A boa notícia: neste hospital em particular, os tratamentos são gratuitos, cobertos pelo próprio governo contra o qual os coletes amarelos estão protestando. O ruim: os protestos dos “coletes amarelos”, que fervilharam, de novembro de 2018, até a pandemia forçar Paris a fechar, chegam a estourar no mesmo dia em que Raf é levada às pressas para o pronto-socorro.
Ouvindo Julie e Raf discutirem, é fácil ver que o relacionamento acabou. Julie anunciou planos de se mudar, e o único recurso de Raphaelle é intensificar a discussão de longa data entre elas: gritar e implorar por outra chance enquanto se humilha o tempo todo.
Mas há algo genuinamente tocante na maneira como Julie cuida de sua parceira, embora ela preferisse nunca mais vê-la. Isso é muito para administrar enquanto Paris derrete ao redor. Corsini faz um trabalho impressionante ao recriar a tensão que existia nas ruas enquanto os manifestantes desafiavam as linhas da polícia.
O palco está montado para uma tensa comédia social onde Raf, logo acompanhada por Julie, e Yann tentam navegar no caótico sistema do hospital para que possam ser examinados e liberados, com Yann com medo de perder o emprego se ele não concluir várias entregas no dia seguinte. Enquanto isso, os protestos começam a se aproximar deles, com brigas entre a tropa de choque e coletes amarelos nas ruas ao redor, o gás lacrimogêneo eventualmente penetrando na sala de espera para adicionar ainda mais pandemônio.
Os hospitais servem como um desses raros espaços onde se pode encontrar pessoas de praticamente qualquer origem, e A Fratura trata estrategicamente o pronto-socorro como um microcosmo da sociedade francesa onde cidadãos díspares são forçados a se misturar ou colidir, conforme o caso.
Com um olho para o absurdo, Corsini, e as coroteiristas Agnès Feuvre e Laurette Polmanss, escrevem cada cena com tanta autenticidade, que mal percebemos o quão estrategicamente algumas foram introduzidas para configurar momentos dramáticos mais tarde. O crédito também é devido ao designer de produção Toma Baqueni, por criar um conjunto que parece quase apocalíptico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário