segunda-feira, 17 de maio de 2021

El Baile de los 41(México/Brasil, 2020)

Em 1901, um escândalo abalou o México. Quarenta e duas figuras influentes da elite foram reprimidas pela autoridade policial em uma festa homoerótica, onde faziam números burlescos e se vestiam de mulher, entre eles estava o genro do Presidente Porfirio Diaz(Fernando Becerril). É nesse contexto, conservador e histórico, que o longa de David Pablos acontece.

Conhecemos Ignacio de la Torre, interpretado por Alfonso Herrera de Sense 8 e da novela teen Rebelde, um jovem político que aspirando um cargo ainda maior se casa com Amada Díaz(Mabel Cadena), a filha do presidente. Porém, quando se torna deputado, surge uma paixão avassaladora pelo advogado Evaristo(Emiliano Zurita).


Sem satisfazer Amada na cama, Ignacio passa as noites reunido no clube, onde introduz Evaristo: “Soy maricón” diz ele, com orgulho, para que possa ser aceito. Há um contraste berrante entre as apáticas, e até sofridas, cenas de sexo com Amada, e as orgias dionisíacas acontecidas entre os homens.


Vemos que a linha dos olhos entre Evaristo e Ignácio é sustentada pelo amor e pela sensação de liberdade, enquanto a de Amada e seu marido pelo ódio e repúdio. Às vezes são olhares fortes e outros sutis. Com o mesmo ritmo, um acontecimento histórico que chocou a sociedade da época retrata a moralidade dos personagens transformistas e homossexuais e questiona o poder discriminatório que ainda hoje se mantém.


Tecnicamente o filme é lindo, a fotografia, de Carolina Costa, recria cenários opulentes e suntuosos de um México próspero e antiquado. A cinematografista combina espaços escuros com as salas clássicas explodindo de luz os personagens enlouquecidos. Todo segredo é escuro e toda liberdade é luz. 


Louváveis também são as cenas homoeróticas, mostrando que há muita delicadeza no sexo masculino, além de todo o aspecto teatral, burlesco e até mesmo lúdico, das reuniões com danças e cantos homossexuais que transmitem, naquele momento, uma sensação catártica de independência.


Das lágrimas de Alfonso Herrera surge uma cena intensa dele se maquiando e se preparando para o fatídico baile. Da mesma forma, há uma linguagem interessante nas longas abordagens às ações de Ignacio de la Torre para ascender em sua carreira política, especialmente, cada vez que seu companheiro de cena é Pofirio Diaz. Sua homossexualidade, no entanto, o impedirá de grandes pretensões.


Imponente, El Baile de los 41, é a soma de diversos fatores que deram certo. Contextualizar um fato histórico e relacionar com a repressão que até hoje é sofrida é uma analogia muito inteligente feita pelo roteiro brilhante, de Monika Revilla, que constrói uma dinâmica reflexiva e uma necessidade absurda de aplaudir essa pérola do cinema mexicano ao final.


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