Glamourizar um assassino pode ser algo problemático. Mas não é o que Ryan Murphy e sua grandiosa equipe(que inclui os nomes de Jennifer Lynch e Gregg Araki na direção) fazem, em Dahmer: Um Canibal Americano. A nova parceria do aclamado produtor de Pose, com a Netflix, é um exame profundo de uma mente doente, perversa e sádica.
Não é uma história fácil de assistir. É macabra! Começa em Milwaukee, em 1991: Jeffrey Dahmer(Evan Peters) atrai um homem para seu apartamento. Cheira a podridão, ele tranca a porta, brinca com a vítima e quer matá-lo. Mas o homem consegue escapar, chama a polícia e volta. Dahmer é preso.
Jeffrey Dahmer entendeu que ser branco e homem poderia lhe permitir imenso privilégio desde jovem. Quando ele também descobre que simplesmente dizer “coisas gays” ou “nós, homossexuais” faz os policiais recuarem, ele tem uma combinação de dois golpes para manter os olhares indiscretos longe.
Junto de Ryan Murphy está Ian Brennan. Ambos também trabalharam em Ratched(2020), que era caracterizada por um verde, na fotografia. Aqui aparece um amarelo louco, febril, doente, hepático e intenso como marca estética.
Dahmer: Um Canibal Americano funciona nos mostrando como os estágios do protagonista evoluem. Isso é feito por meio de saltos temporais, que às vezes são separados por uma década. E também mostra como ele espera ser pego várias vezes. Apenas para descobrir que pode se safar.O que segue é um olhar em como Jeffrey Dahmer aos poucos se tornou e aprendeu a ser quem ele era, como ele procurou, seduziu e assassinou, no mínimo 15 vítimas, como era sua complicada relação com o álcool e como ele foi julgado, o que isso significou para as famílias de suas vítimas e como ele terminou.
Evan Peters, ganhador do Emmy, por Mare of Easttown(2021), já ofereceu performances insanas junto de Ryan Murphy em temporadas de American Horror Story. Mas é diferente aqui, ele encarna o brilho louco dos olhos do psicopata, ele assusta, ele intimida, ele irrita, ele canibaliza.
Além do pai Lionel(Richard Jenkins) e da avó Catherine(Michael Learned), outro papel fundamental da série é o da vizinha Glenda Cleveland(Niecy Nash) que fez inúmeras tentativas de chamar a atenção da polícia para o lugar onde o massacre estava acontecendo, no entanto nunca com sucesso, por se tratar de um bairro habitado por negros. O elenco ainda tem Molly Ringwald, como a madrasta, e Penelope Ann Miller, como a mãe.
O banquete macabro está servido ao som da trilha original de Nick Cave e Warren Ellis, além de KC and the Sunshine Band, Sade, The Jesus and Mary Chain, Enigma, Crystal Waters, Suzy Quatro, Technotronic, Seduction, Lisa Stanfield e outros.E como de costume na obra de Ryan Murphy, ele não ignora os fantasmas da época, no caso o HIV, que se propagava pelos EUA, enquanto Dahmer cometia seus crimes, é abordado em algumas ocasiões. Na mais impressionante quando o próprio assassino aparece representando a doença e o medo da comunidade LGBTQIA+.
Dahmer: Um Canibal Americano é uma série incrivelmente bem-sucedida que não romantiza o perpetrador, mas também se concentra em suas vítimas e ao fazer isso, ela consegue algo que falta em muitas adaptações cinematográficas das façanhas de serial killers, ela cria um pouco de justiça, porque não se deve lembrar do assassino, mas sim de suas vítimas.
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