terça-feira, 26 de agosto de 2025

Aiden (Reino Unido, 2024)

Carl Medland, conhecido por seus experimentos no cinema de gênero independente e de micro-orçamento, entrega em “Aiden” um filme inquietante que parte de uma premissa dura: a experiência de um homem preso em um relacionamento abusivo e violento. O protagonista, interpretado pelo próprio Medland, busca escapar da teia de manipulação e agressões de Ivan (Ivan Alexiev), mas acaba mergulhando em um tratamento experimental que mistura confinamento, privação e a promessa de cura emocional.

O roteiro não foge da dureza do tema, mas encontra no horror psicológico uma via de amplificação. A escolha por filmar em cenários restritos, muitas vezes com enquadramentos claustrofóbicos, reforça a sensação de isolamento e paranoia que Aiden vivencia. A atmosfera é reforçada por uma fotografia simples e crua, aparentemente filmada em dispositivos de baixo orçamento, o que contribui para uma textura etérea e ansiosa.


Apesar da limitação técnica, Medland demonstra domínio do gênero. Ele sabe dosar os sustos, introduzir elementos queer e, sobretudo, manter o público em alerta constante, entre a dúvida do real e do imaginado. Essa habilidade já se evidenciava em trabalhos anteriores como “Paranormal Farm”, mas aqui se alia a uma narrativa de maior densidade emocional, que busca falar também sobre masculinidade tóxica e o silêncio em torno da violência doméstica em relações entre homens.


O pequeno elenco funciona de maneira eficiente dentro dessa proposta. Ivan Alexiev compõe um antagonista convincente, sedutor e ameaçador, enquanto Darren Earl Williams, como o excêntrico Dr. Williams, adiciona uma camada desconfortável e ambígua à história. Medland, por sua vez, entrega uma performance contida, que reforça o aspecto vulnerável de seu personagem, e que se torna chave para a empatia do espectador.


Outro ponto relevante de “Aiden” é sua inserção dentro da representação queer no cinema de gênero. Ainda são raros os filmes que exploram relações homoafetivas em contextos de abuso e toxicidade sem reduzir seus personagens a caricaturas. Medland busca um olhar mais direto e honesto, ainda que inserido em um universo de horror, e com isso amplia a representação LGBTQIA+ na tela.


“Aiden” se equilibra entre o bizarro e o humano, entre a precariedade técnica e a sinceridade autoral. Pode não agradar a quem espera uma produção polida, mas cumpre seu papel como cinema outsider: inventivo, experimental e inquietante. É, acima de tudo, uma obra que prova como Carl Medland transforma restrições em estilo, criando um filme de terror pequeno em escala, mas intenso em impacto.

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