Alexis Langlois estreia em longa-metragem com um musical que é ao mesmo tempo audacioso, exagerado e profundamente queer. A narrativa acompanha o romance turbulento entre a doce estrela pop Mimi Madamour (Louiza Aura) e a icônica punk Billie Kohler (Gio Ventura), narrado pelo alter ego digital glamuroso Steevyshady (Bilal Hassani). A estética camp, por vezes quase delirante, exibe uma saturação visual que funciona como afirmação política, ocupando, visibilizando e celebrando as narrativas queer em sua máxima intensidade. Esse manifesto visual dialoga com clássicos como “Jubilee”, de Derek Jarman, e “Velvet Goldmine”, de Todd Haynes. É como se Jacques Demy tivesse tomado um café fortíssimo com “Hedwig and the Angry Inch” e decidido fazer um sci-fi pop-punk cantado até o último decibel.
No centro dessa explosão visual está “uma história de amor apaixonada e conflituosa”, um relacionamento que atravessa décadas, da glória televisiva de Mimi até o universo underground de Billie. O recurso à estratificação temporal (de 2005 a 2055) revela a evolução cultural e social da identidade queer, mas mantém uma ambiguidade poética entre o pop mainstream e o punk marginal, nunca deixando de lado a intensidade melodramática.
Embora o excesso seja parte da marca registrada de Langlois, é nos momentos sensoriais, como os números musicais ou as sequências em que a câmera adota a perspectiva subjetiva, que o filme encontra sua força. Cenas como a aproximação de Mimi e Billie durante um show, quando o mundo ao redor se dissolve em pulsação, ou a explosão dos fãs que as separa no palco, mostram a habilidade do diretor em harmonizar estética e emoção sem cair na mesmice.
Além do dramalhão musical, “Les Reines du Drame” apresenta um olhar crítico sobre o star system, o fandom exacerbado e o papel das redes sociais na construção de identidades. A cultura pop é ressignificada sob uma perspectiva queer, o kitsch, o “has-been” e o artificial são reafirmados como símbolos de resistência e pertencimento.
O filme costura influências de Brian De Palma, “Phantom of the Paradise” e “Body Double”, à tradição camp queer, passando por melodramas clássicos e chegando à ousadia de “Hedwig and the Angry Inch”, de John Cameron Mitchell. Também é possível sentir ecos dos curtas de Langlois, como “The Demons of Dorothy” e “Terror, Sisters”, em seu humor ácido e na construção de universos queer fantásticos. Essa mistura transforma o longa numa fábula pop-queer que transita entre subcultura e cultura de massa com desenvoltura.
Apesar da inventividade, há momentos em que a homogeneização estética suaviza os contrastes narrativos, o choque entre punk e pop, passado e futuro, mainstream e underground por vezes perde impacto na uniformidade visual. Ainda assim, o filme entrega um desfecho onírico e poderoso, com uma espécie de Éden subterrâneo de divas esquecidas, que sela brilhantemente o dilema de Langlois: a efemeridade queer diante dos sistemas dominantes. A participação de Asia Argento como Magalie Charmer é um presente extra para o público cinéfilo. “Les Reines du Drame” confirma que Langlois é uma voz inédita e necessária no cinema queer contemporâneo.
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