ALERTA: Escrevi um texto tentando não revelar o conteúdo de cenas e sequências da série, mesmo assim a análise abaixo pode conter spoilers. Em Um Estranho no Ninho, que Milos Forman dirigiu em 1975, a enfermeira Ratched fazia um inferno da vida de Jack Nicholson em uma clínica psiquiátrica. Pois bem, Ratched, a série da Netflix estrelada brilhantemente por Sarah Paulson, é inspirada nessa personagem e conta a vida da enfermeira, no ano de 1947.
Ryan Murphy, criador de Pose e American Horror Story é o responsável pela produção onde imprime sua marca autêntica e criativa. A série faz parte da parceria de Murphy com a Netflix que já rendeu The Politician e a ótima Hollywood.
Em American Horror Story: Asylum, Sarah Paulson era uma jornalista homossexual que foi trancafiada em uma clínica psiquiátrica abusiva e bizarra. Agora ela está do outro lado da situação, como uma enfermeira sádica do Hospital Lucia, na Califórnia.
Tudo começa quando Edmund Tolles, Finn Wittrock de algumas temporadas de American Horror Story e filmes como Judy, assassina quatro padres após uma sessão de Milagre na Rua 34. A série já começa mostrando a que veio, com muito sangue e um assassino impiedoso e sanguinário. O terror chegou!
Logo somos apresentados à Mildred Ratched, que com um visual inspirado em divas de Hollywood, chega ao Hospital Lucia, na Califórnia para trabalhar como enfermeira. Por lá encontra o misterioso médico Dr Handover, vivido por Jon Jon Briones e a enfermeira chefe Betsy Bucket, interpretada com excelência por Judy Davis. Bucket é uma personagem essencial no desenvolvimento da série.
A fotografia da serie é primorosa, com planos e enquadramentos que nos remetem à obras de arte muito coloridas, também fazendo alusão aos clássicos do Technicholor. O uso da iluminação cria o clima de cada momento, a luz vermelha em cenas de pura tensão nos fazem lembrar de Dario Argento na versão original de Suspiria. A trilha sonora é imponente e lembra clássicos de Brian de Palma e Alfred Hitchcock.
A homossexualidade da personagem principal é sugerida em uma disputa por um pêssego, mas logo ela se envolve com Gwendolyn Briggs, a assessora do governador, com quem vai à um bar para mulheres, porém rejeita sua condição embora saiba que seus instintos sejam gays e ela se obrigará a aceitá-los.
Com Edmund Tolles no Hospital Lucia, descobrimos que Mildred se trata de sua irmã e que está lá para salvá-lo. A partir de então passam a acontecer coisas violentas e surreais no hospital. Dr. Hanover faz tratamento com lésbicas através de lobotomia e banhos ferventes, enquanto personagens secundárias mas fundamentais vão entrando em cena.
A série tem participações luxuosas de Corey Stoll, Vincent D’Onofrio e Sharon Stone, que interpreta uma ricaça excêntrica que tem um macaco e um filho sem os membros. Ela busca então se vingar do responsável pela desgraça do filho, o Dr. Hanover, se tornando uma importante personagem dentro do universo da série.
Com um plot atrás do outro e muitas mortes, cada episódio conta uma história. Conhecemos as origens de Mildred e Edmond em uma cena com marionetes extremamente bonita e poética, ao mesmo tempo que é uma história de terror, enquanto seus laços com Gwendolyn vão se estreitando.
Os dilemas de Mildred Ratched nos mostram que ela, apesar, de monstruosa têm potencial para amar e é mais humana do que parece e cheia de nuances. Quando chegamos ao último episódio após uma odisséia de mortes, loucura, excentricidades e lobotomia, estamos completamente fascinados pela anti-heroína e por seu universo obscuro e ao mesmo tempo colorido. A próxima temporada já foi anunciada então é permitido dizer que tudo termina num instigante gancho.
Ratched, é mais uma obra brilhante de Ryan Murphy que vêm fazendo história em meio à comunidade queer por criar filmes e séries que dialogam diretamente com esse público. Que a parceria com a Netflix ainda renda muitos frutos como o já anunciado longa The Prom, com Nicole Kidman e Meryl Streep.
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