terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Do You Want to Die in Indio? (EUA, 2024)

"Do You Want to Die in Indio?", de David Moreton, é um drama que mergulha nas agruras da juventude em um contexto de desencanto e violência, ambientado no calor escaldante do deserto da Califórnia. Com um título provocador que sugere tanto um questionamento existencial quanto uma ameaça iminente, o filme acompanha Salvador, ou "Salvi" ( Joshua De Jesus), um jovem de 17 anos preso entre os sonhos de escapar de sua cidade natal, Indio, e as forças caóticas que o arrastam para um fim de semana de excessos, armas e ambiguidade sexual. Moreton, conhecido por explorar a vulnerabilidade da juventude em obras como "Edge of Seventeen" (1998), parece aqui intensificar sua abordagem, mas não sem tropeçar em algumas armadilhas narrativas que diluem o impacto potencial da história.

A trama segue Salvi, um artista de rua que pinta murais pop-art nas paredes de um viaduto, enquanto pedala pelas ruas empoeiradas de Indio, sonhando com um futuro além daquele lugar que ele percebe como um beco sem saída. Quando um romance promissor desmorona e uma bolsa para a USC lhe é arrancada, Salvi se vê lançado às ruas cruas de Palm Springs, onde se envolve com um traficante empreendedor (Robert Kazinsky) e uma série de personagens que o arrastam para um turbilhão de festas, violência armada e questionamentos sobre sua identidade. 


Os temas centrais, alienação juvenil, a busca por identidade em meio ao caos e o peso das escolhas em um ambiente hostil,  são familiares, mas ganham um tom particular pela ambientação desértica, que funciona como uma metáfora visual para o vazio existencial de Salvi. O calor opressivo e os céus azuis infinitos contrastam com a sensação de aprisionamento, criando um pano de fundo que amplifica o desespero do protagonista. Contudo, a promessa de uma narrativa incendiária parece se perder em uma execução que não consegue sustentar a profundidade emocional ou a originalidade que o título sugere.


David Moreton demonstra um olhar atento para os detalhes visuais: a estética do deserto, com sua luz crua e paisagens áridas, é um acerto que reforça a solidão de Salvi. A escolha de inserir os murais pop-art como expressão do protagonista é intrigante, sugerindo uma tentativa de encontrar cor e significado em um mundo monocromático de desilusão. 


Joshua De Jesus, como Salvi, carrega o peso de ser o coração do filme. Sua interpretação, presumivelmente marcada por uma mistura de melancolia e rebeldia, é essencial para que o público se conecte à jornada do personagem. Há potencial para uma performance crua e memorável, especialmente nas cenas em que Salvi confronta a violência e reflete sobre seu futuro. 


A narrativa, ao tentar abraçar múltiplas camadas, romance fracassado, perda de uma bolsa, tráfico de drogas, violência armada, corre o risco de se tornar episódica demais, sem tempo suficiente para desenvolver cada subplot. Comparado a filmes como "Kids" (1995) ou "Spring Breakers" (2012), ele compartilha o interesse por jovens à deriva em ambientes de excesso, mas parece menos interessado em chocar e mais em oferecer uma redenção.


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