sábado, 17 de setembro de 2022

Cadáver Exquisito(Argentina/Espanha/Brasil, 2021)


Cadáver Exquisito mostra como enquanto sua namorada está no hospital em coma, depois de encontrá-la boiando na banheira, sem sinais vitais, Clara embarca em um caminho de transformação física e psicológica, com o objetivo de possuí-la de alguma forma. 


Na cena de abertura vemos Blanca (Blanca Nieves Villalba), uma jovem que rapidamente identificamos por suas características físicas, ela é albina. As expressões visuais que podemos notar claramente nesta sequência introdutória abrangerão todo o filme.


A diretora, Lucía Vassallo, estabelece o tom estilístico. É um filme de caráter sórdido, conceitual e misterioso, articulado esses componentes em uma crescente constante incontornável. O foco será colocado em Clara (Sofía Gala), uma jovem que fica obcecada por Blanca até perder o controle.


O filme nos conta através de uma estrutura fragmentada, em saltos no tempo, uma relação sentimental conturbada. O problema é que Clara se deixa cativar completamente pela sensibilidade de Blanca: uma notável cientista que investiga o comportamento dos hormônios e sua possível aplicação no tratamento de distúrbios como o autismo. A pesquisa concebe a ligação pelo lado da paixão erótica, impulsionada por um desejo enraizado no sentimento e na monogamia.


Por isso, Clara descobrirá supostas infidelidades. Na atualidade, Blanca é internada no hospital em estado vegetativo, após um enigmático episódio na banheira. No passado, os altos e baixos do relacionamento são explicados. E descobrimos que Blanca pretendia fazer testes em seu próprio corpo com a aplicação do tratamento que estava investigando.

A verdade é que, enquanto ela ainda está em coma, a história está totalmente posicionada na visão deslocada de Clara da realidade; que, ao descobrir aqueles amores ocultos que sua amada escondia, se perderá em seu próprio labirinto. O filme de Vassallo é uma história de fantasmas, de fantasmas de identidade que assombram e consomem uma mulher solitária e compulsiva incapaz de aceitar uma perda potencial não resolvida, injustificada ou explicada.


O sinistro se apresenta, do lado estético e dramático, nestes aspectos: estranhamento no cotidiano e vínculo familiar. O obscuro aparece na brancura e a suposta pureza ou fragilidade emocional, na verdade, revelando e desencadeando o contrário.


O branco também aparece como uma substância virgem, quase transparente. E é justamente essa transparência, que o diretor de fotografia, Fernando Marticorena, também reforça, levando Blanca à dissolução de sua identidade. 


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