sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Strange Journey: The Story of Rocky Horror (EUA, 2025)

50 anos depois de seu lançamento, “Strange Journey: The Story of Rocky Horror”, de Linus O’Brien, retorna às origens mais íntimas e explosivas de “The Rocky Horror Picture Show”, reconhecido como o maior filme cult de todos os tempos. Com acesso privilegiado ao legado criativo de seu pai, Richard O’Brien, o documentário funciona como uma viagem afetiva às engrenagens do musical teatral que, antes de virar fenômeno cinematográfico, já chacoalhava plateias com humor ácido, erotismo desobediente e uma desinibição performática sem precedentes. 

As entrevistas centrais do filme com o diretor Jim Sharman, Tim Curry, Susan Sarandon, Barry Bostwick, Patricia Quinn, Nell Campbell e Lou Adler oferecem a espinha dorsal emocional do documentário. Há brilho nos olhos, risadas nostálgicas, espantos renovados. O retorno de Peter Hinwood, o Rocky do filme, ainda em rara aparição, adiciona valor histórico precioso. Trixie Mattel e membros do shadow cast contemporâneo ilustram a passagem de bastão entre gerações, mostrando como Rocky Horror segue sendo catalisador de identidades e libertações pessoais.


A relação entre Linus e Richard O’Brien, que relembra com detalhes como o filme nasceu no teatro, dá ao filme uma camada adicional, quase confessional. A narrativa é atravessada por afeição intergeracional, criando o contraponto ideal ao caos criativo dos anos 1970. Richard compartilha inseguranças antigas, o processo de montagem das letras, as pressões de produção e a forma como o personagem Riff Raff funcionava como extensão de seus próprios conflitos internos. Essa intimidade faz do documentário uma homenagem carregada de afeto, sem perder o rigor histórico.


“Strange Journey” adota um tom celebratório, mas não ignora a ressonância sociopolítica de Rocky Horror. O filme sublinha a força radical de sua abordagem de gênero e sexualidade, dignificando corpos queer, múltiplas expressões de desejo e uma estética camp que se tornou, ao longo das décadas, linguagem própria de resistência. Mesmo sem mergulhar profundamente em conflitos ou polêmicas críticas, o documentário reconhece o lugar do musical como ruptura queer duradoura, ferramenta de identificação para quem cresceu à margem.


O documentário destaca, ainda, porque Rocky Horror se tornou um evento interativo irreproduzível. As projeções em cinemas mundo afora, o ritual de performance, o grito coletivo “Don’t dream it, be it” e a mistura improvável de horror, desejo e humor criaram uma comunidade global que sobrevive ao puritanismo e ao conservadorismo cultural. Linus filma essa devoção com ternura, sem distanciamento sociológico, assumindo que a celebração também é terapia.


“Strange Journey: The Story of Rocky Horror” funciona como registro definitivo e declaração de amor. Frequentemente alegre, sempre reverente, o documentário reafirma a importância do musical como espaço vital para corpos queer, artistas outsiders e fãs que encontraram ali permissão para existir. Em 90  minutos de vibração, afeto e memória, o filme demonstra que Rocky Horror não é apenas um espetáculo, mas um modo de vida que continua a se expandir!

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