Edy Star não foi apenas pioneiro do glam no Brasil, foi um caleidoscópio de expressões artísticas e representatividade baiana. O documentário, de Fernando Moraes, traça sua história com estrutura clássica, que mescla imagens de arquivo, fotos e a voz do próprio artista, além de depoimentos potentes de Rogéria, Jane Di Castro, DJ Zé Pedro, Caetano Veloso, Zeca Baleiro e Maria Alcina, formando um retrato íntimo e coletivo.
A naturalidade com que Edy aborda sua sexualidade, abrindo até mesmo seu arquivo pessoal de fotos de homens, expõe o quanto ele foi à frente do seu tempo. Caetano, ao recordar, comenta com humor: “Era como um gay assumido, só que em 1958” , e ri. Essa sinceridade transborda nas telas, tornando visível a Bahia como berço de coragem e arte queer desde cedo.
A montagem inteligente conecta seu rock’n’roll irreverente à explosão tropicalista e à força iconoclasta de Raul Seixas, além de evidenciar sua rara presença na indústria fonográfica e consistência nos palcos noturnos. Edy transitou do sucesso público na Praça Mauá e Ipanema até sua consagração em boates como a Gayfieira, firmando-se como artista da noite.
O filme celebra performances emblemáticas, como Edy cantando com Zeca Baleiro no estúdio, e exibe sua presença em “The Rocky Horror Picture Show" e programas da Globo. Mas não se permite romantizar: aborda também o impacto devastador da epidemia de AIDS no declínio de sua carreira, compondo um retrato em que brilho e tragédia se entrelaçam.
Mesmo sem citar temas como o uso de drogas, o documentário pulsa com ecos de suas experiências internacionais, sua temporada na Espanha, palcos e fotos ao lado de Almodóvar e Rossy de Palma , que ele mesmo referencia no filme ao interpretar “Soy lo Prohibido”. A retomada com Cabaré Star (2017) reafirma sua vitalidade e a justiça de sua reinvenção como artista queer rarefeito.
“Antes que me esqueçam, meu nome é Edy Star” é mais do que uma homenagem: é uma aula de música, uma lição de vida e um passeio enérgico pela contracultura brasileira. O filme celebra uma era underground marcada por irreverência, que vai da Bahia ao mundo, reafirmando Edy como arquétipo queer brilhante e resistente. Ao abraçar sua própria história com irreverência e gerar memória, o documentário resgata sua presença em tempo real, em vida. O artista faleceu em abril de 2025, após o lançamento do filme no Festival Mix Brasil.
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