quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Girl(Bélgica, 2018)



Baseado em uma história real, o longa de estreia de Lukas Dhont, traz uma característica muito particular do cinema europeu, a de estampar o sofrimento de seus personagens, sutilmente ou não, com total maestria.

O filme conta a história de Lara, brilhantemente vivida pelo ator e bailarino Victor Polster, uma adolescente transexual que está prestes a realizar o processo de redesignação de sexo e começando com a hormonização. 

Se aproximando muito da linguagem documental para contar a história de Lara, o cineasta utiliza planos e enquadramentos que ressaltam o sofrimento da protagonista, que sonha em ser bailarina, mas seus ensaios estão lhe tirando as forças para a cirurgia.

O relacionamento com o pai, Arieh Worthalter, é incrível. Para uma jovem sem mãe, e com um irmão pequeno, ela tem todo o suporte familiar que precisa. Mesmo assim a agonia de viver em um corpo que não a pertence, impera. 


A direção fotográfica, de Frank van den Eeden, nos coloca como invasores do espaço de Lara, que se esconde para vedar o pênis e sofre com o bullying provocado pelas colegas de ballet. A propósito, as cenas de Lara dançando são lindas, sensíveis ainda que visivelmente dolorosas.

O incômodo que o filme causa é devastador e muito disso se deve a atuação de Victor Polster. O ator e bailarino, também estreante, conquistou o prêmio de interpretação da seleção “Un Certain Regard” no Festival de Cannes, em 2018.

A dor de Lara se estende até o espectador, não é preciso palavras nem diálogos para traduzir todo o sofrimento da personagem, que é uma garota como qualquer outra, só precisa entender isso. O final arrebatador é como um soco no estômago.

Girl, é uma produção sensível de imenso apuro estético. Uma obra com ótima trilha, fotografia, e que marca a estreia na direção de Lukas Dhont, que não deixa nada a desejar ao abordar um tema delicado, frágil mas ainda assim violento e necessário.



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