segunda-feira, 12 de agosto de 2024

O Amor não tem Sexo (Prick Up your Ears, Reino Unido, 1987)

 

O longa, de Stephen Frears, é sobre o dramaturgo Joe Orton (Gary Oldman) e principalmente sobre o relacionamento que ele teve com seu parceiro Kenneth Halliwell (Alfred Molina) e como sua carreira influenciou esse romance. Enquanto Orton se torna cada vez mais bem-sucedido, Halliwell permanece involuntariamente preso no papel de assistente pessoal. Essa desigualdade coloca a relação entre os dois no limite.

Após o brutal assassinato de Orton, sua ex-agente (Vanessa Redgrave) conta a história de vida deste extraordinário escritor do ponto de vista dela e com a ajuda dos diários que ele deixou para trás. O roteiro de Alan Bennett baseia-se fortemente nos diários de Orton, eles próprios repletos de citações de Halliwell, entregando uma linha espirituosa após a outra sem nunca perder o controle da história humana.


Depois de Minha Adorável Lavanderia, de 1985, o filme confirmou o talento de Stephen Frears, uma grande revelação do cinema britânico nos anos 80. Se o diretor estava associado à descrição da classe trabalhadora de seu tempo, ou seja, da era Thatcher, aqui ele abandona esse meio para pintar um universo mais burguês, embora o personagem de Orton venha do proletariado. O  coração da história mergulha nos anos 50 e 60, décadas de transição em termos morais, mas que começou com uma rigidez de convenções sociais que não se encaixava bem com o estilo de vida libertário de dois homens.


Como acontece com todas as grandes tragédias dramáticas, sua potência não vem do horror de seu final, mas da inevitabilidade desse final. A incapacidade de Joe de perceber plenamente a desintegração emocional de seu parceiro Kenneth Halliwell, juntamente com a crueldade acidental do egoísmo que fez Halliwell se apaixonar por ele em primeiro lugar, impulsiona o par em uma espiral em direção à destruição.


A elegância da fotografia, o cuidado tomado na reconstrução da época, Gary Oldman, Alfred Molina e Vanessa Redgrave lideram o caminho para fazer de O Amor Não Tem Sexo, um verdadeiro filme manifesto pela igualdade de direitos, marcado por um desejo de revolta, de rejeitar convenções, hipocrisia e falsa propriedade da política seguida por Margareth Thatcher.


Tudo isso contribui para um filme biográfico sombrio maravilhosamente trabalhado, mas igualmente cômico, que, ao documentar realisticamente a vida e a morte brutal de John Kingsley Orton, também é um testemunho cinematográfico da cena gay dos anos 60, já que o desejo desenfreado de Orton por sexo casual destaca o underground do período, ou seja, uma época em que a homossexualidade não era apenas ilegal aos olhos da lei, mas ainda considerado pelo público como um tabu social repugnante. 



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