Por ser homossexual assumido, Rupert Everett, sempre esteve condicionado à personagens como o de melhor amigo gay, seja de Madonna, em Sobrou pra você, ou Julia Roberts, em O Casamento do meu Melhor Amigo. Toda a fama que construiu desde os anos 1990, o trouxeram até sua estreia na direção e roteiro de um filme sobre um histórico ícone LGBTQIA+.
O Príncipe Feliz faz alusão ao título dos contos que Oscar Wilde contava para seus filhos e que foi lançado como livro. Uma ironia, já que Everett, que ficou irreconhecível para protagonizar a obra, optou por mostrar a fase mais decadente do artista, os três últimos anos de vida, exilado na França, após ter sido preso por ‘sodomia’, na Inglaterra.
Com uma abordagem muito diferente do longa Wilde - O Primeiro Homem Moderno, de 1997, o filme mostra os mesmos personagens sob outro ponto de vista. Colin Firth, é Reggie, seu fiel amigo, Emily Watson, sempre impressionante, a esposa Constance, Colin Morgan seu amor e ruína, Alfred Bosie e Edwin Thomas, o eterno apaixonado, Robbie. O elenco conta ainda com as participações especialíssimas de Tom Wilkinson e da francesa Béatrice Dalle.
Com uma narrativa marcada por flashbacks, que mostram sua glória, ele agora está sofrendo constantes humilhações. Oscar Wilde, consistentemente interpretado pelo também diretor, está distante dos dias do sucesso de O Retrato de Dorian Gray, vivendo à margem da sociedade na Paris, do final da década de 19890, pedindo esmola nas ruas, usando drogas e promovendo orgias.
A obra em grande parte está inspirada em De Profundis, livro de cartas que Wilde escreveu na prisão e foi lançado postumamente. Os diálogos, sagrados e profanos, são poéticos e marcados por um certo sarcasmo. A construção do dramaturgo como um irresponsável e lascivo é absolutamente crível e cativante.
Guiado por provocações verbais, O Príncipe Feliz, é um filme que levanta uma bandeira, ainda que com poucas cenas de sexo ao mostrar o artista como um libertino. Esse filme, nos faz refletir o quanto a repressão aos homossexuais foi caótica, levando um gênio à sua total decadência, resultando em sua morte por meningite e sífilis, aos 45 anos.
Quantos vozes mais foram caladas em nome de uma falsa moral? Quantos artistas não puderam se expressar? Somente em 2017, a Inglaterra pediu perdão à Oscar Wilde e mais 50.000 homossexuais que foram presos, unicamente por sua natureza. Demorou, né?
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