segunda-feira, 12 de setembro de 2022

A Fratura(La Fracture, França, 2021)


O casal Julie(Marina Foïs) e Raphaëlle(Valeria Bruni Tedeschi) está à beira de se separar quando a última escorrega e bate o cotovelo em A Fratura, de Catherine Corsini, ganhador do Queer Palm, no Festival de Cannes, em 2021. O filme traça um retrato da França em algumas horas na sala de emergência de um hospital público sobrecarregado.

A boa notícia: neste hospital em particular, os tratamentos são gratuitos, cobertos pelo próprio governo contra o qual os coletes amarelos estão protestando. O ruim: os protestos dos “coletes amarelos”, que fervilharam, de novembro de 2018, até a pandemia forçar Paris a fechar, chegam a estourar no mesmo dia em que Raf é levada às pressas para o pronto-socorro.

Ouvindo Julie e Raf discutirem, é fácil ver que o relacionamento acabou. Julie anunciou planos de se mudar, e o único recurso de Raphaelle é intensificar a discussão de longa data entre elas: gritar e implorar por outra chance enquanto se humilha o tempo todo.

Mas há algo genuinamente tocante na maneira como Julie cuida de sua parceira, embora ela preferisse nunca mais vê-la. Isso é muito para administrar enquanto Paris derrete ao redor. Corsini faz um trabalho impressionante ao recriar a tensão que existia nas ruas enquanto os manifestantes desafiavam as linhas da polícia.


Entre os manifestantes, um motorista de caminhão chamado Yann (Pio Marmaï) provoca as autoridades e depois leva uma carga de estilhaços na perna quando uma lata de gás lacrimogêneo explode. Atirado para a mesma sala de espera do hospital que Raf e mais dezenas de outros pacientes, ele ainda está agitado e sem vontade de sossegar, voltando sua frustração contra quem quiser ouvir.

O palco está montado para uma tensa comédia social onde Raf, logo acompanhada por Julie, e Yann tentam navegar no caótico sistema do hospital para que possam ser examinados e liberados, com Yann com medo de perder o emprego se ele não concluir várias entregas no dia seguinte. Enquanto isso, os protestos começam a se aproximar deles, com brigas entre a tropa de choque e coletes amarelos nas ruas ao redor, o gás lacrimogêneo eventualmente penetrando na sala de espera para adicionar ainda mais pandemônio.

Os hospitais servem como um desses raros espaços onde se pode encontrar pessoas de praticamente qualquer origem, e A Fratura trata estrategicamente o pronto-socorro como um microcosmo da sociedade francesa onde cidadãos díspares são forçados a se misturar ou colidir, conforme o caso. 


Com um olho para o absurdo, Corsini, e as coroteiristas Agnès Feuvre e Laurette Polmanss, escrevem cada cena com tanta autenticidade, que mal percebemos o quão estrategicamente algumas foram introduzidas para configurar momentos dramáticos mais tarde. O crédito também é devido ao designer de produção Toma Baqueni, por criar um conjunto que parece quase apocalíptico.


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