Pássaro Branco na Nevasca(White Bird in a Blizzard, EUA, 2014)

Gregg Araki fez algo diferente aqui. Ao adaptar o romance Pássaro Branco na Nevasca, de Laura Kasischke, o diretor conhecido por seu estilo único tem uma chance de explorar questões familiares de imagem corporal, despertar sexual e disfunção familiar extrema com sua marca registrada.

Enquanto o eloquente romance de Kasischke foi vagamente inspirado por uma história real, especulando sobre o súbito desaparecimento de uma dona de casa, a adaptação de Araki coloca o material em uma dimensão paralela estilizada, onde a filha adolescente da mulher deve adicionar esse evento traumático a sua já lotada lista de inseguranças adolescentes.

Kat (Shailene Woodley), de 17 anos, luta com sua transformação de desajeitada para uma sedutora. Com o bisturi puxado, Araki está efetivamente dissecando a mente do adolescente americano suburbano e, no entanto, em vez de fazê-lo em um laboratório branco estéril, ele conduz seus experimentos de amadurecimento em uma série de conjuntos de comédias em tons de batom

Na cena de abertura, Kat chega em casa da escola e encontra sua mãe, Eve (Eva Green, deliciosamente desequilibrada), sofrendo um colapso nervoso em sua cama. Alguns dias depois, Eve se foi completamente, desapareceu sem deixar vestígios.

A lógica policial apontaria para um ou dois suspeitos prováveis. Como este é um filme de Araki, no entanto, a explicação parece ser paranormal, uma impressão reforçada pelos sonhos assombrosos de Kat, nos quais ela imagina Eve deitada nua sob uma pilha de neve recém caída.

Kat está surpreendentemente perturbada com o desaparecimento de sua mãe. Os policiais a mandam para uma terapeuta (Angela Bassett), cujas consultas ajudam a descobrir pistas em exemplos recentes do comportamento cada vez mais errático de sua progenitora. Claramente, Kat não é a única perturbada por sua recente transição de garota atarracada para jovem desejável.

Sexualmente insatisfeita em um casamento sem amor (com Christopher Meloni), Eve se vê em Kat, não apenas invejando sua beleza emergente, mas indo tão longe a ponto de competir abertamente com sua filha.

Por alguma razão, insegurança, talvez, Kat resolveu dar sua virgindade a um neandertal de peito peludo chamado Phil (Shiloh Fernandez). Kat poderia fazer muito melhor, mas ainda não percebeu a extensão de seus novos poderes – o que explica sua perplexidade enquanto estuda seu próprio corpo desconhecido diante do espelho do banheiro.

Dada a atenção fetichista de Araki aos detalhes da superfície, ambientada na década de 1980, camisetas específicas da época e seleções de músicas inspiradas para os personagens adolescentes,  quando chega a hora de afirmar sua própria independência, Kat deve eliminar simbolicamente a mãe e seduzir a figura paterna – o que ela faz ao chegar ao ultra masculino Detetive Scieziesciez (Thomas Jane).

Ainda assim, mesmo depois que a solução está encarando-a de frente, Kat se agarra à sua própria ingenuidade, recusando-se a aceitar a verdade sobre seus pais. Sexualmente, ela está pronta para se tornar uma mulher, enquanto mentalmente, ela não consegue entender os segredos sórdidos de família, mesmo que a reviravolta de última hora explique praticamente tudo.