domingo, 31 de agosto de 2025

Mariliendre (Espanha, 2025)

"Mariliendre", produção de Los Javis, segue Meri Román, uma ex-diva da vida noturna gay de Madri, a famosa ‘mulher bicha’, que aos 35 anos já não carrega mais o brilho do passado. Rainha destronada, ela vive atormentada por lembranças e entediada em um presente medíocre, até que a morte de seu pai a força a encarar sua própria identidade.

O retorno de Meri à cena madrilenha é retratado como uma volta a um baile para o qual já não foi convidada. Entre reencontros e memórias, ela revive os dias em que dançava sob as luzes de néon da Chueca, famoso bairro queer da capital espanhola, cercada de amigos excêntricos, enquanto no presente esses mesmos companheiros agora são adultos cansados, equilibrando contas e sonhos desbotados.


A narrativa se desdobra em dois tempos, o passado vibrante e o presente desencantado, criando um retrato da passagem do tempo na comunidade queer. Cada episódio se estrutura como um número musical, onde hits espanhóis dos anos 2000 são reimaginados em arranjos eletrônicos e coreografias inspiradas no voguing, funcionando como um espelho para falar de perda, identidade e reinvenção.


Com criação de Carmen Aumedes, Camila Caballero e Javier Ferreiro, a série aposta em uma estética que mistura excessos e melancolia. O passado é filmado com cores fúcsia intensas e energia de karaokê visual, enquanto o presente assume tons apagados, como se Madri tivesse perdido seu brilho. Mesmo com transições confusas ou coreografias que se alongam, há charme em sua imperfeição.


O elenco reforça esse contraste entre brilho e desgaste. Blanca Martínez dá vida a Meri com arrogância e fragilidade, personificando uma rainha de papelão. Omar Ayuso, carismático como Luis, equilibra humor e força, enquanto Martín Urrutia traz delicadeza a um personagem que merecia mais espaço. A trilha sonora, figurinos e ambientação contribuem para a sensação de mergulho em uma memória coletiva queer.


Em sua essência, Mariliendre é uma carta de amor a uma geração que encontrou liberdade no anonimato da noite e família nos clubes. A série erro com subtramas frágeis e músicas que soam repetitivas, mas o coração pulsa forte. É uma obra sobre como continuar dançando quando a pista parece vazia, lembrando que, para Meri e sua comunidade, parar nunca foi uma opção.


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