, existem mulheres que os fazem. Quando os irmãos Lumière estavam chocando o público com sua representação de um trem em movimento, Alice Guy-Blaché foi pioneira em suas próprias técnicas na nova forma de arte. Quando D. W. Griffith foi precursor em avanços na arte construindo seu próprio estúdio para fazer seu trabalho, Lois Weber estava fazendo exatamente o mesmo. Quando Hollywood estava em plena Era de Ouro, Dorothy Arzner, Dorothy Davenport, Tressie Souders e muitas outras mulheres estavam lá, fazendo seus próprios filmes. As preciosidades existem e para cultuar o trabalho de criadoras que deixam sua marca na cultura cinematográfica o CINEMATOGRAFIA QUEER fez uma lista, claro que de acordo com sua temática, e, com um foco maior em obras recentes. Que essa seleção capture a ampla variedade e diversidade do trabalho que as mulheres captam por trás das câmeras e que sirva como lembrete de que as diretoras colocaram sua marca em cada década, gênero e tipo de filme, e seguirão fazendo exatamente isso.
Veronica (Haley Lu Richardson), de 17 anos, engravida de seu namorado, apesar de ser uma usuária cuidadosa de preservativo. Ela não pode fazer um aborto no Missouri sem o consentimento dos pais, e eles ultra-religiosos nunca permitirão, então ela convence sua distante melhor amiga de infância Bailey(Barbie Ferreria), a levá-la ao Novo México para que possa fazer o procedimento. Desgrávida, da diretora Rachel Lee Goldenberg, é um híbrido de gêneros cinematográficos que se reconciliam no meio do caminho, uma vez que a história ganha velocidade e força emocional. O longa é um road movie com um novo personagem excêntrico esperando em cada parada.
Eternos é o primeiro blockbuster de Chloé Zhao, ganhadora do Oscar, de Melhor Diretora, por Nomadland(2020). Ela é sem dúvida a cineasta mais empolgante a ter acesso ao MCU até hoje. Certos elementos estão profundamente ancorados no DNA do MCU e não permitem que o filme o transforme completamente do avesso, mas Zhao captura algo bonito, tocante e único na tela que não treme de admiração diante da mitologia da Marvel. Em vez disso, ela traz o filme de super-herói de volta às suas raízes e mergulha na essência dos personagens que povoam o épico.
O doce filme de estreia da dramaturga Jessica Swale, Onde Fica o Paraíso combina uma narrativa deliciosa que equilibra facilmente eventos sísmicos de amadurecimento com uma história de amor comovente entre duas mulheres. Estamos no auge da Segunda Guerra Mundial, a escritora caminha confiante por sua pequena cidade. Desagradada por muitos, ela os despreza em igual medida. A jovem Alice (Gemma Arterton) vive sua vida privada e independente, elaborando e pesquisando seu próximo livro, até que uma surpresa aparece em sua porta.
A diretora Cristiane Oliveira criou algo ao mesmo tempo sutil e expansivo em A Primeira Morte de Joana. É verão de 2007, em uma praia no sul do país. Joana (Letícia Kacperski), de 13 anos, sabe que os adultos nem sempre têm as respostas para suas perguntas. Quando sua tia-avó morre e familiares e amigos começam a compartilhar suas memórias, Joana começa a pensar nela de uma nova maneira e se perguntar porque sua parente nunca teve um namorado? Sua investigação, ao lado da amiga Carolina (Isabela Bressane), que sofre bullying na escola por ser lésbica, a levará a caminhos inesperados.
Entramos no filme, de Katie Found, através da reclusão de uma floresta coberta de vegetação, lar de Claudia(Markella Kavenagh), de dezesseis anos, e de sua falecida mãe. Sem experiência além deste espaço idílico, Claudia lamenta a ausência de seu único ente, junto do cachorro. Mais implicitamente, ela avalia a desestabilização incorrida pela morte de sua mãe. O que há para a vida fora deste reino protegido da infância? Voltando para dentro com tristeza, ela inadvertidamente aguarda a possibilidade de uma nova chegada, que assume a forma de Grace (Maiah Stewardson), uma jovem de espírito livre que se arrisca de forma surrealista no mundo de Claudia, só por curiosidade.
O longa de estreia da diretora belga Zoé Wittock, oferece uma linda e não convencional história de amor entre uma jovem e um brinquedo de parque de diversões. A atriz francesa Noémie Merlant, do glorioso Retrato de uma jovem em chamas(2019), interpreta a tímida Jeanne. A jovem trabalha em um parque de diversões de uma pequena cidade na França. Quando o “Move It”, uma grande atração giratória chega ao parque, Jeanne se vê completamente envolvida e o batiza de Jumbo, com quem começa a se comunicar por meio de movimentos circulares, secreções escuras e as lâmpadas coloridas que o adornam.
Protagonizado por Natasha Lyonne, a sátira à cura gay de Jamie Babbit, é colorida, divertida e bebe do universo de John Waters. Os sinais de que Megan é lésbica parecem claros. Ela come tofu, ouve canções de Melissa Etheridge e tem fronhas decoradas com flores ginecológicas de Georgia O'Keeffe. Outra pista: quando beija o namorado, ela fantasia com as líderes de torcida. Seus pais prontamente a mandam para uma instituição chamada True Directions, onde conhece o amor através da personagem de Clea Duvall e vive momentos hilários junto do ‘reorientador’ interpretado por RuPaul Charles.
Rafiki é um romance, entre duas jovens, ambientado em um lugar onde tais histórias de amor, na vida real e na tela, são proibidas por lei. É o primeiro filme queniano a ser exibido em Cannes e, mais importante, o primeiro filme com uma mensagem positiva sobre a homossexualidade no Quênia, onde o filme foi banido em seu lançamento. A diretora, Wanuri Kahiu, cria uma ode lírica para encontrar uma alma gêmea em meio a uma maioria indiferente, usando o conto de Monica Arac de Nyeko, Jambula Tree, como sua base.
Desconstruindo o gênero do faroeste, a ganhadora do Oscar, pelo roteiro de O Piano(1993), Jane Campion conta a história dos irmãos Phil (Benedict Cumberbatch) e George (Jesse Plemons), que são ricos proprietários da maior fazenda de Montana. Enquanto o primeiro é brilhante, mas cruel, o segundo é a gentileza em pessoa. Quando George secretamente se casa com a viúva local Rose (Kirsten Dunst), o invejoso Phil faz tudo para atrapalhá-los, até porque a homossexualidade aparente do recém chegado Pete(Kodi Smit-McPhee), acaba lhe impactando. O longa é recordista de indicações e uma das grandes apostas para o Oscar 2022.
Bom Trabalho, relato brilhante da cineasta Claire Denis, sobre a existência dos legionários franceses na África é um filme lindo, compulsivamente poético e que transcreve com inesperada simpatia a severidade da vida de um soldado. A fotografia de Agnès Godard, compõe alguns momentos realmente bonitos da paisagem africana, com a luz estranha e o terreno implacável contra o qual esses corpos e almas masculinas são testados até a destruição.
Em torno de sua obra, a aclamada Céline Sciamma imprime sua identidade, sempre com um olhar muito feminino e uma poderosa sensibilidade. Seu mais recente longa, Pequena Mamãe, não foge dessas características e marca a volta da diretora ao universo infantil muito bem explorado em Tomboy(2011). Nelly (Joséphine Sanz) tem oito anos e sua avó materna acaba de falecer. Com sua mãe, Marion (Nina Meurisse), e seu pai (Stéphane Varupenne), ela se despede de todos no funeral, para depois se hospedar na casa da avó, onde Marion cresceu. Na casa, uma espécie de recanto de conto de fadas próximo a uma floresta, a presença do pai é gentil. Há cenas lindas em que Nelly o ajuda a se barbear ou pede que ele lhe conte um segredo. Mas, principalmente, o longa é sobre a conexão de Nelly e Marion
Ganhador da Palma de Ouro, no Festival de Cannes, em 2021, Titane da diretora Julia Ducournau, é um filme atrevidamente ousado e deliciosamente visceral. Após sofrer um acidente na infância, Alexia(Agathe Rousselle) precisou colocar uma placa de titânio e carrega uma grande cicatriz na cabeça. Ela é uma stripper feroz e uma assassina compulsivamente delirante. Crescida, Alexia com a cabeça ainda raspada pela metade, ganha a vida se despindo em feiras de automóveis. A reviravolta do filme acontece quando Vincent (Vincent Lindon), um bombeiro musculoso, pensa encontrar o seu filho há muito tempo desaparecido Adrien.
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