quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Iglú(Chile, 2013)


Alguns profissionais do cinema tem a ousadia de dirigir, escrever e estrelar um filme. Implica uma grande tarefa, pois exige total clareza sobre a história. Assumir este triplo trabalho revela uma imensa paixão pelo projeto. O desafio é assumido pelo ator chileno Diego Ruiz em Iglú, seu longa de estreia.

Daniel é um ex-viciado que aos poucos tenta recomeçar sua vida: ele vai morar em uma casa nova e consegue um emprego como designer de storyboard em uma agência publicitária, onde conhece Camila (Camila Hirane ). Na tentativa de encontrar um rumo, ressurge a lembrança da relação especial que teve com Paula (Alessandra Guerzoni), terapeuta que procurou depois de deixar Marco (Alejandro Goic), professor de sua universidade.


O filme é composto por duas histórias que correm paralelas e mostram parte do passado e do presente de um protagonista multifacetado. Ambas ocupam espaço semelhante na trama e há momentos em que não sucedem com plena evidência. Estamos diante de uma história intimista, com poucos personagens e ambientes, que se desenrola com incrível naturalidade.

Os personagens são desenhados com traços afetuosos e os tempos são tratados com maestria, deixando a história respirar. Este é um dos elementos com que se destaca na narrativa  de filmes protagonizados por homens desajustados Dessa forma, a grandeza do filme não está tanto nas surpresas da história ou na forma como ela é construída, mas sim na construção de seus personagens.



Há um olhar atraente para questões tão relevantes quanto o desamparo, a sexualidade e a família. O filme tem o cuidado de se encarregar disso sem barulho ou saídas fáceis, já que trata sobre amadurecimento. No entanto, apesar de muito sabiamente conseguir tocar em uma ampla variedade de temas, o que está por trás da história é uma terrível sensação de vazio.

Um vazio existencial que atravessa a tela. Nesse sentido, contém uma ideia precisa e elaborada sobre a dor das relações humanas, para ser, em última análise, uma obra sobre curar feridas e seguir em frente novamente.


O filme também surpreende pela trilha sonora e fotografia elaboradas. É uma narrativa que esbanja urgência e sentimento, com uma proposta sonora e visual que está em sintonia com isso. Diego Ruiz apresenta uma atuação excepcional;


O diretor com poucos recursos e poucos personagens constrói um filme avassalador, sincero e necessário; ele toca teclas vitais com delicadeza e mão hábil. Sem drama exagerado ou potencial desperdiçado. Com emoções intensas e um desfecho redondo.

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