Círculos e imagens duplas são os motivos visuais que dominam O Amante Duplo, começando com uma visão interna do exame ginecológico da heroína Chloe (Marine Vacth), para mais tarde apresentar um encontro com seu belo psiquiatra loiro Paul (Jeremie Renier). Depois de algumas consultas, Chloe se declara curada de dores de estômago psicossomáticas, e Paul a dispensa como paciente porque se apaixonou.
Os dois vão morar juntos, e Chloe vasculha as coisas de Paul para descobrir que ele cresceu com outro sobrenome. Ele nega, mas ela descobre um psiquiatra com esse nome e marca uma consulta, chamando-se Eva. O novo médico, Louis, se parece exatamente com Paul e revela que ele é seu irmão gêmeo distante e mais bem-sucedido. Em sua terceira consulta, ele a seduz.
Chloe/Eva começa a levar uma vida dupla, com Paul gentil e bem-humorado em casa, e Louis abusivo e louco por sexo em um quarto palaciano com parede espelhada. Paul odeia gatos e fica chateado quando o enorme animal de estimação cinza de Chloe, lhes olha quando eles fazem amor. Já Louis, possui um felino de olhar diabólico.
A adaptação de François Ozon para o romance de Joyce Carole Oates, Lives Of The Twins, bebe na fonte de vários thrillers, como os de Brian de Palma, Alfred Hitchcock, e ainda flerta com um surrealismo que remete a Luis Buñuel. Ozon o torna cada vez mais selvagem e sensual, com sequências de sonhos, alucinações e a vida dupla se misturando.
À medida que Chloé embarca nos relacionamentos com os gêmeos, seu estado mental começa a escorregar - se, de fato, já não o fez - com grande parte da tensão do filme impulsionada tanto pela incerteza que cria ver tudo de sua perspectiva distorcida e não confiável quanto pela dificuldade de saber qual gêmeo é qual.
O diretor se diverte com a chance de se multiplicar com espelhos, também criando simetrias superficiais entre as vidas de Paul e Louis, enquanto o tempo todo sugere que você só precisa cavar um pouco mais para perceber quem é o mais perigoso dos dois.
Segredos, sexo e mentiras se multiplicam por todos os lados, e o filme se torna um sonho febril: uma profusão de imagens sexuais e trabalhos de câmera originais, dão ao filme sua surpreendente coerência não é apenas a fluidez da técnica de Ozon, mas também seu domínio do tom.
Se há mais superfície do que substância e o final é sinalizado, é uma superfície cheia de complexidade atrevida e um sinal de admirável elegância. Ozon continua a ser um diretor surpreendente, com uma obra tão rica quanto diversificada.
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