quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Gotas d'água em pedras escaldantes(Gouttes d'eau sur pierres brûlantes, França, 2000)

François Ozon começou a carreira no início dos anos 1990, dirigindo curtas, na maior parte das vezes de temática LGBTQIA+. Após lançar o aclamado Sitcom, em 1997, se tornou um dos principais nomes do cinema francês lançando obras como 8 mulheres, Swimming Pool, Graças a Deus e o mais recente e badalado Verão de 85, onde volta a temática queer.

Em 2000, Ozon prestou uma homenagem à seu ídolo e grande referência cinematográfica, o diretor alemão Rainer W. Fassbinder, de Querelle, e adaptou a peça homônima escrita por ele aos 19 anos. Gotas D’água em Pedras Escaldantes resgata a essência de Fassbinder, pelo ponto de vista do cineasta francês.

Assim como outra peça de Fassbinder adaptado pelo próprio para o cinema, As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant, esse também se passa todo num apartamento, e dividido em 4 atos, conta uma história de desejo, traição, amor e morte.

Na Alemanha, dos anos 1970, conhecemos, no primeiro ato, Leopold, Bernard Giraudeau, um cinquentão que está tentando seduzir o belo e jovem Franz(Malik Zidi). O jogo de sedução logo faz efeito e eles acaba na cama realizando uma fantasia sexual, de um sonho narrado por Franz.

Mas a partir do segundo ato, quando o casal já não está se entendendo mais em quase nada, e Leo é agressivo enquanto Franz se torna submisso que a história começa a ganhar uma virada. Quase nada, porque na cama os dois se acertam, o terceiro ato inicia com a cena de sexo mais vibrante do filme.

Uma mulher aparece, Franz abre a porta e sem imaginar quem ela é, diz que Leopold está dormindo. Os diálogos são ácidos e teatrais, a entrada de Anna(Ludivinne Sagnier), a ex-namorada de Franz, e da trans Vera, ex de Leopold, transformam todo o ambiente e levam os personagens a expressarem seus desejos e entrarem em colapso.

A cena do quarteto dançando o clássico Tanze Samba mit mir é simplesmente icônica, um dos grandes momentos em meio a tantos planos e sequências belas, graças à direção de fotografia de Jeanne LaPoirie, que transforma a linguagem cênica do teatro em cinema.

Em meio a instantes  de paixão, raiva, submissão e loucura, Gotas d’água em pedras escaldantes é uma grande homenagem a Rainer W Fassbinder, um gênio que partiu tão cedo, uma bela obra com alma teatral, essência do diretor alemão e a identidade de François Ozon.



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