quarta-feira, 27 de agosto de 2025

La Joya: Bad Gyal (Espanha, 2024)

 “La Joia: Bad Gyal”, dirigido por David Camarero, é um retrato pulsante que se move entre documentário e ensaio visual, tomando como epicentro a figura magnética da cantora e performer Bad Gyal. Mais do que uma biografia musical, o filme se estrutura como uma cartografia afetiva de uma geração que busca afirmar sua identidade através do corpo, da música e da reinvenção estética.

Camarero evita o caminho tradicional das cinebiografias e aposta numa montagem fragmentada, quase sensorial, que se aproxima do fluxo da cultura pop contemporânea. “La Joia: Bad Gyal” não explica, sugere. Não oferece respostas prontas, mas provoca o a mergulhar na intensidade de uma artista que encarna liberdade sexual, hibridismo cultural e resistência queer em um cenário global ainda marcado por estruturas patriarcais.


A escolha de Bad Gyal como musa e ponto de partida não é gratuita. Sua persona, construída entre o trap, o dancehall e a estética hiperpop, desafia fronteiras linguísticas, de gênero e de mercado. No filme, sua imagem explode em colagens visuais, performances e depoimentos que revelam tanto sua vulnerabilidade quanto sua força. O resultado é uma obra que entende o pop não como produto descartável, mas como espaço de revolução e afirmação política.


O queer aqui não está apenas na temática ou na figura retratada, mas na própria forma de filmar: cortes abruptos, sobreposições de texturas, um ritmo que se aproxima da pista de dança e da febre dos videoclipes. Essa estética fragmentária dá corpo à ideia de identidade como processo em constante transformação.


Há também no filme uma dimensão de manifesto, ainda que sutil. Camarero constrói um discurso sobre o direito de existir fora da norma, sobre o poder da música em criar comunidades e sobre a vitalidade das culturas marginais em redefinir o que entendemos como mainstream. Nesse sentido, “La Joia: Bad Gyal” ecoa trabalhos de cineastas queer que utilizam a linguagem audiovisual não só para documentar, mas para reimaginar o mundo.


A obra se revela como um mosaico de desejos, cores e sons, mais próxima de uma experiência sensorial do que de um simples registro. “La Joia: Bad Gyal” é um filme que pulsa no ritmo da rebeldia, da fluidez e da celebração.



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