quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Cecil Bem Demente(Cecil B. Demented, EUA, 2000)

O mestre underground John Waters liga o foda-se para indústria cinematográfica em sua comédia ácida Cecil Bem Demente. No filme, uma gangue de cineastas de guerrilha, liderados por  Mr. DeMented (Stephen Dorff) sequestram a estrela de cinema Honey Whitlock (Melanie Griffith) e a forçam a estrelar um filme sem orçamento.

Cecil Bem Demente conta a história de Honey, uma atriz que, durante a estreia de um de seus filmes, é sequestrada pelos chamados terroristas do cinema, cineastas guerrilheiros que a obrigam a estrelar uma obra que busca rebelião contra o atual sistema. Munidos de equipamentos de audiovisual eles se encarregarão de criar o caos na segunda Hollywood dos Estados Unidos, Baltimore.


O filme será dirigido por Cecil B. Demented, um homem peculiar que, como toda sua equipe de sexualmente explosivos, são punks no sentido mais puro da palavra.  Esse grupo de salvadores encontra apoio entre os fãs de filmes de ação e até mesmo entre aqueles que gostam de cinema pornográfico.


Evocando o início da carreira de Waters, todos eles vivem juntos com Cecil em um bloco de Baltimore, decorado com mobília kitsch de filmes esfarrapados e outros objetos cênicos. E eles são todos fãs de filmes de arte, cada um marcado com uma tatuagem proclamando uma afinidade por um diretor.

Raven (Maggie Gyllenhaal), a alegre maquiadora satanista tem 'Kenneth Anger' gravado em sua pele.. A estrela pornô Cherish (Alicia Witt) é adornada com 'Andy Warhol'; Lewis (Larry Gilliard Jr.), o diretor de arte obcecado por armas de grampo, ostenta 'David Lynch', escrito com uma letra em cada dedo, e ainda há Fassbinder e Almodóvar.



As piadas para cinéfilos voam rápido e furiosamente, e Waters as trabalha tão amplamente que quase todas  funcionam. Um dos personagens do filme dentro do filme é o dono de um cinema de arte que está muito empolgado com sua retrospectiva de um famoso diretor italiano, só para aceitar a ideia de que seu teatro está à beira da falência e que ninguém mais quer assistir Pasolini.

John Waters é descarado na forma como satiriza não apenas Hollywood, mas também a hipocrisia da comunidade de filmes 'independentes'. Dorff, vagando pelo set de seu filme em uma camisa de força modificada, suas mangas e alças penduradas, é um líder de culto encantador. Ele tem o brilho louco  em seus olhos. 


Cecil Bem Demente é sério em seu ridículo e exagero, não parando em nenhum momento em suas críticas à indústria cinematográfica, que como na maioria das obras de Waters, mostra uma obsessão muito intensa pela cultura pop.


O caos é acompanhado por muita música, neste caso, o metal segue cada cena de ação, o rap dá voz a todas elas: uma trilha sonora, que abre com Moby, agradável de ouvir e que consegue exaltar o estranho surrealismo punk que o filme oferece. O figurino e a maquiagem são uma atração a parte, exóticos e extravagantes, mas continuam nos dizendo que estamos numa guerra.


Cecil Bem Demente não é exceção, e isso deixa extremamente claro as preocupações de John Waters, que não odeia a cultura pop, mas ousa questionar o valor de tudo o que o grande público costuma consumir.



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