terça-feira, 26 de outubro de 2021

As Boas Maneiras (Brasil/França, 2017)

As Boas Maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra, é uma mistura fascinante de terror, fantasia e musical que vai do humor ao comovente, do romântico ao trágico, tudo isso mantendo o senso de conto de fadas.

Na trama, uma mulher chamada Clara (Isabél Zuaa), precisando muito de dinheiro, arruma um emprego como babá da futura mãe solteira Ana, Marjorie Estiano em uma grande atuação. Clara é pobre, lésbica, negra - e Ana - uma rica socialite heterossexual branca.

Ambas parecem ter pouco em comum, mas as duas compartilham uma solidão que as aproxima. O vínculo delas é posto à prova, no entanto, quando Ana começa a exibir um comportamento estranho a cada lua cheia, que vai muito além dos desejos habituais de gravidez.


As Boas Maneiras é carregado de charme e coração surpreendentes. O filme tem o brilho de uma grande produção completa, com excelentes efeitos práticos de CGI, e cinematografia exuberante, de Rui Poças, que pinta São Paulo como um reino urbano mágico enluarado. 



O roteiro, escrito pelos realizadores, nunca menciona abertamente a questão racial, mas a disparidade entre as duas mulheres em As Boas Maneiras fala por si. Da mesma forma, sutis são os comentários e metáforas do filme sobre classe, orientação sexual e gênero.

Porém tudo é maravilhosamente matizado, assim como os próprios personagens são matizados, suas camadas vão se desfazendo conforme a história se desenrola para revelar uma profundidade inesperada em uma trama, onde não vale revelar detalhes.


Ao lado de O Animal Cordial(2017), o filme é um dos projetos mais impressionantes e audaciosos dos últimos anos, o que demonstra o alto nível do cinema nacional atual. Com algumas curvas muito bem trabalhadas  passamos por diferentes gêneros cinematográficos com situações próximas de ficção científica e muito suspense.


O projeto trabalha em diálogos dramáticos, situações românticas e momentos de humor (há muita ironia no filme) graças ao texto original e às interpretações, principalmente das duas atrizes. O surpreendente do filme é que não permanece uma simples história de roteiro e interpretações, mas ele é muito bem trabalhado e muito detalhado nos aspectos artísticos, como a recriação dos cenários, a direção de arte, a obra dos técnicos, maquiadores e figurinistas. 

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