“The Red Envelope” encontra em Chayanop Boonprakob uma direção que abraça o excesso como virtude e transforma o remake tailandês em algo mais expansivo que o taiwanês “Um Romance do Além” (2022). O diretor investe em ritmo pulsante, timing cômico ajuizado e uma sensibilidade queer que amplia o impacto emocional da história.
A trama segue Menn (Billkin Putthipong Assaratanakul), um ex-assaltante agora informante policial, cuja vida implode quando ele pega um envelope vermelho e passa a ser o noivo sobrenatural de Titi (PP Krit Amnuaydechkorn), um jovem gay morto sob circunstâncias suspeitas. A dupla mergulha na investigação do assassinato, atravessando máfia, corrupção policial e a figura ambígua da policial Goi (Arachaporn Pokinpakorn), o grande amor de Titi.
A presença de Titi não é caricatura ou escada cômica e sim motor narrativo. O filme celebra uma masculinidade afetiva que se expande quando Menn confronta seus próprios preconceitos. A dinâmica hétero-vivo e gay-fantasma produz um jogo que desmonta normas de gênero e reposiciona a comédia cinematográfica tailandesa no campo da representatividade.
Boonprakob opera em estética maximalista, investindo em sequências musicais delirantes, efeitos sobrenaturais de slapstick e cenários que oscilam entre o kitsch e o noir. A marca do estúdio GDH 559 aparece no polimento técnico, na energia pop e no talento para transformar caos em espetáculo. A trilha mescla batidas eletrônicas com baladas melancólicas, acentuando ritmo sem perder o coração da narrativa, sempre atento à química entre Billkin e PP Krit, um dos maiores atrativos do filme.
Essa transposição cultural ganha contornos ainda mais nítidos na aposta de Boonprakob em números musicais extravagantes e em um ritmo frenético que distancia a obra da ação policial taiwanesa. Ao escalar Billkin e PP Krit, a produção não apenas garante recordes de bilheteria, mas capitaliza sobre a bagagem extratextual da dupla para explorar a intimidade doméstica e o luto com uma naturalidade desarmante, transformando o sobrenatural em uma extensão orgânica, e por vezes hilária, da química que os consagrou.
Entre críticas à corrupção policial e reflexões sobre identidade queer, “The Red Envelope” propõe um cinema que concilia blockbuster e afeto, brincadeira e urgência política. A jornada de Menn e Titi reafirma a potência da cultura pop asiática em reinventar gêneros e elevar romances improváveis. O resultado é um filme divertido,
Nenhum comentário:
Postar um comentário