Diane(Anne Dorval), uma jovem mãe solteira, tem um relacionamento muito difícil com seu filho, Steve(Antoine-Olivier Pilon). Violento e hiperativo, ele tem grande dificuldade em controlar suas emoções e sua força. Depois de ser expulso de um reformatório, por colocar fogo no refeitório e atingir um colega,Diane quer tentar novamente morar com Steve, em uma pequena casa no subúrbio em paz.
Completamente desamparada diante das crises do filho, Diane encontrará na vizinha Kyla(Suzanne Clément) um apoio importante e a chegada dessa mulher em seu cotidiano marcará um novo começo para Steve. A esperança de se livrar de seus demônios e provar para a mulher de sua vida (sua mãe) que ele é alguém. Uma boa pessoa…
Com Mommy, Xavier Dolan, ganhou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes, e marcou uma guinada em sua carreira. Obcecado pelas relações mãe-filho, o diretor parece querer acertar seu Édipo mais uma vez, cinco anos depois de Eu matei minha mãe(2009), seu filme de estreia.
Há muita tensão e também muitos momentos cômicos, como quando Steve imita o uso de sua língua de uma certa maneira, em resposta a uma velha no ponto de ônibus olhando para ele com desaprovação porque ele fuma e pragueja. E quando Die o encontra em seu quarto se masturbando e ele responde de forma sarcástica.
Também há um ótimo uso da trilha sonora incluindo Counting Crows, Céline Dion, Vivaldi, Beck, Lana del Rey, Dido, Eiffel 65, e uma cena simplesmente icônica ao som do hino noventista do Oasis, Wonderwall.
O grande atrativo de Mommy é a forma como apresenta seu conteúdo. A revolução de Dolan está em sua incrível capacidade de romper o molde tradicional e olhar para a realidade, neste caso a coexistência entre uma mãe e seu filho disfuncional, não para contá-la do ponto de vista analítico nem, tampouco, para explorá-la moralmente, psicologicamente ou emocionalmente. Dolan arrisca transmitir abertamente aquele sentimento de partir o coração que oscila entre a raiva e a ternura, entre a exasperação e a mais genuína compaixão.
Durante quase toda a projeção, a imagem é vertical e estreita, gerando no espectador um desconforto inicial que é esquecido instantaneamente ao perceber que essa estreiteza está a serviço da história, que serve para chamar a atenção, para concentrá-la em alguns personagens que só eles exigem que transmitam seus medos, suas fúrias e seus sonhos. Só por um momento a imagem volta, se é que veio mesmo dali, ao grande formato e o faz como um contraste que nos lembra que a lente da vida não é tão panorâmica como às vezes se quer.
A obra de Dolan oscila entre o repelente e o atraente, entre o terno e o mesquinho, entre o redentor e o condenatório, entre o magnetismo e a solidariedade. A alma, supostamente adiada na juventude, nem sempre é serena e contemplativa, ela pode e deve ser efervescente e rebelde se necessário. Em suma, Mommy é um filme atípico, mágico, poético, cheio de ternura e esperança. Uma ode ao amor com A maiúsculo que só Xavier Dolan poderia alcançar. Uma obra-prima absoluta.
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