quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Benedetta(França/Bélgica/Holanda, 2021)



Benedetta, de Paul Verhoeven  é um choque. A história, vagamente baseada no livro Atos Impuros – A Vida de uma Freira Lésbica na Itália da Renascença, de Judith C. Brown, nos leva à Toscana, no século XVII, quando a jovem Benedetta Carlini(Elena Plonka) entra feliz no convento chefiado por uma abadessa materialista, interpretada por Charlotte Rampling.

Ela chega pelas mãos de seu pai que a oferece a Deus por seu milagroso nascimento. 18 anos depois, Benedetta (Virginie Efira), que se considera a esposa de Jesus e aos poucos ganha fama de fazedora de milagres, é assombrada por sonhos eróticos selvagens, desejos carnais e premonições arrepiantes. Ela é realmente abençoada ou está sendo possuída?

Benedetta pode soar como um conto incendiário, que flerta com a estética do neorrealismo italiano, graças a cinematografia incandescente, de Jeanne Lapoirie, no entanto Paul Verhoeven simplesmente ilustrou o conto em sua própria maneira de analisar essa história.


Existem algumas ideias bastante provocativas de misticismo e sexo na vida real de Benedetta que Verhoeven explora ao máximo. Ele joga com isso nos oferecendo imagens que são geradas por meras fantasias sobre freiras e conventos. 


Benedetta é uma mulher entre a devoção e a mentira, entre a manipulação e a fé, é uma personagem terrivelmente moderna.  O filme a torna a poderosa a ponto de tentar impor sua visão a um mundo de homens por meio da religião e de milagres. 

Com a chegada de Bartolomea(Daphne Patakia) no convento, a madre coloca Benedetta aos seus cuidados, mas as duas acabam desenvolvendo um caso amoroso, que mais tarde será usado contra a protagonista. Poderia uma lésbica ser uma Santa? Para a Abadessa, parece que não.

Além das visões eróticas com Cristo, o filme satiriza a religião como forma de poder, queimando prazeres carnais, punições, blasfêmias, devoção fervorosa e duvidosa. Tudo é a antítese da piedade, e o experiente Verhoeven explora isso ao limite, cutucando, provocando e nos deixando em permanente dúvida até o fim.


Em termos de casting, o diretor fez escolhas muito criteriosas, a começar por Virginie Efira para o papel de Benedetta. Ela, que já havia trabalhado com Verhoeven em Elle(2016), é bastante deslumbrante no papel. Seu rosto parece maravilhoso com o traje de freira, fazendo-a parecer angelical, ora cruel, ora travessa. A atriz belga também assumiu perfeitamente suas cenas de nudez, tornando-as muito naturais e nunca dando a impressão de voyeurismo.

Pulsando com desconforto e misticismo, este conto apresenta desafios morais e espirituais. A noviça Cristina(Louise Chevillotte), faz contraponto com Benedetta, duvidando de tudo o que acontece com a personagem e atraindo a atenção do Vaticano, através do Cardeal Alfonso Giglioli (Lambert Wilson).

O longa nos dá toda a glória do talento de Paul Verhoeven: é burlesco, gore, fantasmagórico, místico e sexual.  Aos 84 anos, o diretor, de Showgirls(1995), não está apenas em sua melhor forma, mas igual a si mesmo: polêmico e corajoso. 

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