“Homens de Barro”, de Angelisa Stein, remete ao clássico de Shakespeare, Romeu e Julieta, só que, nessa versão contemporânea, ambientada no Rio Grande do Sul, os protagonistas são dois homens: Pássaro (Gui Mallmann) e Ângelo (João Pedro Prates), jovens que se conhecem desde a infância e desafiam a culpa e os próprios medos para viver um amor proibido, moldando assim o destino dos personagens.
A primeira parte, mostra os protagonistas quando crianças e a origem da rivalidade, ambos os pais eram donos de olarias, fabricando tijolos, o que explica o título e provoca desavenças com destinos trágicos. A trama aborda questões de desejo, culpa, rivalidade familiar e a busca por identidade em um contexto de preconceito e tradição.
Na segunda parte, o filme explora as tensões da velha rivalidade e a força de um amor que luta contra todas as adversidades. Pássaro e Ângelo mergulham em uma relação homoafetiva que desafia o preconceito, a hostilidade e os próprios ressentimentos herdados da inimizade entre os pais.
A fotografia do premiado Bruno Polidoro, de filmes como “5 Casas(2020)” e “A Nuvem Rosa(2021)”, e a direção de arte de Pauliana Becker, apoiadas por uma trilha sonora que intensifica a atmosfera dramática, são pontos altos do filme, traçando um retrato visualmente expressivo do interior gaúcho, com seus rios e vegetação.
“O ambiente das olarias e as paisagens ajudaram a criar uma atmosfera atemporal, onde os conflitos familiares e os dilemas internos dos personagens encontram uma forte ressonância visual e emocional. Ao mesmo tempo, a inserção de elementos brasileiros e argentinos, tanto na trama quanto na produção, reforça a complexidade da narrativa e a riqueza desse diálogo cultural”— explica Angelisa Stein.
Outro ponto favorável de “Homens de Barro” é que ele caminha para a descentralização no cinema nacional e carrega uma forte sotaque gaúcho. O filme foi rodado nos bairros de Belém Novo, Restinga e Lami, zona rural de Porto Alegre, embora seja ambientado em uma pequena cidade, com todos os estigmas que esses povoados alimentam.
"Homens de Barro" é uma tentativa nobre de trazer para o cinema brasileiro uma história de amor que dialoga com uma tragédia clássica, mas com um olhar contemporâneo sobre identidades e preconceitos. Embora o filme tenha seus momentos de brilho, especialmente na direção visual, a narrativa carece de um pouco mais de desenvolvimento.
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