quinta-feira, 21 de agosto de 2025

FEUD: Bette and Joan (EUA, 2017)

 

"Feud: Bette and Joan", de Ryan Murphy, revive a rivalidade lendária entre Bette Davis e Joan Crawford, explorando os bastidores de “O que terá acontecido a Baby Jane?”. A série questiona a construção da fama, o envelhecimento e o estrelato feminino numa indústria marcada pelo etarismo, glamour e manipulações veladas, temas pertinentes ainda hoje.

Susan Sarandon e Jessica Lange dominam a tela, transmitindo fragilidade, tensão e poder com precisão. O elenco de apoio, incluindo Catherine Zeta-Jones, Kathy Bates, Alfred Molina e Stanley Tucci, adiciona densidade dramática e com pequenas figuras como Mamacita (Jackie Hoffman), surge um humor ácido que alivia e humaniza a narrativa, obrigado, Ryan Murphy.

A narrativa fragmentada alterna drama tradicional com momentos de mockumentary, incluindo entrevistas e reimagniações de clássicos. A recriação de “A Malvada”, de “Almas em Suplício” e de cenas icônicas de “O que terá acontecido a Baby Jane?” evoca Old Hollywood, METACINEMA PURO. Figurinos, maquiagem PREMIADOS COM O EMMY, e cenários são meticulosamente recriados, refletindo um cuidado estético digno de prêmios. A forma que a série mostra como foi feita a cena icônica na praia, consolida o metacinema como um dos pilares da atração.

Desde o início, a rivalidade entre Davis e Crawford é palpável, reforçada pela trilha incidental, troca de farpas, pencas de cigarros, drinks e canções icônicas. A manipulação masculina é explorada por figuras como Robert Aldrich (Alfred Molina), o diretor do filme, e Jack L. Warner (Stanley Tucci), o chefão da Warner Bros, que alimentam o ódio e os conflitos entre as estrelas, transformando tensão em espetáculo público. Joan Crawford é tratada com mais camadas, oferecendo uma perspectiva mais complexa para quem odiou “Mamãezinha Querida”.


Na segunda metade vemos o lançamento de “Baby Jane” como um filme B, aclamado contra todas as expectativas. A personagem Pauline (Alisson Wright) surge como voz pioneira das mulheres no cinema. O episódio do Oscar é puro glamour e veneno, recriando 1963 com traições de Crawford que traumatizam Davis e com maior relevância de Olivia de Havilland (Zeta-Jones).

Já em final de carreira, Crawford brilha em “Almas Mortas”, transformada em diva trash, com direito a machado e participação de John Waters. Surge então a tentativa fracassada de repetir o sucesso de “Baby Jane” em “Com a Maldade na Alma”, culminando em ironia máxima com o letreiro Beba Coca-Cola e um processo para a rainha da Pepsi. O encerramento é agridoce, com declínios televisivos, revelações íntimas e procedimentos estéticos, reforçando a atmosfera melancólica do mockumentary e encerrando a série como uma ode sombria, caótica e apaixonada a Hollywood.

Ryan Murphy demonstra talento ao transformar bastidores em narrativa fascinante. Parcerias recorrentes, como a presença de Sarah Paulson ou Alfred Molina (The Normal Heart), reforçam a continuidade criativa. A série destaca representatividade queer, especialmente na relação de Davis com Victor Buono (Dominic Burgess), incluindo cenas que exploram cinema pornô e a polícia da época, simbolizando os segredos do armário de Hollywood, universo em que Murphy se renderia brevemente em uma série homônima.

"Feud: Bette and Joan" combina estudo de personagem, crítica social, atuações gigantes e homenagem histórica. Ao equilibrar drama, ironia e tensão familiar, a série revela os mecanismos da fama e do ódio em Hollywood, reafirmando o legado de Davis, Crawford e Baby Jane, e mostrando que rivalidade, genialidade e humor ácido podem caminhar lado a lado. É sombria, melancólica, mas também um tributo vibrante ao cinema e às mulheres que ajudaram a moldá-lo.

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