“Solids by the Seashore" marca a estreia em longa-metragem de Patiparn Boontarig. Ambientado em uma cidade costeira do sul da Tailândia, o filme constrói um universo sensorial onde o contraste entre estruturas rígidas, como os muros de contenção contra a erosão, e a fluidez da natureza refletem os dilemas dos personagens. A direção de Boontarig se dedica ao minimalismo emocional e ao lirismo visual em prol de uma narrativa contemplativa e atmosférica
A metáfora do muro, tanto físico quanto psicológico, é central na narrativa, a construção do mar, destinada a proteger, causa erosão em outro ponto, de forma semelhante, os muros internos que erguemos para nos proteger podem nos corroer por dentro. Essa analogia contínua entre meio ambiente e vida emocional confere ao filme uma dimensão universal, mesmo inserido em um contexto cultural específico.
O filme explora o enlace entre duas mulheres dentro de um ambiente tradicionalmente hostil a relações entre pessoas do mesmo sexo. A escolha de Boontarig de equilibrar esse tema delicadamente, “sem criticar, sem tornar tudo confortável demais”, faz parte de um esforço consciente de respeitar a subjetividade e o contexto, trazendo autenticidade ao conflito de Shati.
Na parte final, os contos fantásticos da avó de Shati começam a se manifestar no mundo real, seja através de fenômenos estranhos, seja como uma presença onírica, diluindo a linha entre sonho e realidade . O filme se fecha com uma ambiguidade proposital no destino de Shati, se ela se entrega a uma vida que busca segurança ou avança rumo à seu caminho.
"Solids by the Seashore" é um estudo delicado sobre restrições, pessoais, culturais, ambientais, e sobre os gestos que tentamos fazer para nos libertar. Com um ritmo contido, atua mais como uma memória poética do que como uma trama tradicional, e suas imagens persistem na mente como uma brisa que sussurra a necessidade de quebrar muros, de engolir ondas, de buscar sentido naquilo que nos une à natureza e aos desejos mais profundos.
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