sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Shadows in Mind (EUA, 2023)


Desde os primeiros minutos, "Shadows in Mind" impressiona por sua escolha narrativa: um thriller psicológico que se desenrola quase exclusivamente por ligações em linha de apoio LGBT, alternando com flashbacks que revelam os eventos que levaram à crise. Dirigido por Mark Schwab, "Shadows in Mind" acompanha Simon, operador de linha direta LGBTQ, que se torna cínico até Danny ligar, prometendo matar outros antes de si. Traição, dark web e relacionamentos perigosos alimentam um thriller tenso e introspectivo.

A atuação de Corey Jackson e Christian Gabriel confere uma intensidade comedida que serve ao tom do filme, rompendo com o esquema exagerado frequente em thrillers. Em vez disso, os diálogos são pontuados por pausas que falam tanto quanto as palavras, e a alternância entre o tenso ambiente do call center e os fragmentos de memória que explicam Danny permite que a trama se revele de forma orgânica e gradual.


Esta escolha estética reflete uma tendência crescente no cinema queer contemporâneo, onde thrillers e obras de gênero ganham protagonismo ao tratar a experiência LGBTQ+ com nuance e profundidade. Filmes como "Femme" (2024), de Sam H. Freeman e Ng Choon Ping, apostam num thriller de vingança carregado de trauma, desejo e ambiguidade moral Mas com "Shadows in Mind", utiliza a introspecção e mecanismos bastante específicos de gênero para tecer sua narrativa queer, ampliando o espectro do que se espera do cinema nessas fronteiras.


A fluidez narrativa e o foco emocional de "Shadows in Mind" ressoam bem com a proposta de um thriller. não se trata apenas de representação, mas de usar o suspense como plataforma para explorar questões complexas do afeto, da invisibilidade e dos riscos que circundam a comunidade queer. Ao contrário de thrillers convencionais, "Shadows in Mind" não disseca apenas o medo externo, mas sobretudo o conflito interno, o que faz a proposta ser tanto um suspense quanto uma elegia.


Ao comparar com "Femme", que desafia expectativas ao transformar um ataque em relação ambígua e carregada de tensão, vemos uma convergência temática: o thriller queer não precisa seguir os tropos de redenção ou justiça, mas pode funcionar como estudo de personagens em conflito, ressignificando estética e moralidade."Shadows in Mind", com seu minimalismo narrativo, destaca-se por fazer muito com pouco, a crise, a violência, o silêncio, tudo isso se transforma em densidade narrativa.


O longa encontra sua força na simplicidade e no foco emocional. Marcado por uma abordagem sóbria e respeitosa da experiência queer, o filme confirma que o thriller LGBTQIA+ contemporâneo não precisa de espetáculo, mas de caráter e criatividade. Como parte desse movimento recente, ele reforça a relevância de histórias que utilizam a tensão para iluminar dilemas pessoais e coletivos. 


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