sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Não sei se corto os pulsos ou se Deixo Crescer(No sé si Cortarme las venas o dejármelas largas, México, 2013)


Antes de tornar-se internacionalmente conhecido graças ao sucessos das séries La Casa de las Flores e Alguém tem que Morrer, Manolo Caro, reflete em Não sei se corto os pulsos ou Deixo Crescer: um melodrama que trata dos conflitos do casal e da aceitação da realidade, e cuja tensão se rompe ao se deparar com situações cômicas e enredos que rompem o drama.

Originalmente uma peça de teatro, seu elenco quase completo permaneceu para a versão cinematográfica. O filme é sobre os vizinhos de um edifício: um casal recém-casado, seus vizinhos judeus, o novo inquilino e o vizinho antissocial espanhol. Todos eles compartilham o chão em seus diferentes apartamentos, mas em geral estão distantes e raramente trocam uma palavra. Todos vivem em seus próprios microuniversos que se limitam às paredes de seus apartamentos, onde tudo e nada acontece, dia a dia.


Assim, cada núcleo de personagens se desdobra em seu habitat, mas às vezes devem interagir com outros nos espaços que lhe foram designados. No entanto, haverá momentos em que terão que abrir as portas de sua casa e habitar lugares que não foram definidos para isso, o que os enche de desconforto. O diretor conseguiu deixar claro esse desequilíbrio em sua perspectiva visual, enquanto algum comentário sarcástico quebra o silêncio constrangedor e produz risos na sala.


 Um terceiro lugar está integrado na história. Em uma trama paralela (como em flashback), todos os personagens são interrogados por um agente do Ministério Público em uma sala escura que remete a um lugar sombrio e sufocante. Esses momentos têm uma forma bem diferente do resto do filme, com closes, câmera na mão e ares de documentário, nos quais os personagens - em forma de monólogo - revelam seus pensamentos mais profundos. 

Há vários momentos no filme que denotam uma mão inspirada no estilo de Pedro Almodóvar. Cenas com a vizinha Lola, interpretada pela colaboradora constante do diretor espanhol Rossy de Palma, provam isso, sendo através dos figurinos excêntricos, pela profissão de cartomante ou pelo gaspacho que oferece aos seus convidados.

Mesmo apesar da simplicidade de enquadramento e narrativa, e do fato de seus cenários (exceto a delegacia) serem bastante utilitários, o filme de Caro respira uma pitada de nostalgia. Nostalgia do que não é, do que está escondido, dos segredos, da saudade do passado, dos desejos, das saudades. Nostalgia que obriga os personagens a se questionarem. Até a música evoca esse sentimento, com canções bem conhecidas de um passado próximo.


A linha que divide este filme entre ser divertido e virar algo parecido com uma novela mexicana é muito tênue. No entanto, ela consegue se safar, talvez pelo cuidado com os detalhes que o diretor colocou, observando a história de diversos ângulos. Há Lucas(Luis Gerardo Mendes), que está apaixonado pelo amigo “hétero” Félix(Luis Ernesto Franco). Há Nora(Ludwika Paleta) que enfrenta problemas conjugais e há até a famosa Cecilia Suarez, fazendo uma ponta como atriz de telenovela.

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