Seré Breve al Momento de Morir, longa de estreia do mexicano Juan Briseño, é uma obra que vibra com a intensidade de um coração exposto. Ambientado no universo competitivo de uma companhia de dança, o filme acompanha Sebastián (Martín Saracho), um jovem bailarino que, ao ser aceito em uma prestigiada academia, deixa sua família para trás e mergulha em um mundo de sonhos e tensões. É lá que ele conhece Arsenio (Joan Kuri), um dançarino carismático com quem inicia um romance ardente. Briseño, com sua formação em balé clássico, traz uma autenticidade visceral às cenas de dança, transformando cada movimento em uma metáfora para o desejo e a luta interna dos personagens.
A narrativa, no entanto, toma um rumo sombrio com a chegada de Mikael (Mikael Lacko), o novo coreógrafo, que impõe uma competição brutal entre os bailarinos. Aqui, o filme se aprofunda em temas como rivalidade, inveja e desumanização, expondo as camadas mais cruas das relações humanas. Quando Sebastián é nomeado primeiro bailarino, a inveja de Arsenio o consome, levando-o a tramar, junto com outros membros da companhia, um plano sádico que culmina em uma tragédia avassaladora. Briseño não poupa o espectador: a violência emocional e o bullying são retratados com uma crueza que incomoda, mas também provoca reflexão sobre até onde a busca por validação pode nos levar.
Visualmente, o filme é um primor. A direção de fotografia de Ingmar Montes e Consuelo Saldaña utiliza closes intensos nos rostos dos protagonistas, capturando cada nuance de emoção — dos sorrisos tímidos de Sebastián e Arsenio à frieza calculada de Mikael —, enquanto o foco nos corpos dançando exalta a potência e a fragilidade de cada movimento, como se a câmera dançasse junto, hipnotizada. A trilha sonora de Carlo Ayhllón, com suas notas que oscilam entre a delicadeza e a tensão, complementa perfeitamente a narrativa, criando uma atmosfera que é ao mesmo tempo etérea e sufocante. É impossível não se sentir imerso nesse universo onde a beleza da dança contrasta com a brutalidade das relações interpessoais.
Apesar de seus méritos, Seré Breve al Momento de Morir não escapa de alguns tropeços. A transição do romance para o conflito central parece abrupta em certos momentos, e o desenvolvimento de personagens secundários, como os outros bailarinos da companhia, deixa a desejar — eles acabam servindo mais como ferramentas narrativas do que como figuras tridimensionais. Além disso, a intensidade da tragédia final, embora impactante, pode parecer exagerada para alguns, beirando o melodramático, mas afinal é um filme mexicano. Ainda assim, a força do longa está na sua coragem de abordar temas difíceis, como o acoso laboral e a violência emocional em relações queer, sem romantizar ou suavizar as dores que acompanham essas experiências.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluir