quinta-feira, 13 de novembro de 2025

#300Cartas (Argentina/Reino Unido/Alemanha, 2025)

 

Em “300 Cartas”, o cineasta argentino Lucas Santa Ana propõe um mergulho íntimo nas ruínas do amor contemporâneo. A história acompanha Jero (Cristian Mariani) e Tom (Gastón Frías), um casal admirado por todos, até que, no aniversário de um ano de relacionamento, Jero retorna para casa e encontra apenas uma caixa com trezentas cartas. Tom desapareceu, sem explicações, sem despedidas, apenas deixando atrás de si um rastro de papel e silêncio. O gesto do ghosting, tão cotidiano e cruel, é aqui elevado à dimensão do trauma, da violência emocional e da autodescoberta.

À medida que lê as cartas, Jero revisita os escombros de um amor idealizado. Cada texto revela não apenas um Tom diferente, mas também as dinâmicas de controle e desigualdade que sempre estiveram ali, escondidas sob o verniz da paixão. Santa Ana transforma o romance em uma investigação sobre o poder, o abuso psicológico e a fragilidade afetiva, mostrando como a romantização pode mascarar relações profundamente tóxicas. O chamado “projeto Jero”, que dá título a uma das seções do filme, torna-se símbolo dessa obsessão pelo outro  e da maneira como o desejo, às vezes, se confunde com a necessidade de ser reconhecido.


A fotografia aposta em enquadramentos claustrofóbicos e numa paleta fria, quase asséptica, refletindo a solidão de Jero em meio a uma Buenos Aires contemporânea, onde a comunicação parece abundante, mas o afeto é rarefeito. A montagem, assinada pelo próprio Santa Ana, alterna presente e passado com fluidez, utilizando as cartas como gatilhos de memória e confissão. O resultado é um fluxo de lembranças que se sobrepõem, revelando um amor construído mais por idealizações do que por presença.


O elenco conduz a narrativa com sensibilidade. Cristian Mariani entrega um desempenho contido, em que o desespero se traduz em gestos mínimos, enquanto Gastón Frías encarna o mistério de Tom com carisma e desconforto na medida certa. Ao redor deles, Bruno Giganti e Nancy Meijide completam o elenco com presenças discretas, mas fundamentais para articular os ecos da perda e da reconstrução.

“300 Cartas” é uma reflexão sobre o luto e o autoconhecimento. Santa Ana utiliza o desaparecimento de Tom como metáfora da perda de si dentro de uma relação abusiva. Ao enfrentar o vazio, Jero precisa não apenas entender o outro, mas reencontrar-se, e nessa travessia o filme propõe uma cura lenta e dolorosa. O que começa como a leitura das cartas de um amor que partiu transforma-se em um processo de libertação, da idealização, da culpa, do medo de ficar só.


O longa também dialoga sutilmente com questões sociais. O filme denuncia as assimetrias afetivas que atravessam casais queer, as violências sutis que nem sempre deixam marcas visíveis e o impacto psicológico do abandono em uma era de vínculos descartáveis. Ao mesmo tempo, evita qualquer tom panfletário, preferindo o caminho da intimidade e da observação.


quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Queens of the Dead (EUA, 2025)


No longa-metragem de estreia como diretora, Tina Romero (filha do lendário George A. Romero) assina uma comédia-terror que se desenrola num galpão no Brooklyn, durante uma megafesta em que drag queens, club kids e “frenemies” são forçados a unir talentos para sobreviver a um apocalipse zumbi. O enredo combina o legado dos mortos-vivos herdado do pai com uma lente queer contemporânea, empurrando o gênero para fora dos espaços tradicionais da sobrevivência e do horror genérico.

Romero transforma os mortos-vivos em metáfora direta para a cultura queer: zumbis banhados de glitter e figurinos fabulosos, arrastados pelo vício em apps e redes sociais. A festa se torna arca de salvação, e as drag queens reaproveitam cada habilidade, da maquiagem e unhas afiadas às perucas, saltos altos e coreografias, convertendo tudo em arma. O resultado é um espetáculo de “glam-gore”, onde lente metálica, sangue e batom se misturam para afirmar que a diferença encontra força no coletivo e no exagero.

O filme não apenas representa personagens LGBTQIA+ num terror, mas apresenta um elenco majoritariamente queer que cobre boa parte da sigla, com nomes como Cheyenne Jackson, Margaret Cho, Dominique Jackson (“Pose”), Katy O’Brian e Nina West (“Drag Race”), cada um explorando seus talentos em papéis de destaque. Essa presença visível transforma “Queens of the Dead” em um rito de passagem para o horror queer mainstream, onde sobreviver não é só escapar dos mortos-vivos, mas afirmar identidade, solidariedade e família escolhida.

Tecnicamente, a obra honra algumas regras do panteão Romero, zumbis cambaleando, bocas abertas, mordidas contagiosas , enquanto subverte outras, como os símbolos religiosos, com ironia. A festa que vira carnificina, os figurinos que brilham sob luz de néon e o cenário de clube underground transformado em campo de resistência reafirmam que o horror queer também é o palco da liberdade interrompida.

“Queens of the Dead” entrega o que promete: diversão visceral, inclusão e crítica submersa. A sátira é ácida, as analogias bem construídas, e o filme brilha sob a luz neon da fotografia de Shannon Madden. A trilha, com músicas pop de Kesha a Bizarre Inc, mantém o ritmo frenético, e, claro, se tem drag e apocalipse, há um lipsync pela vida.

“Queens of the Dead” se ergue como uma zumbi glamourosa: um filme que não abre mão do espetáculo e não se esquiva do riso, do caos e da reivindicação. Em um mundo onde a comunidade queer enfrenta perigos reais e invisíveis, Tina Romero cria uma festa morta-viva onde sobreviver é dançar sob o sangue, gritar sob o glitter e amar sob a luz dos corpos que insistem em brilhar.


terça-feira, 11 de novembro de 2025

LAR (Brasil, 2025)

 

Em “LAR”, Leandro Wenceslau transforma o gesto de filmar em um exercício de acolhimento. O documentário parte do cotidiano de três famílias LGBTQIA+ vistas pelo olhar de seus filhos, mas rapidamente transcende a estrutura observacional para se tornar uma investigação íntima sobre o que significa habitar um espaço de afeto, mesmo em meio ao preconceito e à burocracia do reconhecimento legal.

A escolha de filmar a partir da perspectiva das crianças nasceu de uma inquietação pessoal que, com o tempo, se tornou necessidade artística. “Quando eu ia pesquisar sobre essas famílias, eu não encontrava o ponto de vista dos filhos”, contou o diretor. “Sempre havia uma voz de autoridade, mas raramente o olhar dessas pessoas que também constroem o cotidiano desses lares.” É a partir desse gesto, o de devolver a palavra a quem costuma ser apenas objeto de discurso,  que o filme encontra sua potência política.

Wenceslau confessa que iniciou o projeto movido por um desejo íntimo de formar sua própria família, mas o processo o levou a desconstruir idealizações. “Eu tinha uma visão quase romântica da adoção, e o filme me mostrou outra realidade, mais complexa e mais humana”, afirmou. Essa percepção atravessa cada quadro do documentário, que retrata as famílias sem romantização, deixando que o afeto surja em meio a conflitos, dúvidas e momentos de dúvida.

A fotografia de Ícaro Moreno e a montagem de Armando Mendz foram essenciais para construir essa intimidade sem invadir. “Filmávamos dentro das casas, com uma equipe muito reduzida, e a câmera foi se aproximando aos poucos, conforme a confiança crescia”, explicou o diretor. Essa evolução técnica reflete também o vínculo emocional criado durante os dois anos de convivência com as famílias, um processo de escuta e troca que se traduz em uma linguagem visual cada vez mais viva, mais próxima, mais cúmplice.

“LAR” evita qualquer tom panfletário. Para Wenceslau, “o maior ato político era tentar encontrar a humanidade como forma de construir a narrativa”. Em vez de responder a questões sociais, o filme as apresenta com delicadeza, deixando que os próprios personagens conduzam a reflexão. Isso se alinha ao desejo consciente de fugir do arquétipo trágico que por tanto tempo marcou o cinema queer. “Queria mostrar que a gente vive, que a alegria, o prazer e o desejo também fazem parte das nossas vidas”, contou, citando influências que vão de Gus Van Sant e Apichatpong a Eduardo Coutinho.


O resultado é um retrato que equilibra ternura e denúncia com rara sensibilidade. As tensões e desafios surgem naturalmente, sem imposição: “A maioria das situações de preconceito vieram das próprias famílias, quando elas se sentiram prontas para dividir aquilo”, explicou o diretor. A honestidade dessas partilhas faz com que cada cena tenha um peso emocional próprio, transformando o filme em uma experiência de reconhecimento mútuo, entre personagens, realizador e público.

Mais do que um documentário sobre novos arranjos familiares, “LAR” é uma reflexão sobre o pertencimento. “Essas pessoas são de carne e osso, com desejos, falhas e potências. Cabe todo mundo no mundo”, resume Wenceslau. Em um país que ainda insiste em negar legitimidade a determinadas formas de amor, “LAR” se afirma como gesto de resistência e celebração, um filme que convida a imaginar futuros, onde o cuidado é a linguagem comum e o afeto, finalmente, tem lugar de fala.


segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Tesis Sobre Una Domesticación (Argentina/México, 2025)

Em “Tesis sobre una Domesticación”, Javier Van de Couter adapta o romance homônimo escrito pela própria Camila Sosa Villada, que também protagoniza o filme. É um gesto de rara potência: a autora revisita sua própria ficção em imagem e corpo, traduzindo na tela o que já pulsava em suas palavras, o desejo de existir para além dos moldes, de amar a sua maneira.

O diretor, que já havia trabalhado com Sosa Villada em “Mía”(2011), constrói aqui um drama erótico e político sobre uma atriz trans de sucesso que se casa com um advogado (Alfonso Herrera) e decide adotar uma criança. O lar que constroem, feito de afeto e aparência, começa a ruir quando ela retorna à cidade natal, onde o passado lateja e o conservadorismo ainda dita regras.

O filme é, em essência, um estudo sobre o que significa domesticar, o corpo, o amor, a vida, e o que se perde quando se tenta caber. As cenas de sexo, intensas e deliberadamente selvagens não buscam escândalo, mas afirmação: o corpo trans não é metáfora nem coadjuvante, é carne, desejo e poder, uma presença que desobedece a docilidade esperada.

A colaboração entre Sosa Villada e Van de Couter resulta em um filme que questiona não apenas as normas sociais, mas também a própria tradição das narrativas trans no cinema. O diretor foge do modelo trágico e miserabilista, afirmando que queria escapar do clichê.  A protagonista de “Tesis sobre una Domesticación” não pede aceitação: ela já conquistou espaço, visibilidade e poder, e justamente por isso enfrenta o desafio de sustentar essa posição, entre o amor e o controle, entre o lar e a solidão.

Visualmente, Van de Couter cria um contraste poderoso: o apartamento urbano, elegante e quase estéril, traduz a promessa de estabilidade; já a cidade natal da protagonista, com sua luz dura e olhares inquisidores, representa o espelho que ninguém quer encarar. A adaptação encontra na sutileza seu próprio método de resistência. O que importa é a complexidade de existir  e não a didática da dor.

Com produção de Diego Luna e Gael García Bernal, “Tesis sobre una Domesticación” é uma obra indomável, feita de carne e contradição. Uma atriz trans interpreta sua própria invenção e, nesse gesto, transforma ficção em corpo político. É um filme sobre o perigo e a beleza de querer caber em um mundo que nunca foi feito para você e sobre a coragem de, ainda assim, permanecer.

The Compatriots (EUA, 2024)

 “The Compatriots” coloca no centro o jovem Javi (Rafael Silva), imigrante indocumentado, gay e à beira da deportação, que reencontra o amigo de infância Hunter (Denis Shepherd), um homem branco e festeiro que tenta se reconectar com o passado e, sem perceber, entra em uma luta pela permanência e pela dignidade do outro. Spencer Cohen constrói uma comédia dramática que equilibra leveza e tensão, explorando as zonas cinzentas entre amizade, identidade e sobrevivência emocional.

A intersecção entre imigrante, latino e gay torna a narrativa de “The Compatriots” particularmente potente. Javi não está apenas tentando evitar a expulsão do país, ele está tentando existir plenamente. A incerteza de seu status migratório espelha o medo de amar livremente, e o silêncio sobre sua sexualidade traduz o exílio interior de quem precisa se esconder para continuar respirando. Inspirado na história real de Alberto Sayan, amigo do diretor, o filme transforma um testemunho pessoal em crônica universal sobre deslocamento e pertencimento.

Mesmo diante de temas tão densos, Cohen mantém o filme vibrante. O humor surge como instrumento de sobrevivência, não de fuga. Entre encontros desajeitados, festas, piadas e confissões, o riso funciona como respiro em meio à ameaça constante. “The Compatriots” abraça a contradição: é um filme que faz rir enquanto o coração aperta, equilibrando crítica social e afeto sem se tornar didático ou sentimentalista.

A força do elenco é decisiva. Rafael Silva entrega uma atuação de profunda sensibilidade, tornando visível a fragilidade de um corpo que carrega múltiplos medos e esperanças. Denis Shepherd, por sua vez, humaniza Hunter, evitando o estereótipo do aliado salvador e tornando palpável a amizade que resiste ao abismo cultural e emocional. Caroline Portu completa o trio com naturalidade e empatia. A cidade americana, filmada com tons frios e luminosidade incerta, torna-se metáfora de uma pátria que acolhe e rejeita ao mesmo tempo.

O filme vibra em suas essência independente mas há pequenas irregularidades de ritmo e foco: o roteiro, por vezes, simplifica os dilemas migratórios de Javi, diluindo a tensão política em favor de momentos cômicos mais palatáveis ao público, como vindouro casamento com Hunter. Ainda assim, há dois pilares que sustentam a integridade da obra. O primeiro é a amizade positiva, retratada sem homofobia e com um senso de apoio mútuo e o poder da identidade.

“The Compatriots” não busca a catarse, mas a ternura. Quando Javi encara a possibilidade de perder tudo, o que resta é o vínculo que o mantém em pé. Entre fronteiras visíveis e invisíveis, o filme encontra humanidade no gesto mais simples: permanecer presente, mesmo quando o mundo insiste em afastar. Spencer Cohen transforma a dor da separação em algo luminoso, e é nesse contraste entre impotência e resistência que “The Compatriots” alcança sua beleza.

domingo, 9 de novembro de 2025

A Fuga de Fox (Stone Cold Fox, EUA, 2025)


Em sua estreia como diretora e co-roteirista, Sophie Tabet devolve ao cinema de ação o espírito dos anos 80, mas com uma lente queer e feminina. O filme segue Fox (Kiernan Shipka) escapando de uma comuna abusiva e sendo forçada a voltar para recuperar a irmã sequestrada pela rainha do crime Goldie (Krysten Ritter) e enfrentar o policial corrupto interpretado por Kiefer Sutherland. A ambientação em 1986, com trilha sonora, estúdio de treino, roupas de couro e letreiros digitais, evoca habilmente o passado.

Tabet não esconde sua intenção, “uma carta de amor aos filmes de ação americanos dos anos 80, mas que dá a mulheres, imigrantes e personagens queer um lugar à mesa”. Essa promessa se cumpre nas margens da narrativa: Fox encontra em Goldie não apenas uma antagonista, mas uma possível aliada, rival, amante, um vínculo queer declarado que desafia a lógica tradicional de “herói vs vilão”. A família biológica é substituída pela que se escolhe, e o galpão-pista-mortal torna-se território de insurgência.

A crítica ao não pertencimento está em cada cena: a comuna abusiva de onde Fox foge é metáfora de estruturas que oprimem corpos e desejos fora da norma; a irmã sequestrada, o retorno ao trauma, a infiltração e o confronto traduzem a urgência de criar um lar fora dos limites impostos. A presença queer não é apêndice, é núcleo  e o romance entre Fox e Goldie, ainda que misto com vingança e violência, representa uma possibilidade de amor que não pede aprovação.

O filme entrega com eficiência recursos visuais que remetem intencionalmente aos anos 80  e cenas de ação que dialogam com os clássicos, mas também trazem diversidade no elenco e foco nas mulheres que protagonizam. Há momentos em que o ritmo vacila e a narrativa se apoia no pastiche mais do que no frescor, e algumas críticas apontam que o filme “falha em ir além da nostalgia” para atingir o potencial completo.

“Stone Cold Fox” faz algo importante: coloca a diferença no centro da tela.. Aqui, imigrantes, mulheres e personagens queer não são coadjuvantes, são quem luta, quem planeja, quem dispara. Essa inversão de papéis transforma o filme num ato de visibilidade pop. Fox não foge do trauma: ela dispara, ela escolhe, ela ama. Goldie não é apenas vilã: ela é desejo, poder e ambiguidade.

“Stone Cold Fox” convoca o espectador a sujar as mãos com sangue, a celebrar o brilho da festa antes da carnificina e a dançar sobre as cinzas da conformidade. É um filme-celebração de sobreviventes que escolhem existir de pé, com batom, machado e uma vibe tarantinesca.


sábado, 8 de novembro de 2025

Corações Jovens (Young Hearts, Bélgica/Países Baixos, 2024)

 

“Corações Jovens”, de Anthony Schatteman, é um filme sobre o instante em que o amor deixa de ser abstração e se torna experiência. Elias (Lou Goossens), aos 14 anos, conhece Alexander (Marius De Saeger) e descobre, entre o medo e o deslumbramento, o que significa sentir algo pela primeira vez. A narrativa segue o ritmo interior desse despertar, onde cada gesto e cada silêncio parecem carregar mais peso do que as palavras. Schatteman constrói um retrato comovente da adolescência queer, em que a descoberta da sexualidade surge com delicadeza e sem o filtro do escândalo, como parte natural do crescimento.

A pequena cidade em que Elias vive funciona como um microcosmo da vigilância social. Lá, todos se conhecem, e qualquer olhar se transforma em rumor. O filme utiliza esse cenário para refletir o peso das normas e a forma como o medo de ser visto molda os gestos mais íntimos. Elias tenta se ajustar à expectativa dos outros, enquanto a presença luminosa de Alexander expõe o contraste entre o desejo de pertencer e o desejo de ser livre. Nesse espaço entre o silêncio e a expressão, Schatteman encontra a essência do amadurecimento queer: o corpo que aprende a existir sob o olhar alheio, mas também a reivindicar o próprio direito de sentir.


A direção aposta nos olhares como linguagem principal. As emoções de Elias são transmitidas por planos fechados, respirações curtas, pausas que sugerem o que ainda não pode ser dito. Esse jogo de comunicação muda transforma o silêncio em um território fértil, onde o amor se constrói na hesitação. O título “Corações Jovens” também dialoga com a natureza que o cerca, marcada por flores, vento e luz difusa, símbolos da juventude como tempo de descoberta e vulnerabilidade. Schatteman filma esse florescer como quem observa algo sagrado, mas frágil,  uma beleza que existe justamente porque pode se desfazer a qualquer momento.


Há ainda uma camada de conflito que se desenha dentro da casa de Elias. A tensão com o pai (Geert Van Rampelberg) espelha o embate interno do garoto entre o desejo e o medo, entre a culpa herdada e a autenticidade que tenta nascer. Esse vínculo paterno funciona como metáfora da repressão emocional, enquanto a mãe e o irmão aparecem como pontes frágeis para o acolhimento. O lar, que deveria ser espaço de proteção, torna-se o primeiro campo de ensaio da coragem de Elias em ser quem é.


O longa não procura a tragédia nem a revelação dramática. Em vez disso, aposta na ternura como forma de resistência. Anthony Schatteman filma a juventude com honestidade e sem idealizações, transformando a vulnerabilidade em potência e o cotidiano em espaço de descoberta. A beleza do filme está em aceitar que o amor, especialmente o primeiro, é sempre uma aprendizagem sobre o outro e sobre si mesmo, mesmo quando o mundo ainda não aprendeu a nomeá-lo.


“Corações Jovens” deixa o público diante daquilo que talvez nunca tenha sido dito em voz alta: o amor entre dois meninos pode ser simples, bonito e universal. É um filme que convida a lembrar de quando tudo parecia possível, de quando amar pela primeira vez era um gesto de fé no futuro. E talvez seja isso o mais precioso aqui, o cinema se tornando abrigo para quem ainda aprende a existir com o coração aberto.

ARTIGOS RELACIONADOS: CRÍTICA DE MARCO GAL - MOSTRA DE SP 2024

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

In Ashes (Se gennem Aske, Dinamarca, 2025)

“In Ashes”, der Ludvig Christian Næsted Poulsen, abre com Christian (Rex Leonard), um jovem gay de vinte e poucos anos, preso ao eco do término de seu primeiro amor. O rompimento unilateral com Aske (Lior Cohen) o deixa em estado de luto prolongado, revivendo memórias e deslizes enquanto tenta preencher o vazio com perfis de aplicativos, encontros que escapam e afetos que se diluem na pressa. A estrutura fragmentada, alternando lembranças e impulsos,  traduz a confusão emocional de Christian num dispositivo formal coerente com seu tema.

Poulsen não suaviza o lado sombrio dessa experiência queer: a obsessão se torna espiral, a busca por conexão se transforma em autossabotagem, enquanto Christian alterna entre o desejo por intimidade e o medo da exposição. Mesmo ancorado em um drama pessoal, o filme funciona como comentário sobre a cultura gay contemporânea,  sobre o impacto das dinâmicas digitais, o esgotamento afetivo e a precariedade das relações mediadas por tela.

Apesar do peso emocional, há respiros de humor e delicadeza que impedem o filme de se tornar claustrofóbico. A câmera acompanha Christian com empatia e proximidade, revelando um corpo que ainda procura sua forma, uma identidade que se molda em meio ao caos. A montagem não linear não busca confundir, mas propor uma lógica afetiva: as lacunas importam mais do que as respostas.

O que “In Ashes” propõe de mais instigante é a transparência da dor,  não como espetáculo, mas como condição. Christian não está apenas tentando amar de novo, está tentando se reconhecer fora da sombra de Aske. Os espaços digitais e os corpos passageiros funcionam como reflexos dessa busca por afeto, onde o toque e a ausência se confundem. A ferida, aqui, não precisa cicatrizar para ser legítima.

Ainda assim, o filme flerta com o risco da repetição. A sucessão de encontros e deslizes às vezes alonga o ritmo, aproximando o espectador da mesma estagnação emocional que domina o protagonista. O mérito de Poulsen está em não disfarçar esse desconforto: o filme se permite ser fragmentado, dolorido, inconcluso, exatamente como a experiência que retrata.

“In Ashes” é mais do que um relato de coração partido. É um retrato contemporâneo da juventude queer, que tenta amar em meio à saturação digital, entre o desejo e o desamparo. Ludvig Christian Næsted Poulsen entrega uma narrativa sobre o que resta quando o amor acaba, mas o impulso de continuar sentindo ainda queima,  entre as cinzas.

quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Dragula: Titans - O Pesadelo Queer Volta para Dominar a Reserva Imovision

As indicadas ao Emmy®, The Boulet Brothers, retornam com a 2ª temporada de The Boulet Brothers Dragula: Titans, prometendo a edição mais ambiciosa e caótica da franquia. O spin-off de terror, fantasia e drag está de volta, e a competição é uma batalha de proporções épicas, disponível para o público brasileiro na Reserva Imovision.

O Que Está em Jogo?

Dragula: Titans reúne 14 das mais ferozes artistas de temporadas passadas, a maioria favoritas dos fãs e finalistas Top 3. Elas retornarão para desafios de design, performance e maquiagem inspirados no sobrenatural e no horror.

A vitória garante um prêmio de $100.000, uma vaga de headliner na turnê mundial e o cobiçado título de "Rainha do Submundo".

Destaques da Temporada (Caos e Celebridades)

  • Elenco Gigante: É o maior elenco já reunido na história da série.

  • Conflito Extremo: A temporada já promete rivalidades explosivas, shade, eliminações chocantes e até duas desqualificações, redefinindo o conceito de "Titã".

  • Juízes de Cinema: O painel de convidados é uma celebração do terror, incluindo nomes de peso como David Dastmalchian (Dune), Jennifer Tilly (Chucky),  e Don Mancini (criador da franquia Chucky).


O reality show mais aterrorizante da televisão está pronto para transformar a arte drag em um espetáculo de terror sem limites.

ONDE ASSISTIR:  Dragula: Titans está disponível na plataforma de streaming Reserva Imovision, com um episódio por semana.



A Forma da Água (The Shape of Water, EUA/México, 2017)

O cinema de Guillermo del Toro sempre encontrou beleza no que a norma rejeita. Em “A Forma da Água” , essa sensibilidade se transforma em manifesto: a fantasia deixa de ser fuga e se torna lugar de revolução. No coração da América moralista dos anos 1960, o diretor constrói uma fábula onde a ‘monstruosidade’ é sinônimo de verdade. É o amor, líquido, híbrido, indisciplinado, que desestabiliza as fronteiras de corpo, gênero e humanidade.

A protagonista Elisa (Sally Hawkins), mulher muda e invisível, encarna a delicadeza e a força dos que sobrevivem à margem. Sua atração pelo Homem-Anfíbio é mais que um gesto romântico: é uma recusa a aceitar o amor como privilégio dos “normais”. A criatura, corpo híbrido entre o humano e o mítico, representa a alteridade radical, o queer em sua forma mais pura, que existe apesar das categorias. Ao unir-se a ele, Elisa afirma que o afeto não depende da semelhança, mas da coragem de ver o outro em sua diferença absoluta.

Em vez de ser salva, Elisa salva. Ao contrário das princesas que esperam o beijo, ela age, transgride, reivindica sua própria narrativa. Sua mudez não é ausência, é linguagem, cada gesto, cada sinal é poder. Ela não busca cura, busca comunhão. E ao final, ao se aproximar fisicamente da criatura, assume a própria mutação, um gesto simbólico de libertação dos limites impostos pela humanidade normativa. O filme propõe, assim, um novo arquétipo de heroína:: aquela que encontra felicidade não na transformação do outro, mas na aceitação mútua do que é estranho, fluido e indomável.

Del Toro reforça essa dimensão através da estética: o vermelho da faixa e dos sapatos de Elisa contrasta com o verde frio do laboratório, o desejo se insurge contra o confinamento. A câmera se move como a água, sinuosa, envolvente, quase carnal. Tudo flui, nada se fixa. A água aqui é mais que elemento, é metáfora da identidade queer, que escapa, adapta-se, resiste à forma imposta. O diretor traduz o prazer como um ato político: a masturbação de Elisa e sua relação com a criatura são retratadas sem pudor, como afirmação de uma sexualidade própria, legítima e viva.

Os coadjuvantes reforçam a rede de solidariedade entre marginalizados. Giles, Richard Jenkins, indicado ao Oscar, o artista gay envelhecido, rompe com a tradição do homem queer condenado à tragédia, e sua ternura se converte em coragem. Zelda (Octavia Spencer), mulher negra e trabalhadora, soma-se à resistência silenciosa de Elisa. Juntos, formam uma comunidade de outsiders que enfrentam o patriarcado branco, hétero e militarizado com empatia, humor e cumplicidade. Nesse trio improvável, o filme encontra seu gesto mais político: a sobrevivência coletiva dos que o sistema tenta apagar.

Vencedor de 4 Oscars, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor, “A Forma da Água” é uma ode à diferença, uma fábula erótica e política onde o amor é revolta e a monstruosidade é redenção. Del Toro não romantiza a exclusão, ele a transforma em força estética e moral.. É amar com escamas, com feridas, com desejo. É deixar que o corpo encontre sua própria forma, líquida, mutante, libertadora.

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

The Ice Tower (La Tour de Glace, França/Alemanha/Itália, 2025)


A diretora Lucile Hadžihalilović tece em “The Ice Tower” uma fábula gelada onde o outsider não espera o abraço da norma, ele exige sua própria câmara de ecos e gelo. Ambientado nos anos 70, numa montanha isolada em que uma órfã, Jeanne (Clara Pacini), foge de um lar de acolhimento e invade o set de um filme inspirado em A Rainha da Neve, esse longa-metragem é sobre a atração pelo outro que jamais se dobra.

Jeanne vê em Cristina (Marion Cotillard), a estrela que interpreta a Rainha de Neve, não apenas uma musa, mas um abismo de desejo e espelho possível. Cristina não está para ser salva nem revolucionada, está para ser vista  e para saciar, talvez matar, o que Jeanne procura: vida que nunca lhe foi dada. Essa dinâmica feminina é intensa, marcada por fascínio e devoração, onde o beijo entre as duas adquire contornos vampíricos, predatórios e profundamente queer.

A fluidez de gênero e identidade corre em veias visadas pelo filme: Hadžihalilović combinou os dois personagens da história de Andersen num só,  Jeanne transita entre menino e menina, sombra e corpo. Essa construção borra as fronteiras, e o que parecia refúgio infantil torna-se campo de experimentação queer: corpos híbridos, desejos que não se encaixam, modos de ser que escapam a categorias.

A cinematografia de “The Ice Tower” eleva o estético ao nível do símbolo: o branco névoa, o gelo que trinca, os corredores de set que parecem galerias de espectros, espelhos que não mostram, revelam. A água congelada, o estúdio artificial, o cenário de conto de fadas virado delicado pesadelo, tudo isso serve à política do olhar queer, ao potencial revolucionário do que não cabe.

E se as falhas existem,  ritmo lento, narrativa que se dissolve em símbolos, elas não apagam o gesto: Hadžihalilović não busca apenas contar, busca desestabilizar. Cada aproximação entre Jeanne e Cristina é risco, cada enquadramento, um convite à identificação e à estranheza. O filme não oferece conforto, oferece reconhecimento.

A metalinguagem em “The Ice Tower” é uma teia onde cinema e vida se confundem, e onde o filme-dentro-do-filme se torna uma parte fraturada da identidade em formação. Gaspar Noé aparece como o cineasta de peruca. O set do filme dentro do filme, “A Rainha da Neve”, e o mundo das personagens externas são, de fato, uma continuidade emocional, o que se passa “na realidade” se reflete numa camada ficcional e vice-versa.

terça-feira, 4 de novembro de 2025

País das Fadas (Fairyland, EUA/França, 2023)


A adaptação da obra de Alysia Abbott  por Andrew Durham, com produção de Sofia Coppola, transporta para a tela os anos 70 e 80 em São Francisco, cidade que pulsava entre a utopia e o abismo. O filme começa com a morte da mãe da jovem Alysia (Emilia Jones) e com seu pai, Steve Abbott (Scoot McNairy), assumindo identidade e paternidade em meio à liberação gay e à devastação da AIDS. O ponto de vista da filha organiza a narrativa, alternando infância e amadurecimento com uma delicadeza que transforma a história em testemunho afetivo.

No centro da trama, a relação entre Steve e Alysia revela duas formas de descoberta. Ele se liberta das amarras de uma masculinidade reprimida, enquanto ela aprende a crescer num mundo que julga, mas também inspira. “Fairyland” se distancia do sentimentalismo e aposta na sutileza dos gestos, nos silêncios desconfortáveis e nas pequenas rupturas que constroem um vínculo entre amor, liberdade e culpa.


A força queer do filme está em não tratar a diferença com julgamentos, mas como herança e direito. A juventude de Alysia se desenrola entre amigos, poetas, amantes e fantasmas, todos atravessados pela promessa e pelo medo de existir plenamente. A narrativa celebra a coragem dos que amaram e foram amados em tempos de urgência, transformando o cotidiano em gesto político.

Visualmente “Fairyland” é um presente. A fotografia de Greta Zozula envolve tudo em texturas quentes, quase táteis, como se cada plano fosse retirado de um álbum de memórias. As locações reais e as imagens de arquivo reconstroem uma São Francisco que acolhe e fere, vibrante e espectral, onde a arte e a vida queer se confundem. Andrew Durham dirige com sensibilidade quase literária, permitindo que a nostalgia nunca se torne idealização.


Mesmo com momentos de irregularidade e ritmo hesitante, “Fairyland” mantém coesão emocional. Há passagens que soam previsíveis dentro do arco de amadurecimento, mas o filme compensa com sinceridade e atmosfera. É uma obra que reconhece o peso da perda sem recorrer à autopiedade, preferindo a luz tênue do afeto ao desespero da tragédia. Geena Davis e Cody Fern completam o elenco trazendo arcos afetuosos.


“Fairyland” é, acima de tudo, um poema sobre a sobrevivência queer. Um retrato terno e imperfeito, que encontra beleza naquilo que o tempo tentou apagar. Durham e Coppola constroem uma carta de amor aos que ousaram ser, aos que criaram família fora dos moldes, aos que entenderam que viver com verdade é o gesto mais radical.


segunda-feira, 3 de novembro de 2025

O Professor - 2ª Temporada (English Teacher, EUA, 2025)

A segunda temporada de “English Teacher” amplia o caos cômico do ensino médio, levando Evan Marquez (Brian Jordan Alvarez) e a escola Morrison-Hensley a territórios mais explicitamente políticos, mas sem perder o humor ácido que consolida a série. Com dez episódios no total, a nova leva tenta manter o equilíbrio entre sátira escolar e crítica social.

Desde o início, a temporada assume riscos: o primeiro episódio adapta uma peça sobre a COVID-19, e logo se entremeta em temas como mudanças climáticas, recrutamento militar e vigilância digital. A série não trata esses assuntos como painéis de debate, ela os exagera, traz para o cotidiano da escola, faz piada e, ao mesmo tempo, puxa o tapete sob convenções sociais. Essa é sua força maior: usar a frivolidade como armadura para falar sobre o peso real da política na vida estudantil.

“English Teacher" continua sendo um dos títulos mais refrescantes da TV escolar. Evan é um professor gay latino que não se fecha em discursos morais: suas inseguranças, suas contradições e os espinhos de seu ativismo invadem sua vida pessoal. Sua relação com Malcolm (Jordan Firstman) encontra novas tensões nesta temporada, pois o ativismo de Evan começa a invadir o lar, e cada decisão política atravessa o afetivo. A série insinua quão tênue é o limite entre visibilidade e exposição quando se é uma figura queer em um ambiente que ainda teme o “diferente”.


As tramas secundárias também ganham mais corpo. Personagens como Gwen (Stephanie Koenig) e o diretor Grant Moretti (Enrico Colantoni) têm momentos que revelam a face cansada de lidar com expectativas e contradições escolares. A escola de “English Teacher" é um microcosmo de poder, burocracia e moralidade, onde decisões aparentemente pequenas, quem pode se apresentar no palco, que peça colocar, reverberam como atos de insurgência.

A série mantém sua assinatura: episódios curtos (cerca de 22–25 minutos), ritmo acelerado, cortes secos, piadas que entram e saem com leveza. A sátira se alimenta dos contrastes, o idealismo exagerado de Evan frente à realidade escolar depreciada, os estudantes com celulares, professores com falhas, pais com expectativas.

Embora sexualmente mais comportada, e entendemos o porquê, a segunda temporada de “English Teacher” reafirma que a escola não é espaço neutro: é campo de batalha para identidades, poder e ideologia. Evan, como professor queer, se posiciona entre ser inspiração e ser alvo de críticas; os alunos exigem mais do que passividade e não aceitam sermões,  eles querem representatividade real, voz, risco.

domingo, 2 de novembro de 2025

33ª edição do Festival MixBrasil de Cultura da Diversidade celebra o audiovisual queer com ousadia e expansão

 

O Festival MixBrasil chega à sua 33ª edição reafirmando-se como o maior evento de cultura LGBTQIA+ da América Latina e um palco vital para o cinema queer. Sob o tema “A Gente Quer+”, a programação reúne impressionantes 142 filmes de 33 países, além de séries, artes visuais, performance e games,  uma cartografia estética e política para o presente do audiovisual queer.

A abertura fica por conta de Me Ame com Ternura, da diretora francesa Anna Cazenave Cambet, inédito no Brasil, que introduz o festival com uma fábula sobre maternidade, liberdade e desejo sáfico. No apartado internacional, títulos como Twinless: Um Gêmeo a Menos (vencedor do Prêmio do Público em Sundance) e O Olhar Misterioso do Flamingo (Prêmio do Júri em Cannes na mostra Un Certain Regard) reafirmam o alcance global do evento. No eixo nacional, longas recentes e inéditos nos cinemas como Ato Noturno (de Filipe Matzembacher e Márcio Reolon), A Natureza das Coisas Invisíveis (de Rafaela Camelo) e Torniquete (de Ana Catarina Lugarini) dialogam diretamente com os circuitos do cinema queer e reafirmam a potência estética e política da produção LGBTQIA+ no Brasil.

Uma das apostas mais instigantes desta edição é o lançamento da Mostra de Inteligência Artificial, com 24 filmes (19 em competição) que exploram como a IA ressignifica a forma de contar, ver e sentir narrativas queer. Já no campo das homenagens, a lendária apresentadora do Show do Gongo, Marisa Orth recebe o Ícone Mix deste ano, um reconhecimento que reafirma o festival como espaço de memória, afeto e continuidade para artistas LGBTQIA+.

Com 8 espetáculos teatrais, experiências XR (virtual reality) internacionais e locais, conferências e mais de dez espaços de exibição em São Paulo (como o Instituto Moreira Salles, o Spcine Olido e o Museu da Imagem e do Som), o MixBrasil reafirma que o audiovisual queer não só representa corpos não normativos, mas cria visibilidade, comunidade e poder.