domingo, 9 de maio de 2021

Pepi, Luci e Bom(Pepi, Luci, Bom y otras chicas de montón, Espanha, 1980)

Na década de 1980, a capital espanhola fervilhava com La Movida Madrileña, movimento de contracultura que marcou a liberdade de expressão e a fluidez da sexualidade, pós anos de ditadura franquista. Nesse contexto, surge Pedro Almodóvar, que após algumas experiências em super 8, lança seu primeiro longa comercial: Pepi, Luci e Bom.

Logo no início do filme, a música e os letreiros nos remetem aos longas underground de John Waters. Pepi(Carmen Maura) vive em seu apartamento, onde cultiva  maconha e está guardando sua virgindade vaginal para leiloar. Porém após a visita de um policial(Felix Rotaeta),ela é estuprada e fica sedenta por vingança.


Pepi procura Bom(Alaska) para que junto de sua banda de punk/rock possam espancar o violador. O tiro, no entanto, sai pela culatra, já que o agredido é o irmão gêmeo do policial. A personagem no entanto vai mais além ao contratar Luci,(Eva Silva), a esposa de seu algoz, para lhe dar aulas de tricô.


Quando Lucy conhece Bom, as duas protagonizam uma cena escatológica, que mais uma vez reafirma o universo transgressor de John Waters, e começam um caso de amor e submissão. Parece que os planos de Pepi estão começando a dar certo.


A cena noturna, a válvula da Movida, é retratada em cenas como um concurso de ereções que é apresentado pelo próprio Almodóvar, ou quando Bom sobe ao palco com sua banda para tocar a desbocada Murciana. Alaska se tornaria famosa anos depois como intérprete do hino gay A quien le importa.



Em uma cena de um comercial na TV, a jovem Cecília Roth aparece fazendo um bizarro anúncio de calcinhas. A atriz voltaria a fazer uma cena publicitária parecida em Que fiz eu para merecer isso
?(1984). Apesar de participar de vários filmes de Almodóvar, sua consagração viria com a sofrida Manuela, de Tudo sobre minha mãe(1999).

A origem do filme, por meio das histórias em quadrinhos, fica bem evidente durante quase todo o longa, uma das comédias mais subversivas de Almodóvar, que no início havia sido concebida para ser uma fotonovela.


Há alguns personagens avulsos, com quem as protagonistas cruzam durante o seu caminho, a prostituta interpretada por Kiti Manver, a Dama das Camélias, de Julieta Serrano, e ainda uma mulher barbada de voz estridente, Cristina Sánchez Pascual.


Em uma sucessão de cenas extravagantes, Almodóvar escancara temas como identidade de gênero, drogas, violência doméstica e sadomasoquismo. Fabio McNamara faz uma participação como Roxy, uma drag escandalosa que se diz 'revendedora da Avon'.


Apesar de ser tecnicamente precário, o longa viria a apresentar o diretor para o grande público, retratando exatamente aquela cena em que vivenciava, a da explosão de criatividade, da Madri, dos anos 1980. Em Pepi, Luci e Bom, um filme sobre a amizade, o absurdo é natural e como diz na música que finaliza o filme “No livro da vida, estava escrito”.


2 comentários:

  1. Pra mim dos mais bizarros filmes do manchego. Loucura do começo ao fim!

    ResponderExcluir
  2. Minha estréia com Almodóvar e parecia que já o conhecesse...

    ResponderExcluir