quarta-feira, 30 de junho de 2021

Morrer como um Homem (Portugal/França, 2009)

O longa do português João Pedro Rodrigues, de O Fantasma(2000) e O Ornitólogo(2016),  começa com uma cena de guerra que combina homossexualidade, surrealismo e violência - elementos que se repetem ao longo do filme. À primeira vista, esta sequência de abertura parece não ter qualquer ligação com a história principal, que diz respeito aos trabalhos de Tônia (Fernando Santos), uma artista transexual que atua numa boate de Lisboa. Mas no filme todos os elementos aparentemente díspares eventualmente se cruzam e se fundem em um todo satisfatório. 

Tônia está sendo pressionada pelo parceiro Rosário(Alexander David), um inconstante dependente químico, a fazer uma cirurgia de resignação sexual. Ela precisa lidar com a idade e a concorrência das drags mais novas da boate. Pra completar seu filho rabugento, Zé Maria(Chandra Malatich), um soldado, aparece para aumentar o estresse da protagonista.


É difícil entender a obsessão de Tônia com o desagradável Rosário. A primeira metade do filme também apresenta algumas cenas de sexo bastante explícitas que não serão problema para o público gay, mas que talvez afastem um público maior. 


Quando o filme está prestes a se esgotar, ele muda de direção inesperadamente. Tônia e Rosário partem do país para visitar o irmão dele, mas em vez disso acabam em uma floresta encantada presidida por outra transexual, a encantadora Maria (Gonçalo Ferreira de Almeida), que tem toda a confiança e equilíbrio que faltam em Tônia. Essas sequências são feitas em um estilo realista fantástico que fornece uma pausa idílica para os personagens. A cena ao som de Calvary, de Baby Dee, é como o mais surrealista dos sonhos.


De alguma forma, esta estada acalma e santifica Tônia e Rosário quando eles voltam a Lisboa e enfrentam uma inesperada crise de saúde. As sequências finais constroem em direção a uma redenção espiritual que é bastante comovente. O estilo frenético da primeira metade dá lugar a um clima mais lírico e restaurador que é reforçado pela cinematografia de Rui Pocas. Morrer como um homem é tão lindo e melancólico como um legítimo fado português.





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