No Japão dos anos 1960, as transexuais passeiam pelas ruas enquanto chamam a atenção dos passantes. Ainda que o filme de Toshio Matsumoto, O Funeral das Rosas, trate a transexualidade com certa naturalidade, ele utiliza um caráter experimental, e que quebra os padrões da linguagem cinematográfica, tanto na direção de fotografia, como na montagem e trilha. Essa ruptura de gênero funciona como uma belíssima analogia para a vida trans.
Integrante da chamada New Wave do cinema japonês o filme traz referências à elementos contemporâneos à época como Nouvelle Vague francesa e Andy Warhol, mas também faz alusão à clássicos e trágicos como Shakespeare e Madame Butterfly. O filme transborda liberdade, autenticidade e energia.
O Funeral das Rosas, conta a história da jovem trans Eddie, que divide seu homem, o dono de uma boate, com outra transexual, Leda, enquanto vive noitadas com os amigos ao som de rock psicodélico, maconha e números burlescos. Em uma dessas reuniões chega até a aparecer um pôster dos Beatles. De maneira lúdica e alucinógena, o diretor constrói uma trama LGBTQIA+ atrevida, em pleno final dos anos 1960. Coragem e Representatividade definem!
Matushumoto ainda aplica a linguagem documental, com depoimentos(reais ou não) de várias pessoas falando sobre a vida trans, drogas, e expectativas para o futuro. Essas inserções acontecem em diversos momentos do filme, fazendo mais uma quebra do padrão cinematográfico.
Dentre os amigos, há um cineasta. Um filme dentro do filme surge, com imagens distorcidas, experimentais e uma música perturbadora. Temos aqui, um caso de metacinema, nessa colagem cinematográfica feita pelo diretor que até lembra o momento catártico de Persona, de Ingmar Bergman.
A beleza de Eddie é exaltada em diversos momentos, seja quando troca de perucas e parece uma legítima ninfeta, o que provoca a inveja de Leda, ou quando está numa festa onde todos ficam loucos e nus. A cena da briga entre Eddie e Leda é puro divertimento, digna de anime.
O desfecho de O Funeral das Flores é catártico e visceral. Em meio a tanta loucura o filme vai nos levando a caminhos sombrios é perturbadores. O longa deve agradar mais aos admiradores de arte, por seu apelo experimental, ousado e uma estética que eu diria, parece um clipe da Bjork.
Para Matsumoto construir Funeral das Rosas foi importante subverter as regras, assim como as transexuais daquela época faziam, e construir com uma infinidade de conceitos e elementos, um filme raro, único e vanguardista. Clássico total e absoluto da Cinematografia Queer.
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