sexta-feira, 4 de junho de 2021

Magnicídio(Jubilee, Reino Unido, 1978)

Magnicídio, lançado no ano do jubileu de prata de Elizabeth II, em 1978, como uma provocação aparentemente dirigida a quase todos causou alvoroço. O segundo longa de Derek Jarman é uma mistura crua de punk/rock, violência, nostalgia, golpes no catolicismo e nudez abundante que o tornam tão anárquico quanto qualquer coisa que o diretor faria a seguir.

O filme começa com Elizabeth I (Jenny Runacre) e seu alquimista, Dr. John Dee (Richard O'Brien), que invoca Ariel (David Brandon), o ser mágico e andrógeno de William Shakespeare em A Tempestade, casualmente o longa seguinte do diretor. Graças aos poderes de Ariel imbuídos em um cristal, o trio viaja através do tempo a uma visão brutal e distópica da Londres, dos anos 1970. 


A cidade está devastada, mas viva, as ruas abrigando grupos violentos de gangues de garotas punk que se defendem do assédio policial e causam confusão. Carrinhos de bebê estão em chamas e pessoas são mortas enquanto bandas, incluindo Adam And The Ants e Siouxsie And The Banshees, tocam incessantemente na televisão.


O movimento punk, representado pelas personagens Amyl Nitrate(Jordan), com uma maquiagem que remete à David Bowie, Mad Medusa(Toyah Willcox), a francesa Chaos(Hermine Demoriane), os irmãos incestuosos Sphynx(Karl Johnson) e Angel(Ian Charleson), e a rainha Bod, interpretada pela mesma atriz que faz Elizabetth I, remete a um universo libertino e caótico em um apartamento que dividem. 


A violência ritual está se espalhando como está essa nova onda musical, pronta para ser cooptada por magnatas financeiros, como o excêntrico e afetado Borgia(Orlando), sempre com sua risada diabólica lançando novos e transgressores talentos. A Rainha Elizabeth II está morta e o Palácio de Buckinghan se tornou um estúdio de gravação.


A narrativa de Magnicídio é pessimista e até niilista. Os jovens são facilmente comprados com novos modismos musicais, a sociedade é seriamente propriedade de homens de negócios e a história é o único refúgio seguro, embora inalcançável. 


Os momentos musicais são memoráveis, Amyl Nytrate evoca Ziggy Stardust em Rule Brittania, Adam and the Ants nos presenteia com sua Plastic Surgery e Lounge Lizard(Jayne Count) alucinada, em trajes femininos, simplesmente arrasa interpretando Paradise Paranoia, segundos antes de morrer. Há ainda um inusitado momento de uma garota cantando Edith Piaf em uma corda bamba.


O filme não é uma sátira do movimento punk, mas uma obra sobre a perda de identidade, cultura e comunicação. Um manifesto estético que floresceu em lugares obscuros, explodidos por bandas como Sex Pistols, e agora tornados tão fantasmagóricos quanto Dee, Elizabeth I e sua escudeira anã, desaparecendo mais uma vez de volta ao período vitoriano.


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