quinta-feira, 30 de setembro de 2021

No Caminho das Dunas(Noordzee, Texas, Bélgica, 2011)



O despertar sexual é uma parte importante da vida de todos. E assim, temos muitos filmes sobre o gênero. No Caminho das Dunas, do diretor estreante Bavo Defurne, baseado no romance de André Sollie, insere uma perspectiva diferente e vital, e se beneficia disso, através de um apurado senso estético e belíssimas referências.

Pim(Jelle Florizoone) é um adolescente que mora com a mãe em uma pequena cidade costeira da Bélgica. Na cena de abertura do filme, vemos uma versão mais jovem do personagem(Ben Van den Heuvel) por meio de sua crescente sexualidade, mostrando curiosidade na maquiagem e nas roupas de sua mãe.

Depois dessa sequência de abertura, pulamos para Pim prestes a completar quinze anos e há uma aparente mudança dramática no resto do filme. À medida que Pim está crescendo e embora ele ainda esteja curioso sobre seus impulsos sexuais, o mundo fica mais escuro e menos indulgente. A beleza mágica criada na infância se perde em tristeza, raiva (o tipo silencioso) e angústia. 


A maior parte do filme trata da relação entre Pim e Gino(Mathias Vergels), um menino mais velho que mora ao lado. Pim anseia por Gino, completamente obcecado, muitas vezes pensando em seus encontros anteriores e constantemente desenhando o rosto do jovem.


A admiração não deixa de ser correspondida, já que o relacionamento deles em várias ocasiões se torna físico, apesar do interesse de Gino em não se declarar gay. Para complicar as coisas, está a irmã mais nova de Gino, que tem uma queda por Pim e não entende por que ele não lhe dá mais atenção.

Com um olhar apuradíssimo para o design de produção e temas da juventude, o filme mostra forte inspiração em Os Incompreendidos(1959), de François Truffaut.  Muitos dos detalhes são semelhantes entre os dois filmes, desde mães promíscuas afastando seus filhos até momentos de catarse acontecendo nas praias.

O diretor pega muitas dicas visuais do histórico coming of age, dando ao filme uma aparência que quase só pode ser descrita como europeia. O visual do filme é o seu ponto forte, lindamente filmado e desenhado, com uma paleta de cores intensa.


No Caminho das Dunas é um filme sem dúvida silencioso, e isso funciona bem. A sutileza nas cenas de sexo é muito bem conduzida, e há um limite entre um certo voyeurismo e um bonito conto sobre o primeiro amor sempre acompanhado de uma delicada trilha sonora.

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Britney Vs Spears(EUA, 2021)


Ícone da música. Princesinha do Pop. Hitmaker. Legendária. Humana. O arrebatador documentário Britney Vs Spears, dirigido por Erin Lee Carr, para a Netflix, revela verdades obscuras sobre a tutela de Britney Spears até então nunca ditas.

O filme começa celebrando os momentos de glória do início da carreira da cantora, com suas performances icônicas até o fatídico relacionamento com Kevin Federline, que resultou em dois filhos e divórcio subsequente,  também indicou uma luta para obter os direitos de custódia. Percebemos que este evento que parece tão antigo serviu como catalisador, não apenas para Britney ser colocada sob a tutela de seu pai tóxico, Jamie Spears, mas também para ela se perder ao longo do caminho e cometer erros, como qualquer um.


A tutela é um arranjo feito pelo sistema legal em que uma pessoa com capacidade mental diminuída é colocada sob os cuidados, ou neste caso, uma gaiola, de um conservador: Jamie Spears. Um pai ausente e distante na vida de Britney, entrou com uma petição e ganhou os direitos de sua tutela ao lado de um advogado nomeado pelo tribunal (Sam Ingham) depois que Britney Spears, após diversos acontecimentos conturbados, teve um colapso e não liberou seus filhos para visitar seu pai, na hora designada pelo tribunal. O filme toma o cuidado, de em momento algum, mostrar a cantora em momentos notoriamente degradantes.

 

Por meio deste documentário, que conta com investigações da colaboradora e jornalista Jenny Eliscu, que desenvolveu um relacionamento com a artista e tentou inclusive ajudá-la clandestinamente, testemunhamos que a tutela que resultou em um circo midiático nos últimos 13 anos não foi nada mais do que uma espécie de modelo de negócios para Jamie Spears ganhar poder e controle sobre a vida da filha, seja financeira ou emocionalmente. Uma estrela icônica que foi fadada a uma mesada de $8.000 e precisava de permissão para sair de casa, mesmo que ela apenas quisesse visitar uma lanchonete .


Sob a tutela implacável, Britney Spears, foi diagnosticada com demência na mesma época em que estrelava programas como How I Met Your Mother, lançava Blackout, um de seus trabalhos mais celebrados, e logo depois foi colocada em turnês exaustivas como Circus e Femme Fatale.

Britney Vs Spears nos leva através das lutas da cantora que não consegue  se livrar das garras de seu pai e encontrar seu próprio espaço. É quase como se a letra de I’m Slave for You, tomasse forma e Britney se tornasse uma marionete para fazer os outros ganharem dinheiro às custas de sua liberdade e bem-estar mental. Essa história angustiante parece mais assustadora do que nunca porque, tudo o que vemos e aprendemos são coisas que aconteceram diante de nossos olhos.


É louvável que os criadores colocaram mais de 1000 páginas de documentos confidenciais, mostrando o quanto o caso é confuso, contraditório e tendencioso. O filme ainda abre espaço para os controversos Sam Lufti negando acusações de drogas e Adnan Ghalib tentando ajudar Spears em cada esquina do tribunal rejeitando os apelos de Britney de negar a tutela de seu pai repetidas vezes. É um trabalho árduo de trazer justiça a uma das maiores influências da indústria musical de todos os tempos e isso é um retrato muito comovente.

Entre os tantos depoimentos do filme estão o de um dos produtores do documentário On the Record, gravado para a MTV, na época de divulgação de Circus, e onde Britney solta um tocante “Estou Triste”. Já a ex-produtora, chamada para voltar a trabalhar com Spears na residência em Vegas, Felicia Culotta, se mantém omissa e não revela detalhes relevantes, deixando tudo nas entrelinhas. A cereja do bolo é a entrevista com o médico aposentado Jame Bar, um psiquiatra geriátrico, responsável pelo diagnóstico da artista.


A partir do cancelamento da nova turnê em Vegas, Domination, e o sumiço da cantora nas redes sociais, os fãs perceberam o grito de socorro e em seguida, junto de muitos outros artistas, iniciaram o movimento #FREEBRITNEY. Em fevereiro o The New York Times, lançou o igualmente importante Framing Britney Spears, mas agora a diva finalmente pôde ser ouvida no tribunal, e o filme termina de maneira extraordinária, transmitindo uma mensagem poderosa e nos enchendo os olhos d’água.

terça-feira, 28 de setembro de 2021

O que você Queer(Maricón Perdido, Espanha, 2021)



Maricón Perdido ou O que Você Queer, infame nome nacional, é uma produção original da TNT, de 6 episódios, de cerca de 25min. Criada e roteirizada por Bob Pop, famoso escritor e crítico espanhol, a série revisita suas memórias e conta uma bonita história de um homem superando suas diferenças para realizar-se na vida.

Um dos aspectos mais importantes da atração é que seu protagonista Roberto, interpretado na fase adolescente por Carlos González e na adulta por Gabriel Sánchez, é gordo, o que o leva a eventuais ataques de gordofobia e homofobia, além de uma quebra de padrão dos corpos revelados em explanações LGBTQIA+. A narrativa não linear, nos permite passear pela vida de seu herói e embarcar numa aventura lúdica, colorida, cruel, realista e repleta de referências à Cultura POP.

Uma irreconhecível Candela Peña, famosa atriz espanhola, de filmes como Tudo sobre minha Mãe(1999) e Peles(2017), interpreta a mãe de Roberto, e protagoniza momentos hilários de cleptomania. Já o pai(Carlos Bardem), nunca tem seu rosto revelado e isso representa a dificuldade dessa relação.

Seja cantando No Llores por mi Argentina na escola ou se aventurando por saunas e pegação em parques, Roberto sempre acaba envolvido em confusões. A amiga Lola, interpretada por Alba Flores, a Nairobi de La Casa de Papel, o acompanha e alegra sua jornada.

A trilha sonora traz nomes como David Bowie, Culture Club, Sinead O’Connor, Prince, Fangoria, Tom Waits, Rufus Wainwright, Dusty Springfield, Chavela Vargas, Everything but the girl, Aterciopelados e até, Caetano Veloso.


A atração mostra o desabrochar de Roberto para Bob Pop, um jovem gay, escritor e que no quarto episódio está discutindo com seu editor o livro Manso, onde novamente somos levados ao vapor e ao homoerotismo das saunas gays, com uma irreverente, porém obscura, subtrama.

A cultura espanhola é bastante valorizada, seja por diálogos que remetem à Pedro Almodóvar, que inclusive participa no último episódio, por obras de arte ou por ilustrar os pueblos e imagens de lugares icônicos de Madri, como o Parque do Retiro e o bairro gay, Chueca, onde Bob conhece Miguel(Ramon Pujol), com quem finalmente vive momentos de amor, afeto e prazer.

Maricona! Bicha! Viado! De volta à adolescência no último episódio, Roberto se masturba lendo The Naked Lunch, de William Burroughs, para em seguida passar por maus bocados quando vai com amigos ao cinema. Na sala ao lado de Duro de Matar, está passando Que fiz eu para merecer isso?(1984), de Pedro Almodóvar, e é nesse momento, que o personagem dá uma guinada em sua vida. A trilha do filme, estrelado por Carmen Maura, se unifica a série e temos um dos momentos mais belos da atração.

No final, Bob Pop é interpretado por ele mesmo, enfrentando problemas de saúde e se relacionando com artistas espanhóis como o já citado Almodóvar, onde numa entrevista na televisão fala como se identifica com as dores do protagonista de Dor e Glória(2019). Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas por Bob ao longo da série, e não são poucas, ele nunca é colocado numa posição vitimada.

Portanto, estamos diante de uma série que toca na ferida da sociedade onde mais dói. Por um lado, mostrando as reais consequências da falta de respeito que LGBTQ’s suportaram durante toda a sua vida, através de avaliações, conclusões, comentários, gestos e risos. A narrativa acompanha uma pessoa cujo propósito é ser quem ele é e buscar a felicidade. O que no final todos nós almejamos.

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

O Centro do Meu Mundo(Die Mitte der Welt, Alemanha/Áustria, 2016)

Baseado no romance best-seller de Andreas Steinhöfel, O Centro do meu Mundo, segue o adolescente gay Phil (Louis Hoffman), que retorna de um acampamento de verão para descobrir que sua mãe solteira não ortodoxa, Glass (Sabine Timoteo) e sua irmã gêmea Dianne (Ada Philine Stappenbeck), não estão não estão falando uma com a outra, mas ninguém vai dizer a ele por quê.

Quando ele retorna à escola, ele conhece o novo garoto Nicholas (Jannik Schümann), por quem ele imediatamente começa a se apaixonar. Inicialmente, Phil apenas observa sua nova paixão de longe, mas então Nicholas decide fazer uma jogada, e os dois começam a namorar e fazer sexo apaixonado. A melhor amiga de Phil, Kat (Svenja Jung), no princípio não tem certeza sobre esse recém-chegado, mas logo os três se tornam amigos.


No entanto, com Phil se apaixonando por Nicholas, ele pode estar ignorando que seu namorado pode estar vendo as coisas de uma forma um pouco diferente. Como podemos ver em flashbacks, Phil não teve uma criação típica e fantasmas do passado podem estar ressurgindo.

Filmes sobre adolescentes gays não são exatamente raros, mas este evita as maquinações de se assumir e, em vez disso, foca no primeiro amor, bem como nas questões familiares de uma criança agora tendo que agir como um adulto e uma mãe tendo que perceber suas ações descontroladas e suas repercussões.

Os dois lados do filme - o romance juvenil e a família problemática - às vezes se unificam. O romance é tratado melhor do que o lado familiar, principalmente porque os subenredos envolvendo a mãe e a irmã são mais complexos do que o filme tem tempo para lidar. Eles também são muito mais sombrios do que o que está acontecendo no lado romântico.


O diretor Jakob M. Erwa quer que vejamos tudo pelos olhos de Phil. Às vezes, ele leva as coisas um pouco longe - como música exuberante e uma visão literalmente cor de rosa na primeira vez que Phil vê Nicholas -  funciona muito bem, em parte porque faz essas coisas com um piscar de olhos e porque faz um ótimo trabalho do sentimento elevado da vida adolescente - uma época em que o amor parece abrangente e a dor emocional parece que acabou com a sua vida.

terça-feira, 21 de setembro de 2021

PAUSA BREVE

Informamos que essa semana, não por vontade própria, mas por motivos de força maior, não haverá atualizações no Blog, Instagram e Twitter. Voltamos na próxima semana com novidades. Later!

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Sex Education 3ª Temporada(Reino Unido, 2021)



Sex Education chega à sua terceira temporada mostrando que ainda há muita história para contar. Otis(Asa Butterfield) finalmente está transando, secretamente com Ruby(Mimi Keene), a garota mais popular da Escola Moordale. Eric(Ncuti Gatwa) está em um relacionamento com seu antigo algoz, Adam(Connor Swindells). Todos estão fazendo sexo ao som de Everybody Dance Now.

Todo mundo, menos Maeve(Emma Mackey). A personagem que teve o coração partido por Otis, está mais preocupada em relações familiares e curriculares, do que com a antiga “clínica do sexo”, que no passado ajudou diversos estudantes a se resolverem, além de causar algumas confusões.

Para limpar a imagem de “Escola do Sexo” entra em cena uma nova diretora, ironicamente chamada de Sra. Hope(Jemima Kirke). Suas ideias são ultrapassadas e retrógradas e vão totalmente contra o que Maeve, Otis e sua mãe Jean(Gillian Anderson), pregavam. Ela defende a abstinência e parece um pouco intolerante em relação à diversidade.

Adam, o mais bem-dotado da série, que na primeira temporada tinha um comportamento homofóbico e na segunda se envolveu com sua vítima Eric, é provavelmente o personagem que mais cresce ao longo do programa. Ele luta para assumir sua homossexualidade, depois para admitir que é passivo e por fim descobrir sua verdadeira vocação.

Há um momento em que o coral ensaia a subversiva Fuck the Pain Away, da cantora Peaches, e essa sequência é simplesmente sensacional. No entanto, é interrompida pelas novas normas da direção da escola, que quer ‘encaretar’ o coral, o fazendo cantar em latim.


A propósito da trilha sonora, este ano a série caprichou nos hits do presente e do passado. Tem Yello, Doris Day, Duran Duran, Todrick Hall, Bob Dylan, Blur, Etta James, Ezra Furman, Le Tigre, David Bowie, Queen, Nancy Sinatra, Kelis, Aimee Mann, com a linda Save Me, da trilha de Magnólia(1999), e muito mais.

A personagem Cal(Dua Saleh) entra para debater não binariedade. E isso fica muito claro quando discute sobre pronomes ou então questiona o uso obrigatório do uniforme, já que não se enquadra em usar roupas justas. “Como você define correto?”, indaga.

Ruby mostra certa vulnerabilidade quando leva Otis para conhecer sua casa, algo que não tinha feito com ninguém por vergonha, mas não escuta o desejado ‘eu te amo’ e a relação não vai para frente. Otis segue apaixonado por Maeve.

Mesmo mantendo sempre o bom humor, com piadas de cocô e cupcakes de vagina, a série não deixa de abordar temas delicados, como abuso, sexo com portadores de deficiência, e assuntos necessários como prevenção e PrEp. Gillian Anderson segue brilhando como a esclarecida sexóloga Jean Milburn, que agora passa por uma gravidez na maturidade.

Viv(Chinenye Ezeudu), a puxa-saco oficial de Hope, também ganha um arco na trama, já que após ser eleita a líder estudantil, ela descobre que está sendo usada pela diretora por sua imagem de negra batalhadora e isso desencadeia eventos fundamentais par a trama.

A mais fetichista das fantasias, a da personagem Lily(Tanya Reynolds), que sonha e desenha extraterrestres é mais explorada dessa vez, e há até um trecho animado, no início de um episódio, ilustrando seus desenhos alienígenas e eróticos. Porém essa sua diferença é usada contra ela, e também faz a namorada Ola(Patricia Allison) se questionar sobre o relacionamento.

O episódio mais divertido e revelador é com certeza quando a turma embarca numa viagem de ônibus à França com seus dois atrapalhados professores. Eric vai para um casamento na Nigéria e Adam tem a oportunidade de conhecer melhor o ex de seu atual Rahim(Sami Outalbali), e criar uma bonita e inusitada amizade. Mas atenção para o SPOILER: Neste capítulo acontece o esperado beijo e possível acerto entre Otis e Maeve, que a essas alturas está envolvida com o deficiente Isaac(George Robinson).

Hope, quase uma vilã de novela mexicana, começa a perder o controle da escola, quando todos os alunos se rebelam contra ela, que quer transformar o colégio na Academia Sparkside, com punições bizarras e incentivo à abstinência.

Alguns personagens secundários, como a mãe de Maeve, dependente química, e o Sr. Michael Groff(Alistair Petrie), o antigo diretor da escola que não consegue emprego em lugar nenhum, descobre o prazer na cozinha, e têm o seu arco de redenção.

Com 08 episódios, de cerca de 1h, a série, criada por Laurie Nunn, para a Netflix, chega ao seu último episódio iluminada pela chegada de um bebê. Os personagens resolvem suas relações voláteis, para sim ou para o não e resplandecem em cenas que enchem os olhos. Como seus atores já estão bastante maduros para seguir no ensino-médio resta saber se haverá uma nova temporada, ganchos ficaram, mas caso não haja Sex Education encerra o círculo dramático de seus protagonistas com uma excelência até então inédita.

domingo, 19 de setembro de 2021

Um Ano de @cinematografiaqueer



O blog surgiu um pouco antes, veio da necessidade de falar sobre Dor e Glória(2019), de Pedro Almodóvar. Meses depois surgiu o perfil no Instagram, o @cinematografiaqueer, que hoje completa um ano desde seu primeiro post. Nesse período foram feitas atualizações diárias, centenas de filmes, dos mais variados gêneros e nacionalidades, dezenas de séries, de listas e alguns especiais. Mas sobretudo esse tornou-se um lugar para contar histórias. Histórias de amor, de dor, de terror, de luta, de transformação, de preconceito, aceitação mas especialmente de superação. Este projeto me possibilitou crescer como cinéfilo, imergindo na história do cinema queer e adentrando no mundo de novos diretores, movimentos e eventos. O trabalho é árduo, mas a recompensa em difundir a cinematografia LGBTQIA+ é enorme. É uma satisfação e uma honra quando alguém assiste os filmes aqui indicados. Para celebrar a data, listamos os 12 filmes mais amados do nosso perfil no Instagram:


O primeiro longa da aclamada diretora Céline Sciamma, se passa no subúrbio de Paris, durante o verão. Marie (Paulien Acquart), Anne (Louisse Blachère) e Floriane (Adele Haenel) são amigas e têm 15 anos. Elas praticam nado sincronizado e, enquanto convivem pelos corredores e vestiários da academia, começam a ter os primeiros sentimentos de desejo, amor e violência.


Na obra mais obscura de Pedro Almodóvar, Antonio Banderas interpreta um cirurgião que mantém uma mulher como refém ao mesmo tempo que se apaixona por ela. Aos poucos passamos a entender a trama sombria que ronda o filme protagonizado por Elena Anaya e com Marisa Paredes, com quem o cineasta não trabalhava desde Tudo sobre minha mãe(1999), no elenco. O plot é simplesmente perturbador e aproxima muito Almodóvar de um filme de terror. Genial!


Adaptação para o cinema do livro de Pedro Lemebel, o filme é ambientado na primavera de 1986, com Pinochet no regime do Chile. O longa conta a história de La Loca del Frente, interpretada pelo grande ator Alfredo Castro, uma travesti envelhecida, solitária e fisicamente miserável que mora em um bairro pobre de Santiago, ouvindo boleros para afogar o barulho de tiros de policiais lá fora. O longa narra paralelamente a história de amor platônico entre La Loca e um membro da resistência armada a Pinochet que está preparando o ataque verídico, de 1986, ao ditador.


Nesta livre adaptação do filme italiano O Primeiro que disse(2010), de Ferzan Ozpetek, Mário (Daniel Rocha) é um jovem escritor que resolve oficializar a relação com Fernando (Felipe Abib), seu namorado e diretor da companhia de teatro em que trabalham no Rio de Janeiro. Mário viaja para o Sul, decidido a revelar sua verdadeira identidade para o pai, Antonio (Zé Victor Castiel), que desconhece tanto sua profissão quanto sua orientação sexual. No entanto, algumas reviravoltas do destino farão com que estas revelações sejam adiadas. Destaque para a luminosa participação de Nany People.


A história, do segundo longa de Francis Lee, se passa em 1820, no Reino Unido. A trama acompanha o romance entre a paleontóloga Mary Anning (Kate Winslet), que faz importantes descobertas científicas de fósseis marinhos de amonite, um tipo de molusco, ao longo do Canal da Mancha, e uma jovem londrina, Charlotte(Saoirse Ronan), que vive junto ao mar enquanto sua saúde se recupera.


Na aclamada adaptação do diretor italiano Luca Guadagnino, para o romance de André Aciman, o sensível e único filho da família americana com ascendência italiana e francesa Perlman, Elio (Timothée Chalamet), está enfrentando outro verão preguiçoso na casa de seus pais na bela e lânguida paisagem italiana. Mas tudo muda quando chega Oliver (Armie Hammer), um acadêmico que veio ajudar a pesquisa de seu pai. Later!


Forçado a desistir da escola de artes, Zach passa seus dias trabalhando num emprego sem futuro e ajudando sua irmã a cuidar do filho dela. Nas horas livres ele surfa, desenha e sai com seu melhor amigo, Gabe, que mora no lado nobre da cidade. Quando o irmão mais velho de Gabe, Shaun, volta pra casa, ele é atraído pela falta de autoestima e o talento de Zach. Zach se apaixona por Shaun enquanto luta para reconciliar seus próprios desejos com as necessidades de sua família.


Estrelado por Mario Casas e Ana de Armas, o longa de Alfonso Albacete e David Menkes, mergulha no soturno mundo das drogas sintéticas. Um grupo de jovens se prepara para o verão de suas vidas, cheio de segredos, mentiras, sexo, confusão e noitadas de muita festa. Eles não sabem que uma vez que dão inicio a esta viagem de descobertas, não se pode voltar atrás, já que as mentiras que são contadas ficam maiores e que o significado de amar também pode ser sofrer.


O filme. de Eugen Jebeleanu, segue a luta de um jovem policial romeno, Cristi, que tenta encontrar o equilíbrio entre duas partes aparentemente opostas de sua identidade: a de um homem que trabalha em um ambiente hierárquico machista e a de um gay enrustido que tenta manter sua vida pessoal em segredo. Enquanto seu namorado francês de longa distância, Hadi, o visita, Cristi é chamado para uma intervenção em um cinema, onde um grupo ultranacionalista e homofóbico interrompeu a exibição de um filme queer. Depois que um dos espectadores, um ex-amante, reconhece Cristi, o protagonista perde o controle.


A versão estendida do curta de Daniel Ribeiro, recebeu o Teddy, no Festival de Berlim.  O longa acompanha Leonardo(Ghilherme Lobo), um adolescente cego que, como qualquer jovem, está em busca de seu lugar. Desejando ser mais independente, precisa lidar com suas limitações e a superproteção de sua mãe. Para decepção de sua inseparável melhor amiga, Giovana(Tess Amorim), ele planeja libertar-se de seu cotidiano fazendo uma viagem de intercâmbio. Porém a chegada de Gabriel(Fábio Audi), um novo aluno na escola, desperta sentimentos até então desconhecidos em Leonardo, fazendo-o redescobrir sua maneira de ver o mundo.


Um menino ruivo joga na rua, ele sorri para outro que faz seu coração começar a palpitar. Seu coração salta do peito e persegue o outro menino, na corrida atrás do órgão os dois garotos se esbarram e quase se beijam.Mas o coração insiste e segue perseguindo o menino até que na escola, com todos vendo, ele e o ruivo partem o coração. O curta de apenas 4 minutos é lindo demais, e deveria ser obrigatório nas escolas por mostrar a diversidade com tanta sensibilidade e doçura.


O filme é baseado no Baile dos Quarenta e Um, que foi um escândalo da sociedade no México. no início do século XX. O incidente girou em torno de uma operação policial ilegal realizada em novembro de 1901 em uma casa particular na Cidade do México. O escândalo envolveu o fato de que, do grupo de homens que compareceu, 19 estavam vestidos com roupas femininas. Apesar dos esforços do governo para abafar o incidente, a imprensa fez questão de relatar o ocorrido, já que os participantes pertenciam aos escalões superiores da sociedade, incluindo o genro do Presidente do México, Porfírio Diaz. Este escândalo foi único porque foi a primeira vez que se falou abertamente sobre homossexualidade na mídia mexicana e teve um impacto duradouro na cultura do país. Estrelado por Alfonso Herrera e Emiliano Zurita.

sábado, 18 de setembro de 2021

Todos Estão Falando sobre Jamie(Everybody's talking about Jamie, EUA/Reino Unido, 2021)



No dia de seu aniversário de 16 anos, Jamie(Max Harwood) ganha um par de sapatos altos, vermelhos e cintilantes, como os de Dorothy, de O Mágico de Oz. O sonho do garoto, do interior da Inglaterra, é ser uma verdadeira Drag Queen, e sua mãe Sarah (Sarah Lancanshire) lhe ajudará nessa jornada com muito amor.

Baseado no musical de mesmo nome, que por sua vez foi inspirado em um documentário de 2011, Jamie: Drag Queen: at 16,  a história real contada na produção, da Amazon Prime Vídeo, dirigida por Jonathan Butterell, traz letras de empoderamento escritas por Tom MacRae, que também assina o roteiro.

Quando se sente pressionado, Jamie, imagina números lúdicos, coloridos e onde todos dançam e celebram sua identidade. Na vida real, porém não é bem assim, o personagem sofre com a homofobia vinda de seu pai Wayne(Ralph Ineson), e por parte do corpo docente da escola onde estuda.

No dia em que vai comprar seu primeiro vestido, Jamie acaba conhecendo Hugo, o ator Richard E. Grant, uma drag queen veterana, Loco Chanele, que lhe ensinará o passo a passo para subir nos palcos.

A entrada da personagem, traz um dos números mais comoventes, com supostas imagens de arquivo, da metade do final dos anos 1980 e início dos 1990, onde mostra, em meio a morte de Freddie Mercury e a filantropia de Lady Di, que seu parceiro partiu de AIDS.


Cheio de referências à cultura POP, que vão de Roy Lichtenstein, Madonna a Picasso, o filme possui uma estética fabulosa, de videoclipe, graças a direção de fotografia de Christopher Ross. Há musicais para todos os gostos, há também o bonito momento de empoderamento da amiga mulçumana de Jamie, Pritti(Lauren Patel).

“Drag Queens não usam a palavra eu não consigo” e com esse conselho que Jamie passa a seguir a vida, para quem sabe um dia ser como Bianca del Rio. A propósito, a ganhadora da sexta edição de RuPaul’s Drag Race, faz uma breve aparição no filme montada e também como o professor de artes.

Quando Jamie vai ao baile de vestido, temendo a reação do popular Dean Paxton(Samuel Bottomley) e dos demais, é apoiado por todos e entra na festa contra a vontade da professora, dando o primeiro passo para uma nova vida. Lúdico, o filme é quase como um sonho bom, livre, leve, colorido e mágico, como só o cinema musical consegue ser. No final todos falarão sobre o protagonista e sua bonita jornada de transformação.

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Pit Stop(EUA, 2013)



Pit Stop, um filme lírico e de baixo orçamento de Yen Tan, que anos mais tarde dirigira o delicado O Ano de 1985(2018), pinta um retrato da vida de gays em cidades pequenas. Segundo o diretor, que é de origem malaia, a ideia veio enquanto fazia uma viagem e observava o interior dos Estados Unidos.

O filme acompanha a história paralela de dois personagens. Gabe (Bill Heck) está morando com sua ex-mulher, com quem está criando uma filha. Ele saiu recentemente de um relacionamento com um homem casado. Ela está namorando, mas ainda o ama.


Ernesto (Marcus DeAnda) está terminando com seu namorado Luis(Alfredo Maduro), muito mais jovem. Ele também cuida de um ex-namorado que está em coma, numa possível referência ao clássico Buddies(1985).


Pit Stop vai e volta entre a vida cotidiana desses homens muito solitários, que anseiam dolorosamente pelo certo. À primeira vista, as histórias podem parecer desconexas, mas o destino, nos mostra mais tarde que tem algo reservado para Gabe e Ernesto.



Os protagonistas transmitem habilmente a dolorosa solidão da vida gay masculina na pequena cidade do Texas. O vilarejo tranquilo que eles chamam de lar é, como tantos outros, um lugar onde se assumir não é uma opção. 


Um aspecto impressionante de Pit Stop é o quão bem desenvolvidos são os personagens secundários. Quando a ex-mulher de Gabe, Shannon (Amy Seimetz) sai com uma colega de trabalho, o público vai junto com ela. O diretor permite que vejamos como tem sido difícil deixar o homem que ama e se conectar com alguém novo.


O longa, roteirizado por Tan, em parceria com David Lowery, é bem-sucedido como um estudo da universalidade de sair e entrar em relacionamentos, capturando as pessoas conforme elas decidem que precisam conhecer outras, mas ainda não estão totalmente prontas para isso.

No Pit Stop, a solidão e o amor abrangem idade, orientação, cor da pele e classe. O longa  é um filme escuro e intenso que, faz um verdadeiro estudo da psique humana, lembrando os espectadores como podemos ser parecidos, enquanto seres humanos. 


quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Dragonfly Boy(EUA, 2021)

Graham, de apenas 21 anos, está atualmente em uma batalha sobre quem ele é e quem ele ama. Em um mundo cheio de opiniões e ódio de si mesmo, vemos como ele enfrenta essa luta e como ele cresce consigo mesmo e com as pessoas incríveis ao seu redor.  Destaque para a trilha sonora com Beatles, Yeah Yeah Yeahs, Etta James e M83. Disponivel no Youtube.

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Meu 1º Verão (My First Summer, Austrália, 2020)



Entramos no filme, de Katie Found, através da reclusão de uma floresta coberta de vegetação, lar de Claudia(Markella Kavenagh), de dezesseis anos, e de sua falecida mãe. Sua morte é representada por closes de um vestido amarelo engolfado em um reservatório próximo, para grande angústia de Claudia, o corpo afundando de sua mãe cintila em uma moldura, cortando o presente.

Sem experiência além deste espaço idílico, Claudia lamenta a ausência de seu único ente, junto do cachorro. Mais implicitamente, ela avalia a desestabilização incorrida pela morte de sua mãe. O que há para a vida fora deste reino protegido da infância? Voltando para dentro com tristeza, ela inadvertidamente aguarda a possibilidade de uma nova chegada, que assume a forma de Grace (Maiah Stewardson), uma jovem de espírito livre que se arrisca de forma surrealista no mundo de Claudia, só por curiosidade.


Grace simboliza um exagero da feminilidade adolescente. Ela monta pulseiras com letras e ela mesma é decorada com todos os ornamentos da infância: tutus, brincos grandes, colares de doces e anéis. À medida que sua aparição repentina perturba o estilo de vida de Claudia, ela traz consigo um senso de suavidade: ela adoça o ar.


Instintivamente, e a pedido de Grace, as duas garotas passam os dias de verão juntas sob as ameixeiras. Aprendendo uma sobre a outra em doses graduais e delicadas, elas rapidamente reconhecem que suas diferenças exteriores se manifestam de maneiras semelhantes.


Ambas vivenciam pais ausentes, literal ou emocionalmente, uma ideia há muito estabelecida no cinema queer. A presença dessa ideia não representa meramente aqueles rejeitados por seus pais com base em sua homossexualidade, possibilita o reino utópico e onírico em que as meninas coabitam, o que elas criaram juntas.

Elas tomam banho, fazem artesanato, tomam um gole de leite com morango, que segundo Grace tem gosto de beijo, elas inocentemente exploram a mente e o corpo uma da outra de uma forma totalmente nova. Livres de forças externas, elas não tratam de sua sexualidade. A gravitação mútua é intuitiva.


Sua conexão é inconfundivelmente tátil, embora suas materializações precisas evoluam ao longo do filme: por meio de imagens de flores, o sopro da natureza e de mãos se tocando. Salvando a impermanência de seu mundo próprio muito parecido com o verão, certamente a magia está em seu fim inevitável, as duas garotas passam a formar duas metades de um todo, desimpedidas pela ameaça de sua separação agora inconcebível.


Além do esplendor romântico do primeiro amor, Meu 1º Verão é visivelmente inspirado na literatura de Virginia Woolf, cópias de seus romances apimentam a mise-en-scène, a morte da mãe de Claudia é idêntica ao suicídio da própria escritora. Com um conjunto de performances requintadas, o filme nos delicia com criatividade e conexão - ele nos submerge na ternura de sua filmagem: para experimentar, ser colorido, bagunçado e livre.



terça-feira, 14 de setembro de 2021

Joe Bell(EUA, 2021)



Os créditos de abertura de Joe Bell mostram que o filme é baseado em uma história real. O drama, do diretor Reinaldo Marcus Green, escrito por Diana Ossana e Larry McMurtry, roteiristas de O Segredo de Brokeback Mountain, se esforça para fazer justiça para Joe Bell, personificado por Mark Wahlberg, um homem de Oregon que em 2013, começou a caminhar pelos Estados Unidos para chamar a atenção para o bullying depois que seu filho, Jadin(Reid Miller), foi implacavelmente ridicularizado e intimidado na escola por ser gay.

Uma história sincera e emocional de um homem lutando para chegar a um acordo com o que aconteceu com seu filho e com sua própria cumplicidade nisso. Logo descobrimos que Jadin, se suicidou, e que o garoto que o acompanha na estrada, cantando Lady Gaga e divagando, é na realidade fruto de sua imaginação ou numa hipótese mais mística, o espírito do jovem.


O filme segue Joe em sua caminhada, mas preenche a história com muitos flashbacks, começando com a vez que Jadin contou a seu pai sobre o bullying, mas Joe só queria que seu filho endurecesse. "Tudo vai dar certo", diz ele, ansioso para voltar para a nova TV de tela grande na outra sala, que está passando o jogo de futebol.


Joe percorreu uma boa distância física e mental desde aquele momento, mas a culpa pesa enquanto ele faz seu caminho através de Utah e entra no Colorado, adquirindo certo reconhecimento ao longo do trajeto, onde recebe a visita da esposa Lola(Connie Britton) e do filho caçula.


Os flashbacks ficam mais brutais e mais extensos - a longa seção central do filme é quase toda por meio dessa narrativa intercalada, com seu melodrama urgente em sua maior parte menos convincente do que a interação sutilmente mutável entre Joe e Jadin.

A espinha dorsal do filme, que é a caminhada de Joe, é uma busca amplamente solitária, mas para que possamos acompanhar seu progresso, Joe precisa ter momentos em que interage com outras pessoas sobre o que ele está passando, seja uma conversa na estrada ou uma visita a um bar de drag queens. Algumas dessas conversas mostram seus pontos de maneira sutil, mas outras explicam tudo de uma forma que fazem um trabalho emocional muito pesado.