quarta-feira, 20 de agosto de 2025

There's a Zombie Outside (EUA, 2024)

“There's a Zombie Outside”, de Michael Varrati, é daqueles filmes que brincam com as fronteiras entre o horror e o psicológico, o meta e o íntimo. O ponto de partida é simples: Adam, um artista frustrado, vai passar um fim de semana em uma cabana isolada, apenas para se ver cercado por conflitos pessoais, memórias dolorosas e, literalmente, por um zumbi espreitando do lado de fora. O que parece ser apenas mais um filme de terror rapidamente se transforma em uma reflexão profunda sobre identidade, fracasso e a própria criação artística.

Varrati estrutura a narrativa como um espelho distorcido, no qual realidade e ficção se confundem até se tornarem indiscerníveis. O resultado é uma imersão desconfortável, mas fascinante, em que o espectador nunca sabe ao certo se o que acompanha pertence ao plano da imaginação ou da realidade. Essa instabilidade, longe de ser apenas um truque estilístico, reforça o tema central: o medo não está apenas no monstro, mas no confronto interno com as expectativas não cumpridas.


O elenco é essencial para dar peso à trama. Ben Baur entrega uma performance cheia de nuances, explorando a vulnerabilidade de Adam, enquanto Ty Chen compõe Ollie com tensão e delicadeza. Juntos, constroem um casal sem meias palavras, sem ser apenas queercoded, mas explicitamente fora do armário, vivendo sua relação no centro da narrativa. Esse aspecto torna “There's a Zombie Outside” ainda mais relevante, já que rompe com a tradição de esconder ou sugerir a homossexualidade, algo tão comum no gênero.


Mas talvez o grande momento de transgressão seja a cena de sexo entre Adam e o zumbi, que ressignifica tanto a sensualidade quanto o grotesco. É icônica justamente por desestabilizar tabus: une desejo e repulsa, eros e morte, mostrando que, em “There's a Zombie Outside”, o horror nunca está separado da intimidade. Varrati cria aqui um gesto radical.


Apesar da curta duração, o filme não se perde na pressa, embora desperte a sensação de que poderia se expandir ainda mais em suas camadas mais absurdas, quase pulp. O trabalho de maquiagem do zumbi é notável, e sua presença, ainda que pontual, poderia ter sido explorada de maneira mais extensa, sobretudo porque funciona como catalisador do delírio que domina Adam.


No fim, “There's a Zombie Outside” é tanto um meta-horror quanto um drama existencial, uma obra sobre o terror de criar e sobre o medo de não realizar. É irônico, ousado e, acima de tudo, dolorosamente humano. Michael Varrati mostra aqui não só sua paixão pelo gênero, mas também sua habilidade de transformá-lo em um espaço de reflexão sobre identidade, arte e fracasso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário