“Two Black Boys in Paradise”, de Baz Sells, transforma um poema de Dean Atta em uma pequena epifania visual sobre amor negro e queer. Em nove minutos, a animação em stop motion reivindica a ternura como gesto político, construindo um romance entre Edan (19) e Dula (18) que se afirma no limiar entre o sensorial e o poético. O curta nasce como leitura cinematográfica do poema homônimo incluído na coletânea “There Is (Still) Love Here”, e preserva tanto sua cadência literária quanto sua pulsação política, traduzindo em textura, luz e movimento um desejo que recusa ser disciplinado pelo mundo exterior.
A trama acompanha Edan e Dula enquanto eles se aproximam, se tocam, se olham com a intimidade de quem descobre que o amor entre garotos negros também pode ser um lugar de alegria e orgulho. O “paraíso” do título não é uma geografia literal, mas um estado construído com a recusa da vergonha, onde homofobia e racismo perdem força diante do desejo de existir plenamente. Esse paraíso se revela no gesto simples de caminhar de mãos dadas em um mercado, uma cena que nasce de um episódio pessoal de Jackson e que se torna aqui um dos símbolos mais potentes de visibilidade pública.
Há fricção constante entre o mundo hostil e o espaço afetivo que eles criam, e o filme não suaviza essa tensão. A presença policial em uma das cenas reforça a vigilância direcionada a corpos negros queer, produzindo uma quebra de atmosfera que evidencia o peso dessas estruturas. Ainda assim, “Two Black Boys in Paradise” insiste em devolver a Edan e Dula o direito à sensualidade e ao prazer, incluindo uma cena sexual tratada com beleza e cuidado, fruto da decisão da equipe de não retirar dos personagens aquilo que tantos filmes ainda lhes negam.
“Two Black Boys in Paradise” é uma celebração carregada de sensibilidade política, onde a animação stop motion emerge como linguagem para imaginar liberdades ainda negadas. Ao transformar o poema de Atta em imagem, o filme oferece a Edan e Dula um lugar que tantas histórias lhes tiraram, um espaço de sonho, desejo e beleza que afirma que existir em amor também é resistir.


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