segunda-feira, 15 de dezembro de 2025
Vanilla (Reino Unido/Espanha, 2025)
"Vanilla" acompanha Bastien (Yann Gael) e Matt(Gabriel Winter), um casal gay interracial que viaja a Barcelona para tentar reparar a relação abalroada pela recente infidelidade de Bastien com uma mulher, mas a chegada de Florent(Jack Hamilton) complica o processo de reconciliação e expõe fissuras emocionais que a cidade e o sol não conseguem curar. O filme, escrito e dirigido por Joseph A. Adesunloye, trabalha com um dispositivo de intimidade reta, duração contida e uma geografia pop, Barcelona, que funciona tanto como refúgio quanto espelho das tensões do casal.
Em vez de dramatizar a traição como escândalo moral, "Vanilla" manipula o triângulo afetivo para estudar confiança, desejo e racismo afetivo dentro de uma relação queer interracial. A infidelidade com uma mulher gera uma crise sexual e identitária em Matt, tornando-o objeto e sujeito de um conflito que atravessa expectativas sobre monogamia queer, performance de masculinidades e o lugar do desejo fora de rótulos simples.
Adesunloye opta por uma economia narrativa: 76 minutos que privilegiam cenas pequenas, recriminações de baixo volume e encontros fortuitos que ganham espessura. Essa concisão é virtude e limitação, pois a compressão garante intensidade mas também deixa certas motivações menos trabalhadas , especialmente a transição emocional de Bastien após a traição. Ainda assim, o roteiro (assinado por Adesunloye e o ator Gabriel Winter) acerta ao transformar pequenos desvios (um olhar, um gesto, um telefonema) em motores dramáticos, mantendo o espectador dentro da subjetividade de Matt.
A direção de Joseph A. Adesunloye mostra sensibilidade para o íntimo e para o uso do cenário urbano como contraponto emocional, Barcelona aparece como clima e personagem,, além de privilegiar composições que deixam o corpo falar. Em contrapartida, a economia temporal e a modulação afetiva às vezes convertem potenciais arcos em pulsações interrompidas; o filme ganha em intensidade porém perde alguma densidade analítica sobre as implicações sociais da traição.
"Vanilla" é um estudo contido sobre os limites da confiança num casal gay interracial, filmado com delicadeza e alguma severidade estética. Não se trata de um tratado sociológico, mas de um filme de observação que prefere a micropsicologia dos gestos à explicação temática ampla. A obra confirma duas tendências produtivas: o interesse por narrativas íntimas que problematizam a monogamia e o uso de espaços turísticos (Barcelona) como espelho paradoxal do desejo. Como quebra-cabeça afetivo, "Vanilla" funciona, nem sempre perfeito, porém relevante, e representativo de um autor disposto a trabalhar a tensão entre o público e o íntimo.
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