quarta-feira, 28 de agosto de 2024

O Inquilino (Le locataire, França, 1976)

Esta adaptação cinematográfica de Le Locataire Chimérique, de Roland Topor, é o terceiro filme do que ficou conhecido como a trilogia do apartamento de Roman Polanski. Os outros dois são Repulsa ao Sexo(1965) e O Bebê de Rosemary(1968). Além do medo crescente no personagem principal, a outra semelhança é que esses três longas são em grande parte ambientados em um ambiente claustrofóbico. Polanski sempre negou que quisesse fazer uma trilogia, mas as semelhanças são inconfundíveis: paranoia, alienação, sexo, psicose, realidade subjetiva e moradias apertadas.

Trelkovsky, interpretado pelo próprio Polanski, é um funcionário de escritório nascido na Polônia que precisa constantemente lembrar às pessoas que ele é um cidadão francês. A escassez de moradias em Paris é enorme, então ele se sente muito agradecido por poder ter o apartamento em ruínas da egiptóloga Simone Choule, ainda não falecida, porque ela pulou da janela alguns dias antes.

O fim de seu coma marcaria o início de sua nova vida. Ele vai ao hospital e encontra Stella (Isabelle Adjani), uma amiga da garota. Como Stella é uma mulher atraente, Trelkovsky finge conhecer Simone, que está totalmente enfaixada, com a intenção de se aproximar de Stella. 


O filme estabelece um modo duplo de identificação. Primeiro, ele gradualmente assume as qualidades psicóticas da mulher que morava no apartamento e tentou suicídio. Então experimentamos sua lenta desintegração, observando impotentes as forças opressivas - seu amigo (Bernard Fresson), a concierge (Shelly Winters), o senhorio (Melvyn Douglas), a mulher do outro lado do corredor - intimando-o de maneiras abertas e sutis e fazendo com que ele se retire para outra identidade.


Mesmo que hoje sua abordagem fosse considerada problemática, a beleza de todo o horror gótico na obra de Polanski é que você sempre tem a sensação de que ele tenta rir disso. Aqui, é especialmente quando Trelkovsky começa a se vestir como Simone e descobre seu lado feminino, que a obra se torna ainda mais sombria.

O Inquilino é uma fantástica ilusão paranoica, é uma experiência crua e intensa, uma jornada de pesadelo para o inconsciente. Não há necessidade de terror físico, o verdadeiro horror é todo psicológico; a linha tênue entre realidade e loucura.




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