Uma transexual envelhecida e um guerrilheiro tornam-se companheiros improváveis no drama chileno Tenho Medo Toureiro. Esta adaptação do romance de Pedro Lemebel foi transformada em um filme atmosférico pelo escritor e diretor Rodrigo Sepulveda, que trabalha com o grande ator chileno Alfredo Castro, de O Príncipe e De Longe te Observo, como a protagonista La Dueña ou a Louca da Frente.
A história se desenrola na preparação para o atentado contra a vida de Pinochet, em 1986, pela Frente Patriótica Manuel Rodríguez. La Dueña mora na parte errada de Santiago, em um apartamento burguês, rico em detalhes, que foi abandonado após o terremoto de 1985.
Ao fugir de uma batida policial em um bar gay, a Louca consegue escapar dos policiais graças a um bonito mexicano, Carlos (Leonardo Ortizgris). Não demora muito para que o barbudo bata na porta da trans para pedir abrigo para seus amigos comunistas. “Se algum dia houver uma revolução das bichas loucas, me avise”, diz ela.
A relação entre a Louca, que se prostituia na saída de um cinema pornô e agora é costureira, e Carlos lembra bastante O Beijo da Mulher Aranha, até mesmo na aparência, nos diálogos e no caráter dos personagens, Ortizgris parece muito com Raul Julia e seu preso político do filme de Hector Babenco.
Mesmo sabendo dos riscos que irá correr, a Louca ajuda Carlos e seus amigos e conclui que podem haver comunistas homossexuais. Seu palácio, se torna refúgio para revolucionários e anarquistas e a personagem está imediatamente num grupo, que além de marginalizado, é buscado pelo governo.
Tengo Miedo, Torero é também o nome de uma canção de Lola Flores, musa de Pedro Almodóvar, que é entoada em momentos chaves do filme. A trilha sonora ainda referencia o cineasta espanhol em uma belíssima cena ao som de Llorona de Chavela Vargas. Há também Peggy Lee, Elis Regina e Paquita la del Barrio.
Carlos e La Dueña vivem uma relação complexa que é permeada por uma forte tensão sexual. Um piquenique e uma surpresa de aniversário depois do meio do caminho dão a trans uma forte esperança de consumar sua paixão clandestina.
Encontrar o equilíbrio certo entre a exuberância de uma transexual e seu cansaço do mundo é complicado, mas Castro acerta isso, renunciando a qualquer exibicionismo ou maneirismo e expressando as inseguranças da personagem principalmente em seus olhares e silêncios. O papel lhe rendeu os prêmios de Melhor Ator e Melhor Performance, no Festival Internacional de Cinema de Guadalajara, no México, em 2020.
O "casal improvável" tá muito bem na foto
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