domingo, 2 de novembro de 2025

Segunda Chance (Brasil, 2025)


Há algo de encantador na simplicidade de “Segunda Chance”. Dirigido por Mauro Carvalho e Eduardo Albino, o filme parte de uma premissa familiar, o amor perdido e a possibilidade de recomeçar, para entregar um drama romântico queer de alma leve e coração sincero. Daniel (Caio Fliper), após uma briga no aniversário de relacionamento, acorda em uma realidade onde Alan (Luigi Calduch) nunca existiu ao seu lado. O que poderia soar como um conto fantástico sobre arrependimentos transforma-se, nas mãos dos diretores, em um olhar doce e nostálgico sobre as pequenas coisas que mantêm o amor vivo.

O universo paralelo de “Segunda Chance” é menos sobre o tempo e mais sobre a memória. Daniel vaga por um mundo que o reconhece, mas onde o toque, o cheiro e o riso de Alan desapareceram. O filme aposta na ideia de que o amor, uma vez vivido, nunca deixa de existir, apenas muda de forma. Há uma delicadeza especial em como a narrativa costura lembranças banais, um CD de Sandy & Junior, uma fotografia amassada, um bilhete esquecido, com emoções que atravessam o tempo. A beleza do filme está justamente nesses detalhes, nessas minúcias que definem o que é amar.

Carvalho e Albino, que já vinham explorando o amor gay em registros mais naturalistas, aqui apostam na leveza da comédia romântica, ainda que o filme por vezes peque em suas ambições de flertar com o místico e o realismo fantástico. O resultado é uma obra que se permite ser terna, divertida e emotiva sem precisar justificar seu afeto. A mise-en-scène, simples mas atenta, cria um equilíbrio entre o real e o imaginado, revelando o quanto o extraordinário pode habitar o cotidiano.

A química entre Caio Fliper e Luigi Calduch sustenta a narrativa e lhe dá alma. Juntos, constroem um casal verossímil, cujos gestos dizem tanto quanto as palavras. Em meio às idas e vindas do enredo, há humor, melancolia e ternura, e sexo, muito sexo, em uma combinação que aproxima “Segunda Chance” de um ideal raro: o de um romance queer que não se define pela dor, mas pela celebração do amor em si.

“Segunda Chance” fala sobre a importância de olhar para o passado não como prisão, mas como aprendizado. É um filme de limitações, mas também de coragem, que se pergunta o que significa amar quando o deslumbramento cede lugar à rotina e o que permanece é o cuidado. Uma comédia romântica sobre recomeços e reconciliações, sobre lembrar o essencial quando tudo parece perdido.

3 comentários: