A série é um retrato apaixonante e lúdico da história da Espanha, desde seu conservadorismo até a sua efervescente cultura POP, abordando sobretudo os bastidores da TV e da prostituição. Logo no primeiro programa temos Lola Dueñas, de Volver e Os Amantes Passageiros e Ester Exposito, de Elite e Alguém tem que morrer, como duas produtoras de um programa dos anos 1990, Mississipi.
A série conta a história do ponta de vista da ativista trans, Valéria Vega, autora do livro, ¡Digo! Ni puta, ni santa. Las memorias de La Veneno, e uma das personagens mais importantes, interpretada brilhantemente por Lola Rodriguez. Através desses relatos, a estética é construída, absolutamente poética e crua ao fotografar o submundo que transexuais estão fadadas.
Conhecemos a cena Trans espanhola a partir dos anos 1990, vemos como elas batalham, as gírias que usam, o quão autênticas são. Lembram das personagem Agrado, de Almodóvar? Pois é. Tem muita dessa autenticidade em Veneno.
Cada episódio se encontra definitivamente encerrado e independente. A série transgride a personalidade obscura de La Veneno à momentos kitsch, como a personagem Paca “La Piraña”, interpretada em sua fase mais velha, por ela mesma. O elenco trans se destaca com nomes de Lola Rodriguez, Isabel Torres, Daniela Santiago, Jedet Sanchez, entre tantas outras singulares coadjuvantes.
A história do pequeno Joselito vai se moldando desde que sai de seu pequeno pueblo, para poder ser livre, até ir lentamente construindo a figura de Cristina, que graças à TV foi uma das travestis mais queridas da Espanha, por sua personalidade explosiva. Ao mesmo tempo que vemos sua glórias nos anos 1990, também vemos sua decadência, que a levou a uma morte misteriosa, em 2016, pouco tempo depois do livro ser lançado. A personagem é interpretada por três diferentes atrizes, para caracterizar bem suas diferentes fases. Isabel Torres, que a interpreta mais velha é quem realmente dá show de interpretação, principalmente nas cenas em que passa pela cadeia.
Com destaque para o núcleo familiar, a relação com a mãe é insuportável, enquanto os irmãos a acolhem e isso principalmente irá transparecer no último episódio. A mãe é a típica figura ríspida que não aceita a homossexualidade do filho de jeito nenhum e entra em total negação quando descobre sua transexualidade. A trilha sonora com sucessos de Pet Shop Boys, Natalia Imbruglia, Javiera Parra, The Cranberries, Cindy Lauper, a própria Cristina 'La Veneno', e uma canção composta para a própria também é um deleite.
A série, de oito episódios possui uma ambientação impecável, com homens, luxo, glamour e muito silicone. O programa é necessário por trazer voz e representatividade à pessoas trans e consequentemente tolerância e respeito. Veneno é uma catarse transgênero que está disponível no Brasil, pela HBO Max.
Vou ver hoje mesmo
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