quinta-feira, 3 de junho de 2021

Limiar(Brasil, 2020)

Filmado ao longo de três anos, Limiar, acompanha a cineasta Coraci Ruiz convivendo e apoiando a transição de gênero de seu filho adolescente, Andy. Enquanto a transformação do adolescente, não binário, e a busca por identidade se desdobram diante de nossos olhos.

Combinando vídeos caseiros e entrevistas profundamente reveladoras com três gerações da família, o filme é uma janela crua e notável para um grupo em processo. Conforme a compreensão de Andy sobre si mesmo começa a se cristalizar, Coraci e sua mãe, Lena, refletem sobre as decisões, sentimentos e desejos de seus próprios jovens. As memórias de quebrar velhos paradigmas, enfrentar seus medos e desmantelar preconceitos são o que eles têm para construir uma ponte para a aceitação. 


Os momentos mais interessantes do filme são as conversas entre Andy e sua mãe, que  falam francamente sobre onde ele pessoalmente se enquadra no espectro entre o não binário, o masculino e o feminino, oferecendo um vislumbre revelador de seu processo de pensamento durante esta fase exploratória. 


O documentário envolve questões complexas, como consentimento dos pais para cirurgia e hormonização O filme também analisa como o clima político no Brasil estava mudando para a extrema direita durante esse período, impactando o cenário social em relação aos direitos LGBTQIA+.


A urgência de colocar em discussão identidade de gênero entre três gerações de uma família, é um olhar interessante que explora esses temas oportunos de uma forma pensativa e emocionalmente sensível.


Acima de tudo, Limiar é o olhar compassivo de uma mãe sobre a identidade/sexualidade do filho adolescente, não binário. Num processo reflexivo de documentar as dúvidas de Andy, a cineasta acaba encontrando a si mesma na tomada de decisões cruciais. Andy, que no final do filme resolve se chamar Noah, tem a grande sorte de estar no seio de uma família que trata e expõe tudo com muita naturalidade. Documentários como esse são essenciais para educar e para que pais, ainda retrógrados, passem a enxergar seus filhos LGBTQIA+ com um olhar mais humano.


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