“Terror, Sisters” é uma ode anárquica à rebeldia queer em sua forma mais direta e explosiva. Aqui, Alexis Langlois imagina um grupo de garotas trans e travestis que decidem tomar para si a narrativa, armadas, literalmente, contra uma sociedade que as quer invisíveis. Entre os protagonistas está o magnético Felix Maritaud (“Sauvage”, “120 BPM”), que empresta ao filme sua energia crua e vulnerável, criando um personagem que transita entre o humor e o tesão
O filme é um ataque frontal à complacência: rápido, sujo e sem tempo para concessões. Langlois filma como se cada take fosse o último, com cortes abruptos, música alta e enquadramentos que alternam entre a frontalidade teatral e closes sufocantes. É como assistir a um híbrido de Gregg Araki com um noticiário pós-apocalíptico transmitido de uma boate underground.
A estética visual é tão marcante quanto o enredo: cabelos coloridos, lábios metálicos, jaquetas de vinil e uma paleta cromática que pisca como um letreiro neon prestes a estourar. As ruas por onde as “irmãs do terror” passam parecem cenários de videogame, e o caos urbano vira pista de desfile para uma revolução performática.
O elenco inteiro entende que está numa ópera punk: as atuações são carregadas de humor ácido, olhar desafiador e entrega física. Há um prazer evidente em destruir símbolos normativos, seja pela palavra, pelo figurino ou pela encenação. Maritaud, especialmente, injeta uma camada de humanidade que impede o filme de ser apenas uma colagem de fúria, há dor real e desejo de conexão sob o verniz da anarquia.
O ritmo, embora caótico, é coreografado como um número musical que se recusa a acabar. Langlois sabe que o impacto vem do acúmulo: cada cor, cada grito, cada olhar para a câmera reforça a sensação de que estamos participando de um levante queer, mais do que assistindo a um filme. E é exatamente essa fusão entre estética e militância que torna “Terror, Sisters” tão necessário.
Ao final, ficamos com a certeza de que Langlois está criando não apenas filmes, mas pequenas bombas estéticas e políticas. “Terror, Sisters” é mais do que uma ficção: é um grito coletivo, um convite para que a arte queer abrace seu lado perigoso e incendiário.
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