Dois homens brincam alegres numa bela praia deserta. É assim que começa Motel Destino, novo filme do diretor Karim Aïnouz. Nascido em Fortaleza, ele volta a filmar no Ceará após dez anos, para contar essa história carregada de desejo e tensão claustrofóbica. A aparente inocência da primeira cena é rapidamente quebrada quando, após uma conversa entre Heraldo (Iago Xavier) e seu irmão, um fuzil entra casualmente no quadro, revelando que os dois trabalham para a traficante Bambina (Fabíola Líper).
Mas Heraldo deseja deixar tudo para trás. A carreira no crime, a cidade e toda sua vida até então. Bambina ordena um último serviço, um último assassinato, e ele estará livre. Porém, uma noitada com uma desconhecida no Motel Destino põe as coisas a perder para Heraldo. Ele se atrasa, o plano dá errado e seu irmão acaba morrendo. Heraldo então se torna um fugitivo na cidade dominada por Bambina, e sua única alternativa é abrigar-se no próprio Motel Destino, sob os cuidados de seus proprietários, Dayana e Elias. O casal interpretado por Nataly Rocha e Fábio Assunção começa a envolver Heraldo em suas vidas, num jogo de controle e sedução que se torna cada vez mais arriscado.
O motel é um palco eficiente para essa trama. Um ambiente hipersexual, carregado de uma violência implícita, que se transforma aos olhos de Heraldo num misto de esconderijo e prisão. Um parque de diversões atraente e macabro, de onde ele não consegue escapar dos próprios pesadelos e lembranças. É notável como a fotografia de Hélène Louvart ressalta isso, com cores gritantes que, ao mesmo tempo em que celebram a beleza natural da costa cearense, concedem uma artificialidade bizarra e asfixiante para o motel, embalada pelo som quase incessante dos gemidos de seus clientes.
Esse conflito entre o artificial e a natureza, entre o humano e o animal, está sempre presente. Elias cria vários animais na propriedade, e a vida selvagem da área está sempre invadindo o motel. Isso chega ao ápice na resolução da narrativa. Resolução essa que, infelizmente, é um pouco apressada e anticlimática, ao mesmo tempo em que o texto do Karim Aïnouz acaba entregando diálogos didáticos e nada sutis. Essa perda de força no final, aliando-se a uma linguagem audiovisual neutra e monótona, resulta num filme que poderia exigir mais de seu público e de si mesmo.
Ainda assim, o verdadeiro forte aqui é o trabalho incrível de todo o elenco, permeado por atuações entregues ao físico, que aliam o emocional com o corporal. É, afinal, uma história de sexo e violência, contada habilmente pelos corpos dos atores. Especialmente Fábio Assunção, que cria em Elias um personagem à primeira vista carismático e atraente, mas que vai revelando camadas mais repulsivas. Obcecado pelo controle daqueles ao seu redor, ele se torna cada vez mais inseguro e destrutivo ao perdê-lo. E é sua relação com Dayana e Heraldo, mediada por desejo e raiva latentes, que prende os olhos do espectador. Como um voyeur espiando um quarto de motel.
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